Correio de Carajás

Corpos de pai e filho são sepultados

Foram sepultados nesta sexta-feira (13) os corpos de Kauã Ribeiro Nascimento, de apenas um ano e sete meses, e do pai, Ailton Nascimento Lopes, de 23 anos, alvejados a tiros na Folha 25, Nova Marabá, em uma área de ocupação urbana, na noite de terça-feira (10).

Os dois chegaram a ser socorridos e encaminhados ao Hospital Municipal de Marabá, onde o bebê morreu na noite de quarta (11) e o pai da na manhã de quinta (12).

Ao contrário do divulgado inicialmente sobre Ailton ser padrasto da pequena vítima, familiares corrigiram a informação nesta sexta, declarando que ele era o pai biológico do menino. Milena Nascimento, mãe da criança e esposa de Ailton, foi ouvida pela Polícia Civil por ter testemunhado o crime.

Leia mais:

À imprensa, ela informou que estava na rua, acompanhada do marido e do filho do casal, que estava no colo de Ailton, quando quatro homens os encurralaram na frente de casa.

“Pegaram, seguraram ele, meu filho estava no braço dele e ele pedindo para não matarem porque ele não sabia de nada. Começaram a dar tiros nele, pegou nas costas do meu filho”, disse, em choque. Nesta sexta, durante o velório, a mulher sofreu vários desmaios e passou a maior parte do tempo medicada e deitada.

Comovidos, familiares ainda estão tentando entender o ocorrido. “Uma violência muito grande, a pessoa fazer isso desse jeito não tem vergonha, é muita violência. Estou sofrendo demais e assim como estou sofrendo, está sofrendo a mãe da criança. Ela está passando mal, só desmaiando, sem comer. Ela estava presente”, declarou Domingas Marques Nascimento, mãe de Ailton e avó de Kauã.

“Além de perder o filho ainda perdi o neto, é muito doído ver isso”, acrescentou Domingas, informando que o filho era presente na vida dela e que aos finais de semana a visitava e passavam o dia juntos. Junto de Milena, Ailton possuía mais dois filhos.

Manoel Ferreira Barros, padrasto dele, conta que o enteado trabalhava como vigilante de carros e sustentava a família com honestidade. “Eu só quero justiça para o meu enteado, eu moro com a mãe dele há 11 anos e era um moleque trabalhava bacana pra sustentar a família”, cobra.

Comoção e indignação tomaram conta do velório das vítimas / Foto: Josseli Carvalho

Polícia acredita que assassinos erraram alvo

A tragédia ocorreu no mesmo dia em que Rodrigo Luz Pereira foi morto e Cledson Alício Freitas, o Bebezão, baleado na Folha 23, próximo da Folha 25. A Polícia Civil segue linha de investigação apontando que ambos os crimes estão relacionados e que pai e filho foram mortos como retaliação pelo primeiro caso.  

O delegado Vinicius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, atualizou nesta sexta-feira informações sobre o ocorrido e os procedimentos tomados pela equipe investigativa até o momento.

“Ali (Folha 23) funcionava como boca de fumo e dois indivíduos estavam comercializando drogas quando chegou um grupo rival, em atentado aos que estavam comercializando. O Rodrigo morreu e o Bebezão está no hospital fora de risco. Bebezão é investigado pela Polícia Civil por tráfico de drogas e envolvimento por homicídios”, disse.

Conforme ele, pessoas desse grupo entenderam que pessoas vinculadas ao pai e filho mortos fossem responsáveis pelo ataque e organizaram uma retaliação. “Como eles não encontraram a pessoa procurada, ou se confundiram, atentaram contra o Ailton, que estava com o bebê de colo. Tudo indica que ele não era o alvo principal, foi confundido ou foi morto porque não acharam outro”, informou.

Cardoso acrescentou que o homem que está internado foi autuado em flagrante por tráfico de drogas e está sob custódia após terem sido encontradas porções de crack no local do primeiro crime.

Antes de morrer, vítima reconheceu Robson

Na quarta-feira (11) a Polícia Civil prendeu Robson Gonçalves de Sousa em posse de um revólver calibre 38. O delegado Vinicius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, afirma que ele foi preso em casa, em posse de um revólver calibre 38.

“Ele afirma que a arma apreendida com ele foi utilizada no duplo homicídio, mas alega que não estava no local dos baleamentos”, diz o delegado, acrescentando que o armamento ainda não foi periciado para que haja certeza de que é a arma utilizada nas mortes.

Mesmo diante da negativa de Robson em relação à participação nas mortes, Ailton o reconheceu antes de morrer. “Ele foi autuado em flagrante por posse irregular de arma e foi solicitada a (prisão) preventiva por envolvimento nos homicídios. Sobre outras pessoas que estavam na cena temos elementos robustos de investigação”, adiantou Cardoso. (Luciana Marschall)