Correio de Carajás

Corpo estranho digestivo em criança

      A ingestão de corpos estranhos é frequente em todo o mundo. A maioria dos objetos ingeridos (80%) percorre todo o trato gastrintestinal sem intercorrências e necessidade de intervenções. Cerca de 10% a 20% exigem retirada por endoscopia, e uma minoria, retirada cirúrgica.

      Observa-se que a maior incidência de corpo estranho no trato digestivo é entre a população pediátrica, em pacientes de 6 meses a 6 anos. Em adultos, fatores de risco como idade avançada, população psiquiátrica e intoxicação por álcool são responsáveis pelas principais ocorrências.

      As complicações dependem do tamanho, do material, do formato do objeto ou de fatores intrínsecos ao paciente, como idade, alterações anatômicas, comorbidades ou cirurgias prévias. Complicações mais comuns são impactação, obstrução e perfuração, frequentes em áreas de estreitamentos fisiológicos e angulações anatômicas.

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      Assim como há variedade da natureza do objeto deglutido, também os sintomas dos pacientes são diversos. Sensação de entalo, dor retroesternal, náuseas, vômitos, disfagia e dor abdominal são sintomas que podem estar associados à história no momento da admissão ou ao longo da evolução.

      Disfagia, salivação em excesso e incapacidade de deglutir líquidos alertam para sinais de obstrução completa do esôfago. Taquicardia, febre, dor à descompressão do abdome e enfisema subcutâneo são alertas para possível perfuração do trato gastrintestinal – TGI.

      Sinais e sintomas de overdose podem ser encontrados em história de ingestão de pacotes de droga. Após histórico, anamnese e exame físico direcionados, pode-se conduzir com mais clareza os exames necessários e a avaliação sobre necessidade de intervenção endoscópica ou cirúrgica.

     A endoscopia digestiva (EDA) é indicada como método diagnóstico e ou terapêutico. Nas seguintes situações. Emergência, realizar prontamente o exame – dentro das primeiras 6h: Baterias e pilhas no esôfago, pelo risco de necrose e perfuração – lesão química. Obstrução total de esôfago. Objetos pontiagudos, perfurantes ou cortantes no esôfago.

      A EDA na Urgência, dentro das primeiras 24 h: Corpos estranhos no esôfago, não pontiagudos. Impactação alimentar no esôfago sem obstrução total. Objetos pontiagudos no estômago e no duodeno. Objetos com mais de 6 cm de comprimento no estômago ou duodeno. Imãs ao alcance do endoscópio.

      A EDA não urgente: Objetos rombos com mais de 25 mm no estômago. Baterias no estômago podem ser observadas em até 48 h, indicação de remoção em crianças menores de 5 anos, de baterias com 20 mm ou maiores ou em caso de alterações gastrintestinais. Objetos rombos que continuam no estômago após 4 semanas. A EDA não está indicada em casos de ingestão de narcóticos, a remoção por endoscopia é contraindicada.

      É frequente a ingestão de espinha de peixe, alfinetes de segurança, agulhas, entre outros. Deve-se ter cuidado especial quanto a objetos instalados no esôfago médio na altura de grandes vasos; pulsações transmitidas e sangramento no exame devem sugerir cirurgia precoce.

      A ingestão de pacotes de drogas deve ser acompanhada de maneira conservadora. O risco de rompimento na tentativa de retirada e a alta taxa de passagem pelo TGI sem intercorrência corroboram a conduta inicial. Devem ser abordados cirurgicamente casos de impactação, obstrução intestinal ou suspeita de rompimento, quando há sinais de intoxicação.

      Bezoares geralmente resultam da fusão de objetos impactados no trato gastrintestinal. Exemplos comuns são: Tricobezoar: provindo da ingestão de fios de cabelo. Fitobezoar: acúmulo de fibras em indivíduos que seguem dieta rica em frutas e vegetais, muitas vezes em pacientes submetidos a cirurgia gástrica.

       Radiografia simples pode avaliar corpo estranho opaco no trato digestivo. Tomografia Computadorizada geralmente usada para identificar complicações do corpo estranho ou pós procedimento de retirada. É importante o reconhecimento precoce dos sinais e sintomas de complicação, condições em que a ausência de intervenção pode levar à morte.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.