Assinado por 12 entidades, um manifesto cobra da prefeitura mais transparência nas informações sobre as ações de combate ao coronavírus e também no repasse das informações sobre os números reais da doença no município. O documento também sugere medidas de atendimento à população.
O manifesto começa falando da importância do isolamento social para conter o avanço da doença e evitar colapso no sistema de saúde, mas pondera que a adesão ao isolamento por parte da população está diretamente associada à clareza de informações disponíveis sobre a proliferação local da doença, bem como das ações do poder público para efetivar a quarentena e evitar a continuidade de atividades que geram quaisquer tipos de aglomeração social.
É justamente aí que está o alerta feito pelo documento. “Em Marabá, são incontáveis os números de denúncias de pacientes que chegaram a hospitais de referência da cidade com todos os sintomas de covid-19 e são encaminhados ao isolamento social em casa sem serem devidamente testados. Portanto, não há uma ação clara por parte do poder público municipal de testagem da população, o que deságua em informações e boletins informativos confusos, sem nenhum detalhamento e que, por isso, não refletem a situação real da doença no município”, diz trecho do documento.
Leia mais:O manifesto elenca alguns instrumentos fundamentais para o combate ao covid19, como a testagem da população e a veiculação de informações detalhadas, como a idade, tipos de comorbidade das pessoas infectadas, bem como o nível de infecção dos profissionais de saúde, que estão expostos à doença, muitas vezes, sem os EPIs necessários, além da distribuição espacial dos casos confirmados na cidade.
Essas medidas ajudam no entendimento de como a doença está atacando a população e na condução de um planejamento de combate à disseminação do vírus. “A confusão, subnotificação e falta de detalhamento dos informativos em Marabá têm levado a uma falsa sensação de contenção do vírus em nossa cidade, e essa sensação de normalidade produz decisões públicas e privadas que podem ser catastróficas à curto e médio prazo, como a persistente abertura de estabelecimentos comerciais não essenciais, o funcionamento cotidiano normal de atividades que promovem aglomerações, assim como a perigosa confiança de parte da população em continuar saindo de casa indistintamente e sem nenhuma proteção.”
“A situação do Amazonas em que o sistema de saúde já entrou em colapso e a do próprio Pará, à beira do colapso, exige-nos responsabilidade para com todas as nossas ações. Por isso, o conjunto de entidades e organizações abaixo assinadas, exigimos da Prefeitura Municipal de Marabá mais transparência nos dados sobre os casos de Coronavirus identificados na cidade, uma ação mais enérgica e bem articulada de testagem da população, uma ação mais efetiva para o cumprimento da quarentena na cidade”, relata outro trecho do manifesto divulgado nesta segunda-feira (27).
Entre as exigências/sugestões para o município também estão “um investimento de recursos, inclusive dos royalties (CFEM) da mineração que o município recebe, para a compra de EPIs aos profissionais de saúde e para o aumento do número de UTIs, além de uma ação social coordenada de auxílio econômico à população mais vulnerável que já está sofrendo por não ter como acessar os recursos básicos para sobreviver”.
“Nesse sentido, como Marabá é uma cidade com vários assentamentos de reforma agrária e possui um entorno rural com significativa produção de alimentos e pescado, também exigimos da Prefeitura um plano de aquisição de alimentos saldáveis de pequenos agricultores e pescadores para garantir a segurança alimentar da população do município”, diz outro trecho da carta, finalizando com o alerta de que “a omissão agora pode custar muitas vidas amanhã!”
Assinam o manifesto: SindUnifesspa, Sindicato dos Trabalhadores em Saúde Pública do Estado do Pará (Sintesp/PA), Sindicato dos Urbanitários, Central Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), Colegiado do Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo – Unifesspa, Sindicato dos Peritos do INCRA (SindPFA), Sinasefe, Sintepp – Subsede Marabá, Sindifes, DCE Unifesspa, PSOL Marabá e Emancipa.
(Chagas Filho)
NOTA DA PREFEITURA:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
“É importante pontuar algumas informações da nota:
1 – Quanto a testagem de pacientes, é seguido o protocolo do Ministério da Saúde, também seguido pela SESPA para testagem por amostragem ou identificação de todos os sintomas da COVID 19. Ainda na semana passada, a SESPA nos enviou testes para os profissionais de saúde, o que foi feito.
2 – E Marabá só existe um hospital de referência, O Hospital Regional. Ele foi determinado pela SESPA para acolher os casos suspeitos. O HMM é, assim como todos os outros particulares ou não, hospitais chamados de retaguarda, onde o paciente recebe o primeiro atendimento.
3 – Quanto a EPI´S. A SMS está desde o início distribuindo a todos os profissionais estes equipamentos e ainda no dia 19 recebemos mais um aporte de EPIS e hoje recebemos mais outra remessa. Portanto todos os profissionais da área estão equipados e testados, mesmo considerando a crise de demanda existente no país.
4 – Quando ao isolamento domiciliar é preconizado como necessário para o paciente em estado leve da suspeita de contaminação. O motivo: ao ser internado ele pode ser ainda mais exposto ao vírus e a suspeita pode ser transformada em confirmação. A medicação administrada também é preconizada pelo Ministério. Medicamentos como Asitromicina, Paracetamol está no protocolo e é usado em todo país. O HMM tem estoque reforçado semanalmente para atendimento.
5 – A informação passada sobre os números de casos confirmados ou suspeitos é feita de forma correta, também preconizada pela SESPA. Os exames coletados são enviados para Belém para análise e retornam no prazo de no máximo 10 dias. Os pacientes suspeitos são tratados de forma eficiente: em caso médio e grave são internados no próprio HMM. Em caso leve é monitorado de forma domiciliar pelas equipes de vigilância.
6 – Hoje o HMM conta com 5 UTIS com respiradores. A rede de retaguarda outros 38 (UNIMED – SANTA TEREZINHA – HGGUMBA ) e mais 10 leitos com oxigênio, devendo aumentar para 10 UTIS nos próximos dias; Além disso contamos com 120 leitos do Hospital de Campanha, disponíveis e ainda a espera de respiradores para transformar parte deles em UTIS
7 – Quanto ao uso do CFEM, a prefeitura investiu no último quadrimestre mais de 30% a mais em recursos, sendo que o estipulado pelo ministério é de 15%, em saúde, constantes no portal da transparência para avaliação de todos os munícipes. Em relatório recente da FIRJAN- FGV, Marabá é uma das 100 cidades que mais investe nesta área em todo o país. O que se justifica atender a uma população de mais de um milhão de habitantes.
8 – Sobre omissão, os dados acima são, em si, comprobatórios que não há omissão, nem com relação ao isolamento social, onde seguimos rigidamente as regras estabelecidas em lei e decretos estaduais e municipais”.
Matéria alterada com nota da Prefeitura às 17h31 do dia 27/04/2020