Correio de Carajás

Condenado por chacina é preso duas vezes em 21 dias

Momento em que Nonato recebe voz de prisão, no Parque Alvorada I

O ancião Raimundo Nonato de Souza, condenado a 199 anos de prisão, passou 38 anos sem ser alcançado pela Justiça e agora, num período de apenas 21 dias, já foi preso duas vezes. Nonato, que já tem 72 anos, foi condenado, junto com outros dois pistoleiros e um mandante, pelo assassinato de oito trabalhadores rurais sem-terra no caso que ficou conhecido como “Chacina da Fazenda Ubá”, no município de São João do Araguaia, em 1985. O caso teve repercussão internacional.

A primeira prisão de Raimundo Nonato aconteceu dia 19 de outubro, na cidade de Novo Repartimento, graças a uma investigação feita a partir da Polícia Civil de São João do Araguaia, que descobriu o paradeiro dele e, com auxílio do Núcleo de Apoio a Investigação (NAI), efetuou a prisão. Acontece, porém, que na audiência de custódia Nonato ganhou direito a prisão domiciliar e voltou para sua casa, em Imperatriz (MA).

Mas, enquanto isso, o Ministério Público recorreu dessa prisão em liberdade e o recurso foi aceito pelo Juízo da Comarca de São João, que reformou a própria decisão, cancelando a prisão domiciliar e alterando para prisão em regime fechado. O mandado foi cumprido nesta quinta-feira (9) por policiais civis do Grupo de Pronto Emprego (GPE) do Maranhão, que foram contactados pela Delegacia de Polícia Civil de São João do Araguaia.

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Raimundo Nonato foi localizado no Bairro Parque Alvorada I. Cabe dizer, no entanto, que ele está em prisão preventiva decorrente de decisão condenatória. Ou seja, apesar de o crime ter sido cometido há quase 40 anos, ainda cabe recurso.

CHACINA DA UBÁ

Segundo os autos do processo, em 1985, famílias de trabalhadores rurais ocuparam parte da Fazenda Ubá, de propriedade da família de José Edmundo Ortiz Vergolino. Em 13 de junho daquele ano, pistoleiros assassinaram três homens, um adolescente e uma mulher grávida de seis meses. Cinco dias depois, o mesmo bando voltou ao local do crime e matou mais três homens, entre eles o líder comunitário José Pereira da Silva, conhecido com “Zé Pretinho”.

Foram necessárias mais de duas décadas para o julgamento do caso. O processo só foi retomado depois que a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e o Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) submeteram o caso à apreciação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA).

José Edmundo Ortiz Vergolino foi condenado como mandante, enquanto Valdir Pereira de Araújo, Raimundo Nonato e Sebastião Pereira Dias, conhecido como “Sebastião da Terezona”, como executores. Inclusive, “Sebastião da Terezona” era um dos pistoleiros mais temidos da região e foi encontrado morto em uma penitenciária de Belém, no ano de 2001. (Chagas Filho)