Correio de Carajás

Conheça a história dos 40 anos de fé do Círio de Marabá

A devoção à Nossa Senhora de Nazaré em Marabá começou em 1979, por iniciativa das religiosas Maria das Neves Pereira, Maria Elizânia Dias e Irmã Zenide. Católicas abnegadas das folhas 15 e 16, na Nova Marabá, naquele ano elas sentiram a necessidade de adotar um santo ou uma santa da qual ficassem devotas. A imagem escolhida as acompanhariam no serviço de evangelização, que já na época faziam ao visitar famílias da cidade.

Foi assim que, em visita à também religiosa Judith Gomes Leitão, conhecida como “Dona Santa” – que guardava em casa, num oratório, várias imagens representando santos cultuados no catolicismo – pediram que ela lhes doasse alguma dessas representações. Aquele esforço era uma necessidade inadiável de conduzir a Deus os seus desejos por uma sociedade mais justa.

Ao pegar, aleatoriamente, uma imagem, Dona Santa entregou ao trio de religiosas a de Nossa Senhora de Nazaré, cuja história tem origem em Portugal, mas que é cultuada desde 1792 como a Padroeira do Pará. Logo, a pequena imagem estava presente em todas as missas realizadas na humilde capela da Folha 16 – hoje o magnífico Santuário de Nossa Senhora de Nazaré – e em casas da comunidade.

Leia mais:

Porém, foi em 1980 que aconteceu o primeiro Círio em Marabá. O percurso, no entanto, era curto: a imagem da santa saía em procissão da capela da Folha 16, dava a volta pela Folha 15 e retornava ao local de origem. Sem uma berlinda, a pequena imagem foi colocada em uma caixa de papelão forrada com páginas coloridas de revistas e decoradas com papel de seda.

Nesta imagem aérea, captada pelo Jornal, o acesso à Marabá Pioneira tomado por seguidores da Virgem Maria

No ano seguinte, 1981, a imagem ganhou um pedestal: uma lata de leite preenchida com areia da Praia das Pombas – hoje a Praia do Tucunaré –, foi transformada em suporte para a imagem de Nossa Senhora, colocada em outra caixa e papelão, agora maior e mais bem decorada. Como não havia suporte para o trajeto, os fiéis peregrinavam com a imagem na cabeça mesmo.

Em 1983, houve a primeira mudança no percurso do Círio de Nazaré em Marabá, com a incorporação ao grupo da também religiosa católica Maria Esperança Aleixo Tavares – a qual havia chegado de Belém com a família, que já cultuava e anualmente acompanhava o Círio de Nazaré.

Ela sugeriu que a procissão estendesse bem mais o percurso e assim foi feito: a romaria, então, em vez de limitar-se às quadras das folhas 15 e 16, passou a seguir até a Folha 32, à altura da Agência Central dos Correios, de onde retornava, ganhando ainda mais adeptos.

11 anos depois, em 1992, outras duas grandes mudanças ocorreram no Círio. A primeira foi no trajeto, quando, por sugestão do então prefeito Nagib Mutran Neto, a procissão passou a ter início na Catedral de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Velha Marabá, com término na Folha 16, num percurso de 6,5 quilômetros.

A mudança foi acatada, mas sob uma condição imposta pela irmã Maria das Neves: na véspera da grande procissão, a imagem seria levada em romaria até o Balneário Mangueiras e, dali, em trajeto pelo Rio Tocantins, seria levada até o Núcleo Pioneiro. Assim aconteceu a primeira Romaria Fluvial em Marabá.

Quando o padre Ademir Gramelik chegou a Marabá e assumiu a organização do Círio, em 2001, as tradicionais peregrinações nas paróquias e nas comunidades começaram a ocorrer. A partir de então, a imponente festa de fé passou a mobilizar mais fiéis, visto que agregava grande parte dos bairros da cidade.

A imagem peregrina passa mais de 30 dias visitando comunidades, paróquias, entidades, empresas e até aldeias indígenas, para mensurar a diversidade da celebração, que é um dos mais marcantes símbolos da religiosidade local.

O Círio de Nazaré só consegue estimular tantas mãos, pés e corações num dia marcado por fé e devoção em demasia, graças ao valoroso trabalho de homens e mulheres de boa vontade, sem os quais nenhum avanço teria acontecido de 1980 até 2020, quando a celebração, em virtude da pandemia da covid-19, será desempenhada pelas mídias.

Neste ano, não haverá fiéis calejados, descalços ou de joelhos, ao redor da Virgem de Nazaré pelas vias de Marabá. Entretanto, os corações religiosos estarão em sintonia com a programação transmitida em cadeia de rádio, televisão e canais virtuais. “Maria, ajudai-nos a defender a vida” é o lema de quatro décadas de conquistas. (Da Redação)

CRONOLOGIA

1979

“Dona Santa” dá a imagem de Nossa Senhora de Nazaré às religiosas Maria das Neves Pereira, Maria Elizânia Dias e Irmã Zenide.

1980

Acontece o primeiro Círio de Marabá.

1981

Lata de leite preenchida com areia da então Praia das Pombas é transformada em suporte para a imagem de Nossa Senhora.

1983

O percurso é estendido da Folha 16 à Folha 32.

1992

Nova alteração no percurso com a procissão saindo da Marabá Pioneira e realização da primeira Romaria Fluvial.

2001

Imagem de Nossa Senhora começa a peregrinar nas paróquias e comunidades.

2020

Pandemia da covid-19 altera o formato da festa, que passa a ser realizada somente com veículos e reproduzida pelas mídias sociais.