Correio de Carajás

Com vizinhos em lockdown, Marabá vive drama com leitos em hospitais

Conte a lotação do Hospital Municipal de Marabá e do Regional do Sudeste não pelo Boletim Epidemiológico diário da Prefeitura Municipal, mas pelo clamor de familiares que vão às redes sociais ou ao Ministério Público Estadual pedir socorro.

Enquanto três dos principais municípios da região Carajás adotam medidas extremas para conter o avanço da segunda onda de covid-19, Marabá limita-se a decretos flexíveis. Servidores do Hospital Municipal relatam lista de até 40 pessoas na espera por leito e até possíveis mortes pela enfermidade que não constariam nos boletins epidemiológicos. Como resultado, muitos familiares angustiados com pacientes internados. Ontem, quarta-feira, o Ministério Público recebeu uma lista de espera por leito com mais de 50 nomes.

Desocupa e ocupa. É assim que a Secretaria Municipal de Saúde define a situação de gangorra que estão os leitos para covid-19 no HMM, que atendem cerca de 20 municípios ao redor. A conclusão da situação se deu após entrevista nesta quarta-feira, 24, com o secretário Municipal de Saúde, Valmir Moura, que trouxe à luz a realidade do quadro.

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Valmir revela reviravoltas nas ocupações de leitos do HMM / Foto: Henrique Américo

No HMM, há 10 leitos de UTI e 19 de UCE (Unidade de Cuidados Especiais), para os casos de alta complexidade, como Andryw Hally de Sá Almeida. Aos moderados, são dispostos 24 leitos de enfermaria.

Segundo a Sespa (Secretaria de Estado de Saúde Pública), o Regional possui atualmente 17 leitos clínicos e 25 de UTI. A taxa de ocupação da unidade, ao meio dia de hoje (24), é de 35,3% nos leitos clínicos e 100% nos leitos de UTI. A Sespa ressaltou, ainda, que até o final de semana mais 20 leitos clínicos devem ser implementados na unidade.

O cenário é preocupante. Valmir afirma que há reviravoltas todos os dias no HMM. “De manhã temos um ou dois leitos desocupados. Quando chega à tarde, estão 100% ocupados. Enquanto abrirmos leitos, eles são ocupados”, revela, acrescentando que mais sete leitos de enfermaria devem ser abertos na casa de saúde.

Ao ser questionado pelo repórter sobre as campanhas em redes sociais para pacientes que necessitam de vaga em UTI, Valmir deu uma resposta chocante. “Nossos leitos de UTI estão 100% ocupados todos os dias. Quando sai um paciente, entra outro. Leito de UTI não fica desocupado”, revela.

Ele demonstra empatia com a população ao comentar que gostaria de ter um volume maior de leitos de UTI na rede municipal de saúde, “mas não temos estrutura para ter a quantidade necessária. Primeiro pelo espaço físico do HMM, que está bem ocupado. Segundo pela demanda dos demais municípios”, justifica.

LOCKDOWN? ACHO QUE NÃO!

Sobre os rumores de um possível decreto de lockdown em Marabá, Valmir confidenciou que a gestão municipal ainda não se reuniu para estudar a possibilidade. “Preciso até provocar uma reunião do Comitê de Crise para Enfrentamento ao novo Coronavírus, com o prefeito, sobre isso”, destacou.

Com a ampliação de mais sete leitos no HMM, o secretário espera avaliar junto ao Comitê se há necessidade de decretar a medida mais dura. “Enquanto conseguirmos atender com os leitos sendo liberados para ocupação, não teremos necessidade de lockdown”, alegou.

Mas ele alerta: se caso atingir 100% de taxa de ocupação e não houver liberação, a medida será adotada. “Devemos marcar essa reunião para sexta-feira (26), se não, na segunda-feira (29)”, prevê.

A luta de Hally pela vida no HMM

Nesta quarta, foi dada a largada em mais uma etapa da campanha de vacinação contra a covid-19. Nessa fase, idosos a partir de 73 anos devem comparecer aos postos para serem imunizados. A procura tem se mostrado baixa, segundo Valmir. “Estamos acompanhando”, garante.

A faixa etária do público da campanha pode diminuir para 70 anos nesta quinta (25), caso a saúde municipal receba 4.800 doses que estão previstas para chegar. “O ideal é chegarmos ao público de 60 anos. Assim, poderemos avançar nas demais fases”, acrescenta o secretário.

Com pulmões 75% comprometidos, Hally foi intubado no HMM

A vendedora de ferragens, Josefa da Silva Martins, viu seu esposo, Andryw Hally de Sá Almeida, sentir o primeiro sintoma – tosse – e ir parar em um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por conta da enfermidade. Ela conta que tudo começou com uma simples tosse no dia 5 de março, para a qual o companheiro não viu gravidade, por ser comum ter crises de sinusite.

Porém, na segunda-feira (8), ao viajar para realizar um serviço de entrega com seu caminhão baú, Andryw começou a ter diarreia e sentir fraqueza. Ao retornar para casa na terça-feira (9), recebeu outra demanda de entrega. Josefa o aconselhou a ficar em casa e se cuidar. Ele ignorou a recomendação.

Ao longo da semana, Josefa começou a sentir febre, diarreia e fraqueza. Ao mesmo tempo, suas duas filhas também sentiram sintomas moderados da covid-19. Com receio, a mulher comprou ivermectina e azitromicina para tratar a si e as filhas.

Hally voltou para casa com os sintomas se agravando e na madrugada de sexta (12) para sábado (13), acordou a esposa reclamando de febre. Na manhã seguinte ele foi até o Hospital Municipal de Marabá (HMM), onde resultou como positivo para covid-19 e descobriu que seu pulmão estava 75% comprometido.

Josefa e toda sua família tiveram covid-19, mas apenas o esposo foi parar na UTI / Foto: Henrique Américo

Ele foi internado e na terça-feira (16), intubado. A partir daí, Josefa ficou aflita pela situação do esposo. Pelas redes sociais, campanhas eram feitas para que ele fosse transferido para um leito de UTI no Hospital Regional do Sudeste do Pará, onde receberia melhores cuidados, devido ser obeso.

Ontem (23), ele conseguiu ser transferido ao HR. As informações que Josefa recebeu até o momento sobre o quadro de saúde de Andryw foram repassadas por um familiar que atua na casa de saúde. “Sei que ele está sendo bem tratado. Me falaram da higienização e que estava recebendo massagens para evitar escaras”, conta a esposa, mais calma.(Zeus Bandeira)