Correio de Carajás

Coronavírus obriga pacientes de HIV/AIDS retomarem tratamento no CTA de Marabá

Com a chegada do mês de dezembro, o Serviço de Atendimento Especializado/Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA) iniciou sua campanha de combate e prevenção ao vírus HIV, que contabiliza 200 novos casos só entre janeiro e outubro de 2020 na unidade. Só em 2019, sete dos pacientes acompanhados em Marabá faleceram, porém, nem todas as causas de óbito são direcionadas ao vírus.

A gerente do CTA, Katiane Chaves, explica que apenas um dos pacientes que veio a óbito teve como causa o diagnóstico tardio da doença, tendo os demais, falecido de outras causas não relativas ao vírus. “Por isso orientamos as pessoas sobre a prevenção, o diagnóstico precoce e a adesão às testagens rápidas e ao tratamento para uma melhor qualidade de vida”, justifica.

O perfil socioeconômico das cerca de 3 mil pessoas cadastradas no programa HIV/Aids é variado entre heterossexuais e homossexuais, de faixa etária entre 18 e 29 anos, baixa escolaridade e a renda média e baixa, segundo relatório de 2019 do CTA. “Os dados de 2020 ainda estão sendo fechados”, explica Katiane.

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Uma informação extra que a gerente do centro apresentou à Reportagem é o aumento da busca pelo tratamento com a chegada do novo coronavírus por pessoas que o haviam abandonado. Inclusive, a equipe está preparando um levantamento para planejar uma busca ativa dos pacientes que abandonaram o tratamento, utilizando o Sistema de Monitoramento Clínico das Pessoas Vivendo com HIV/Aids (SIMC).

O preconceito ainda circunda o vírus e demais Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), o que faz aumentar o número de pessoas que são diagnosticadas com a doença, mas que vão em busca de outros municípios e até mesmo estados, para evitar a exposição em Marabá. “Apesar dessa realidade, pontuamos que o CTA e todos os seus profissionais garantem o sigilo no sentido de resguardar os pacientes e não os expor”, destaca Katiane.

MÉDICO EXPLICA

O preconceito muitas vezes é gerado pela falta de conhecimento que as pessoas possuem a cerca do tema, de modo que a melhor arma para combatê-lo é a informação. O Correio fez questão de entrevistar um dos médicos que atendem no CTA, o qual fez esclarecimentos sobre o vírus e outras DSTs e ISTs.

O médico clínico geral, Eron Santos de Almeida, começa elucidando sobre os termos, como DST, que não é muito utilizado por referir-se a doenças, e segundo ele, antigamente as pessoas pensavam que por estar assintomático, não apresentar sintomas, deixavam de realizar o tratamento. Desde novembro de 2016, o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das DST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais passou a utilizar nomenclatura “IST” no lugar de “DST”.

A nova sigla IST refere-se a agentes patológicos que podem ser tanto virais, como bacterianos, sendo transmitidos por via sexual, ou não, já que o contato com o sangue também é considerado. “No CTA, eu atendo mais casos de pacientes com HIV”, revelou Eron, sem mencionar números.

Em relação ao tratamento, o médico é subjetivo, devido a individualidade de cada IST, pois se for transmitida por vírus, o tratamento será com antivirais; se for bactéria serão utilizados antibacteriais, e se for fungos, antifúngicos. “Os métodos sempre variam, mas, nas mais comuns, como HIV, o tratamento é feito com comprimidos, iniciando com um ou dois por dia. A sífilis, que é uma IST, tem o tratamento através de medicamentos injetáveis. No caso, a penicilina G benzatina, conhecida como benzetacil, que é muito eficiente neste caso. A gonorreia, outra IST, é tratada tanto com comprimidos, quanto com injetáveis. Tudo vai depender da IST em questão”, esclarece Eron.

Pacientes agora usam no máximo 2 comprimidos

Segundo o médico Eron Almeida, o tratamento das chamadas ISTs mudou bastante ao longo dos anos. Os pacientes do HIV precisavam ingerir cerca de 14 comprimidos na década de 90, mas, atualmente, na fase inicial eles tomam apenas um ou dois comprimidos. E a gerente Katiane Chaves completa que no CTA, o paciente recebe até três frascos gratuitamente para se cuidar.

Devido a quantidade de comprimidos usados, na época que o tratamento foi criado, os pacientes tinham reações diversas provocadas pelos efeitos colaterais de cada remédio. “Os mais comuns eram tonturas, tosses, alergias, desmaios e até mesmo convulsões”, cita o médico.

De acordo com Eron, a evolução da medicina encontrou métodos de reduzir essa quantidade de comprimidos e, por conseguinte, as reações também diminuíram. “Hoje, vejo eles [os medicamentos] mais modernos e causam apenas dor de estômago. Mas, isso é relativo”, diz.

Katiane informa que alguns dados de 2020 ainda estão sendo fechados

EVOLUÇÃO PARA AIDS

O HIV evolui para a aids quando o diagnóstico é tardio, ou quando paciente não toma os remédios como o médico prescreveu. Eron explica que para os medicamentos funcionarem, “é necessário haver uma concentração plasmática ideal no sangue, e quando a pessoa passa não tomar o medicamento nos dias prescritos, essa concentração diminui e o vírus se acostuma com o remédio, que perde o seu efeito”.

Com a carga viral alta, o vírus ataca o sistema imunológico, se tornando a aids. É possível que no início do tratamento o HIV já possa mostrar resistência ao remédio. Neste caso, é preciso trocar e realizar mais exames, se a relação do medicamento com o paciente não surtir efeito adequado.

Infelizmente, não existe cura para a aids, mas uma adesão estrita aos regimes antirretrovirais (ARVs) pode retardar significativamente o progresso da doença, bem como prevenir infecções secundárias e complicações.

36 filhos de portadores do HIV são acompanhados

É fato que bebês podem adquirir o vírus, muitas vezes, no momento do parto, onde tem contato com o sangue infectado da mãe, e também durante a amamentação.

Caso a gestante seja portadora, com a carga viral indetectável nos exames, ela pode até fazer um parto normal que não terá problemas, mas, se for alta, ela tem de fazer o parto cesariano e não poderá amamentar. “Por isso é importante realizar o pré-natal, para realizar os diagnósticos da mãe”, explica Eron.

Há a chance de o bebê adquirir o vírus ainda na barriga da mãe, porém, as chances são menores do que no momento do parto. Um fato que chama a atenção é sobre o número de crianças filhas de pais portadores do HIV que são acompanhadas pelo CTA, totalizando 36 em Marabá, sendo que 22 são do município. Dessas, três vieram transferidas de outras cidades.

Quando uma criança é concebida por uma mãe que possui o vírus, são seguidos os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), para acompanhamentos, e após dois anos é dado o diagnóstico.

PREVENÇÃO E COMBATE

Para diminuir a contaminação do vírus, o médico sugere a implementação de uma educação sexual mais eficiente nas escolas para orientar os jovens que possivelmente estão iniciando a vida sexual, a partir do 9º ano. “É interessante, pois nessa fase eles já sabem assimilar as coisas e devem ser orientados”, completa Eron.

Usar preservativos na relação sexual também continua sendo a principal forma de se proteger, já que é eficiente contra 99% das ISTs e DSTs. A realização de testes rápidos e outros exames também é fundamental para o diagnóstico precoce, dando a chance de o paciente ter uma qualidade de vida.

Assustadoramente, Eron revelou à Reportagem que muitos dos seus pacientes subestimam o HIV. “Eles relatam que têm relações sexuais com parceiros e parceiras sem o uso do preservativo e sem conhecer o passado sexual dessa pessoa. Isso é impressionante e nos preocupa muito”, confessa o médico.

Mas, se por um lado as pessoas não se preocupam com a prevenção, quando o diagnóstico é positivo, o baque é inevitável. “Muitos se sentem culpados e por medo do preconceito, acabam não contando para a família”, lamenta Eron.

PEP: SOLUÇÃO IMEDIATA

Você foi para uma festa, conheceu alguém, teve relações sexuais e o preservativo rompeu? Há uma alternativa para se prevenir imediatamente. Segundo o clínico geral, o PEP é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras ISTs, que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções.

Esse tratamento rápido deve ser feito nas primeiras 72 horas após a relação sexual, onde o individuo deve procurar o CTA para iniciá-lo.

O PEP é indicado em casos de violência sexual, ou relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha), ou acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico). (Zeus Bandeira)