Hábitos saudáveis têm mais chances de acompanhar a população durante a vida se começarem logo na infância. Por isso, é preciso chamar atenção para a qualidade de vida e rotina alimentar balanceada. A estimativa é que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade.
Em todas as faixas etárias e de renda, houve um aumento substancial de pessoas com excesso de peso. Apresentam sobrepeso 30% das crianças (5 e 9 anos) e 20% da população (10 e 19 anos). Acomete as mulheres (48%) e os homens (50,1%) acima de 20 anos. Entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população acima de 20 anos.
A obesidade tem múltiplas causas, resultado da interação entre genes, ambiente e estilo de vida. Uma criança obesa pode se tornar um adulto obeso, em que certamente doenças cardiovasculares surgirão décadas mais tarde. Por isso é importante salientar que devem ser postos em prática esforços no sentido de se adequar o peso, principalmente de crianças, para se evitar efeitos deletérios ao curto, médio e ao longo prazo.
Leia mais:O excesso de peso em crianças e adultos tem aumentado de forma significativa. É definido como o acúmulo de tecido gorduroso corporal ocasionado por desequilíbrio nutricional, associado ou não a distúrbios genéticos e/ou endócrinos. Quando ocorre o sobrepeso ou a obesidade é importante investigar doenças associadas.
O risco do excesso de peso em que nenhum dos pais é obeso é de 9%, entretanto quando ocorre em um dos genitores sobe para 50%, e atinge 80% quando ambos têm obesidade. A probabilidade de uma criança permanecer com excesso de peso na idade adulta varia de 20% a 50% quando a obesidade inicia antes da puberdade, e de 50% a 70% quando surge após a puberdade.
Esses números reforçam a importância de ter ambientes saudáveis e promover a educação alimentar desde cedo pode evitar doenças que podem acompanhar durante o desenvolvimento e ao longo de toda a vida, afetando o desempenho escolar e aumentando o risco de vários agravos.
Não existe nenhum tratamento específico ou medicamentoso ao longo prazo que não envolva mudanças no estilo de vida. As famílias gradualmente substituem a alimentação tradicional (arroz, feijão, hortaliças) por bebidas e alimentos industrializados, como refrigerantes, biscoitos, carnes processadas e comida pronta. Mais calóricos e palatáveis, em muitos casos, são menos nutritivas.
A prática regular de exercícios físicos não faz parte dos hábitos do brasileiro, apenas 10,2% acima de 14 anos tem atividade física regular. É evidente que o aumento de exercícios físicos é determinante para perda de peso. Em crianças a cirurgia bariátrica (redução de estômago) somente pode ser considerada como hipótese de tratamento em adolescentes quando já tenham encerrado a fase de crescimento, devendo estar restrita a centros especializados e com indicações precisas.
A perda de peso sustentada é benéfica para se evitar doenças associadas como diabetes tipo II, hipertensão arterial e dislipidemia. Aos obesos infantis sugere-se investigar doenças ortopédicas, gordura no fígado, refluxo gastroesofágico, cálculos na vesícula biliar, ovário policístico e falsa mama no sexo masculino.
A habilidade em atingir a manutenção da perda de peso clinicamente estável é valiosa. Por este motivo é sempre bom lembrar que a obesidade é uma doença crônica que tende a reaparecer após a perda de peso. Sempre é exigida da pessoa envolvida a disciplina e a vigilância constantes. Tem sido um desafio mundial, pelo que representa de redução na expectativa de vida e nos custos dos serviços de saúde.
O sucesso da perda de peso, ao longo prazo, depende de uma constante vigilância na adequação do nível de atividade física e da ingestão de alimentos durante toda a vida, além do apoio social e familiar, e, a auto monitorização. As pessoas obesas devem ter apoio em profissionais da saúde, principalmente o endocrinologista e o nutricionista, ou o médico nutrólogo.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.