Acredite: 54 detentos que estavam cumprindo pena no Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes (Crama) conseguiram pular o muro da área do semiaberto e fugir do complexo penitenciário. Até o início da noite de ontem (27), cerca de 20 haviam sido recapturados. A rebelião teve ajuda externa de outros criminosos que foram resgatar comparsas presos ali. A fuga se registrou no final da tarde da última terça-feira (26). O saldo do resgate/fuga foi um sargento da Polícia Militar baleado e dois detentos mortos a facadas no interior da cadeia.
De acordo com as informações da polícia, a fuga aconteceu por volta das 17h, no momento em que agentes prisionais faziam a tranca de detentos dos pavilhões A e B e foram rendidos por dois detentos do pavilhão B que estavam armados e começaram a libertar outros internos para tentar empreender fuga pela área do semiaberto.
Segundo o coronel Mauro Moreira Matos, diretor geral penitenciário da Susipe-PA, foi constatado que havia apoio de criminosos do lado de fora, que também estavam armados e atiraram contra os policiais que estavam fazendo a guarda, neutralizando uma das guaritas. Nessa troca de tiros o sargento Muniz, da Polícia Militar, foi baleado com um tiro na cintura, mas ele foi socorrido e está fora de perigo.
Leia mais:Quando o apoio da Polícia Militar chegou ao local, a fuga foi contida e com a recontagem foram identificados um total de 58 foragidos, mas desse total dois foram encontrados mortos na área do regime semiaberto. Os mortos foram identificados como Elton Silva dos Santos, de 29 anos, e Claudiomiro Ferreira de Sousa. Eles foram amarrados e esfaqueados. As mortes podem ter sido resultado de acerto de contas entre facções inimigas dentro do Crama, cujos algozes aproveitaram o motim para se vingar dos desafetos.
No final da manhã de ontem, autoridades da Polícia Militar, Polícia Civil e Superintendência do Sistema Penal do Pará (Susipe-PA) convocaram a Imprensa para falar sobre quais providências seriam tomadas.
De acordo com o coronel Franklin Roosevelt Wanzeler Fayal, comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar, imediatamente após a fuga, foram acionados mais de 50 policiais em 15 viaturas que começaram a fazer varreduras na área na tentativa de localizar alguns detentos. A ação conseguiu recapturar logo um detento nos primeiros momentos de busca, enquanto outro foi preso no comecinho da manhã.
Ainda de acordo com o coronel, o helicóptero do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) também foi acionado para fazer as buscas aos foragidos da casa penal. Além disso, militares de outros municípios também foram mobilizados para dar apoio na perseguição aos acusados.
Por outro lado, a delegada Simone Felinto, superintendente regional de Polícia Civil, explicou que, além do apoio nas buscas, um inquérito policial foi aberto, ainda de madrugada, para investigar toda a situação da fuga – que já é a maior da história de Marabá – e isso inclui descobrir como essas armas foram parar nas mãos dos detentos.
Ainda segundo a superintendente, o inquérito policial tentará identificar também quem era o alvo dos criminosos que foram fazer o resgate no Crama, pois muitos presos sequer orquestraram a fuga, mas apenas aproveitaram a oportunidade e fugiram.
Ela confirmou ainda a participação de policiais civis do NAI – Núcleo de Apoio à Investigação –, que estão integrando a equipe que apura os fatos, assim como o Departamento de Homicídios, que já começou a colher informações sobre o assassinato dos dois detentos durante o motim.
Entre os presos recapturados, Ilson Oliveira Sousa foi pego no começo da manhã no PA Jussara, pela Polícia Militar, depois de ter passado a noite no mato. Perguntado se ajudou a planejar a fuga, ele disse que apenas aproveitou a chance, mas que não ajudou a orquestrar nada. “Aproveite o embalo”, resumiu, acrescentando que os detentos foram “solidários” na hora de pular o muro: “Um subia nas costas do outro”.
Sistema penal anuncia medidas
Diretor geral penitenciário da Susipe-PA, o coronel Matos confirmou a superlotação carcerária dentro do Crama, que tem capacidade inicial para apenas 180 presos, mas abrigava – até a fuga – nada menos de 629 detentos. Ou seja, a capacidade projetada está ultrapassada em mais de três vezes. Mas esse não é o pior problema.
O pior de tudo é que todo todos os presos do Crama já estão sentenciados. Ou seja, nem mesmo um mutirão da Vara de Execuções Penais conseguiria fazer uma grande redução da população carcerária. Mas há uma luz no fim do túnel.
Segundo o coronel, o governo do Estado está com nove unidades prisionais sendo construídas no Pará e existe ainda uma licitação para a construção de mais uma prisão de 306 vagas para a região de Marabá, o que vai ajudar a desafogar o Crama.
Em um segundo momento, será feita uma nova unidade apenas para regime semiaberto, também em Marabá, justamente para que o Crama tenha sua capacidade respeitada, o que ajuda no controle dos detentos e diminui a possibilidade de fugas.
Em relação específica ao Crama, coronel Matos explicou que, além do aparelho de Raios X, que já está em funcionamento, está prevista a aquisição de um scanner pessoal para o Centro Mariano Antunes, que deve dificultar a entrada de armas, drogas, celulares e outros objetos irregulares no Crama.
Além disso, segundo o diretor, o Sistema Penal tem buscado parceria com o Poder Judiciário e com a Defensoria Pública para melhorar o atendimento ao detento para que este tenha o cumprimento de sua pena dentro do prazo legal. (Chagas Filho)