Correio de Carajás

Complicações das feridas operatórias

Conforme abordado na coluna anterior, as lesões decorrentes do ato cirúrgico obedecem a uma história natural compatível no processo cicatricial e estão intimamente ligadas a uma reação inflamatória decorrente da resposta metabólica ao trauma provocado.

Dessa forma, o paciente deve ser frequentemente reavaliado clinicamente a fim de detectar precocemente quaisquer alterações que surgirem ou eventos adversos decorrentes desse processo natural.

Primeiramente, devem ser acompanhados durante as evoluções diárias de cada profissional e, mais tardiamente, sob regime ambulatorial pelo tempo e periodicidade decorrentes ao grau de invasão provocado e ao tipo de procedimento, assim como o diagnóstico e a terapêutica sob os quais o doente foi submetido.

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Os fatores de risco para uma cicatrização anormal devem ser investigados clinicamente nas avaliações pré-operatórias por meio de uma boa anamnese e um exame clínico detalhado e bem executado.

Tais características são frequentemente identificadas ao questionar os antecedentes pessoais, sobretudo a presença de doenças crônicas ou cirurgias prévias, hábitos, vícios, medicamentos de uso contínuo e estado nutricional.

Dentre os principais fatores de risco para complicações de feridas operatórias podemos citar a idade avançada, imobilização, diabetes mellitus, obesidade, tabagismo, desnutrição, deficiência de vitaminas e minerais, exposição à radiação ionizante e uso de medicamentos como a doxorrubicina e glicocorticoides.

Vale ressaltar que tais fatores podem alterar patologicamente o curso natural do processo cicatricial e, dessa forma, associados ao trauma cirúrgico, serem responsáveis por eventos adversos da ferida cirúrgica, como infecção, hematoma, deiscência, necrose local, ferida crônica, cicatriz hipertrófica e queloides.

Infecção Da Ferida Operatória. A infecção do sítio cirúrgico é uma complicação, mas também pode ser considerada como um processo inflamatório exacerbado da ferida no qual haja drenagem de secreção purulenta, com ou sem cultura positiva.

De acordo com seus aspectos clínicos, pode se estender além dos limites da ferida, acometer estruturas adjacentes ou ficar limitada à incisão. Sua ocorrência representa elevado impacto sobre taxas de morbidade e mortalidade do paciente, ao prolongamento de internações e maiores custos ao Sistema de Saúde.

Dados dos Estados Unidos da América reportaram que, no ano de 2014, ocorreram 20.916 casos de infecção de ferida operatória de um total de 2.417.933 procedimentos cirúrgicos. A literatura ainda aponta que essa complicação é responsável por aumentar o tempo de internação hospitalar em 6,5 dias, o que implicou custos dobrados ao hospital.

Por esses e outros motivos, cada vez mais instituições vêm desenvolvendo e aprimorando diretrizes a fim de prevenir a frequência dessa complicação. Idade avançada, diabetes, obesidade, tabagismo, etilismo, imunossupressão, desnutrição, cirurgias decorrentes de trauma, tempo cirúrgico prolongado, extensão da ferida, nova abordagem operatória e técnica inadequada (antissepsia pessoal e da sala) são os principais fatores associados à infecção da ferida operatória.

Isso se dá pela maior exposição do paciente a patógenos que colonizam o ambiente, associado a um importante déficit sobre o sistema imunológico desse paciente, seja inerente ao trauma cirúrgico ou atribuível a fatores de risco identificados.

O processo infeccioso prolonga a fase inflamatória da cicatrização e interfere negativamente sobre os processos de epitelização, contração e deposição de colágeno. Ocorre ainda liberação de enzimas como as colagenases, que contribuem para a degradação dessa proteína e destruição de tecidos adjacentes.

De qualquer forma, a ferida não cicatrizará por nenhum meio, seja por primeira intenção ou enxertia até que o processo infeccioso esteja resolvido. O tema prossegue na edição de terça feira.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.