Os moradores do bairro São Félix, em Marabá, continuam o bloqueio na BR-222, interrompendo o trânsito na ponte rodoferroviária sobre o Rio Tocantins. A manifestação, que começou às 6 horas, é uma tentativa da comunidade de clamar por apoio das autoridades para evitar o despejo de mais de 100 famílias do São Félix I e II que receberam intimação judicial.
A mobilização, que ocorre em meio a um processo judicial que impacta a vida de milhares de pessoas, tem gerado grande apreensão entre os residentes e está afetando diretamente a circulação de pessoas e mercadorias entre os dois lados do rio.
A expectativa dos de manifestantes é de que o governo estadual abra um canal de diálogo para discutir a situação e encontrar alternativas viáveis para os moradores, que, na sua maioria, não têm condições financeiras de arcar com as cobranças. Algumas pessoas chegaram a acender churrasqueiras improvisadas, porque a intenção é levar a manifestação adiante. Não há previsão para a desobstrução da ponte. A fila de veículos que tentam atravessar a ponte é quilométrica e ultrapassa o KM 6.
Leia mais:A reportagem do Correio de Carajás esteve presente no ato na manhã desta terça-feira (17) e conversou com Renato Silva, empresário e morador do bairro há mais de 30 anos, que conta que recebeu uma intimação recente que o obriga a pagar R$ 5 milhões, um valor que ele considera completamente fora da realidade.
“Meu terreno, se for avaliado hoje, não vale mais de R$ 100 mil. Eu não tenho condições de pagar essa quantia, e a maioria dos moradores está na mesma situação”, afirma.
Renato relata também que muitos ainda aguardam o recebimento de suas intimações e temem que enfrentem valores igualmente exorbitantes. Segundo ele, os manifestantes esperam que o movimento surta algum efeito e que a situação seja resolvida de alguma forma.
Leila da Penha, moradora da região conhecida como Quilômetro 1, também participa da manifestação e compartilha sua angústia. “A gente mora aqui há quase 40 anos e, agora, estamos recebendo essas intimações bilionárias. Sou aposentada, recebi uma cobrança de R$ 1 milhão. Não tem como pagar isso”, desabafa.
Ela menciona que muitos idosos estão passando mal devido ao estresse causado pelas notificações, sem saber como proceder. Ela e outros moradores já procuraram ajuda na Câmara Municipal e no Ministério Público, mas, segundo ela, receberam a resposta de que nenhuma ação será tomada até o fim das eleições. “Muitas pessoas não têm condições de esperar. A situação está insustentável”, afirma. Ela também destaca que o movimento, por enquanto pacífico, poderá se intensificar se não houver negociações.
“À tarde, vamos avançar para a ponte. Não vamos sair daqui enquanto o governo do Estado não sentar com a gente”, pontua.
DIREITO DE IR E VIR
Enquanto os manifestantes exigem uma solução, o bloqueio na ponte rodoferroviária trouxe transtornos para quem depende da travessia diária, obrigando moradores do núcleo São Félix dependerem de rabetas e barcos para atravessar o rio da rampa do São Félixo em direção à Rampa da Folha 8. O valor cobrado pela travessia é de R$10 por pessoa e R$50 para quem precisa levar sua motocicleta.
Josefa Alves, que precisava resolver um assunto urgente, foi uma das afetadas pela paralisação. “Para a vida da gente, para totalmente. Quem trabalha, quem tem compromissos urgentes, fica muito prejudicado”, comenta.
A moradora do Quilômetro 1 relata as dificuldades enfrentadas ao tentar atravessar o rio em pequenos barcos, uma alternativa perigosa para quem precisa se locomover. “É um perigo andar de barco pequeno com moto, e ainda leva quase cinco horas para chegar. Sem contar que a gente saiu de casa sem comer, é uma situação muito complicada”, afirma.
A paralisação também está impactando diretamente a rotina de famílias com filhos em idade escolar. Kezia Neves, moradora do Residencial Tocantins, diz que havia se preparado para levar suas filhas, Ariella e Ana Paula, para realizarem uma prova pela manhã. No entanto, com o bloqueio da ponte, elas não conseguiram atravessar.
“Conseguimos remarcar a prova para a tarde, mas agora estamos aqui na travessia, tentando chegar à escola. É uma situação muito difícil, especialmente para quem tem filhos”, conta.
Segundo Kezia, a travessia de barco não é apenas demorada, mas também arriscada, principalmente para quem precisa levar crianças.
(Milla Andrade e Thays Araujo)