Já pensou em criar abelhas sem ferrão em casa? Pois bem, a atividade, conhecida como meliponicultura, tem aumentado consideravelmente em Marabá (e em todo o país) nos últimos anos. Sustentável e grande colaboradora da preservação das espécies vegetais e do equilíbrio biológico dos diferentes biomas brasileiros, a meliponicultura tem tomado novas proporções, já que técnicas de produção e manejo sustentável de alta tecnologia tem sido desenvolvidas.
Além de gerar produtos e riquezas, promovendo o aumento da atividade apícola, a meliponicultura mantém a biodiversidade, pois as abelhas nativas têm a capacidade de polinizar, aumentando a disponibilidade de frutos e sementes, e a manutenção dos ecossistemas.
Em Marabá, a Secretaria Municipal de Agricultura estima que aproximadamente 30 novos produtores de abelhas nativas sem ferrão aderiram à atividade nos últimos dois anos.
Leia mais:Com quarenta meliponicultores cadastrados, a Seagri iniciou o trabalho com a doação de materiais para a construção de meliponários, como: telhas, madeiras, caixas, folhas de acetato e enxames de abelhas melíponas. Além disso, o órgão realiza orientações técnicas, tanto de assistência como de manejo.
Segundo dados da secretaria, uma das áreas que mais têm crescido em Marabá em relação à meliponicultura é a região do Tapirapé, na zona rural.
O CORREIO foi até o Campus Rural do Instituto Federal do Pará (IFPA) para conhecer um meliponário e conversar com Sávio Coelho, técnico em agropecuária e responsável pelas abelhas do local. Membro do Departamento de Integração, Ensino, Pesquisa e Extensão da instituição, ele relembra que os estudos das abelhas sem ferrão iniciaram em meados de 2018, após ser observada a carência na unidade de ensino.
“Todas as colmeias foram doadas por agricultores da região e parceiros. A Embrapa, através do projeto Agrobio, nos beneficiou com alguns materiais e capacitações. Também temos uma parceria muito boa com a Emater e a Secretaria de Agricultura”, explica.
Questionado sobre as abelhas sem ferrão, Sávio ressalta que na verdade elas possuem ferrão, mas atrofiado por conta do processo evolutivo. Ele observa que essas espécies foram se alojando em troncos de árvores grossos e perceberam que o ferrão não era utilizado.
Com a facilidade do manuseio dessas abelhas, não é necessário utilizar nenhum equipamento de proteção individual e elas podem ser criadas, inclusive, no quintal de casa.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveu uma tecnologia que consiste na criação em caixas racionais, causando poucos distúrbios à colônia e facilitando a colheita do mel, tornando muito mais rápida e higiênica.
“Abelha não faz mal, abelha faz mel”
A produção de mel das abelhas sem ferrão é menor do que das abelhas com ferrão. Sávio exemplifica que uma colmeia das abelhas sem ferrão, da espécie tiuba ou boca de renda, tem aproximadamente de 800 a mil abelhas, e produzem em média um litro de mel por ano.
“As abelhas com ferrão ficam em aproximadamente 60 mil indivíduos na colmeia e produzem de 15 a 18 litros de mel aqui na região. Então, se você fizer uma comparação entre uma com ferrão e sem ferrão, as abelhas sem ferrão produzem mais, porque se mil abelhas sem ferrão produzem 1 litro por ano, 60 mil abelhas deveriam produzir 60 litros”, calcula.
Entretanto, muito além do mel, as abelhas possuem um papel fundamental na natureza no processo de polinização e conscientização dos agricultores que, a partir do processo de criação das abelhas, começam a repensar suas estratégias de produção, tendo um cuidado ainda maior pela não utilização de veneno, por exemplo.
Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), a criação de abelhas sem ferrão é uma realidade no estado e chega a ser 30 vezes maior que a de abelhas com ferrão.
Tão ou mais importante do que o saboroso mel coletado dos favos, é o serviço ecológico que as abelhas sem ferrão prestam. De flor em flor, elas transportam o pólen que garante a formação de frutos e sementes e o nascimento de novas plantas.
Os produtores rurais adeptos à meliponicultura sustentável, além de diversificar suas atividades econômicas, têm ajudado na preservação dos recursos naturais. (Ana Mangas)