Correio de Carajás

Com greve deflagrada, população cansa de esperar por ônibus

Francisca Santos da Silva, de 42 anos, aguentava nesta manhã, quarta-feira (26), o calor e o cansaço em uma parada de ônibus do Núcleo Marabá. A espera por um ônibus, que já não costuma ser das menores na cidade, chega a triplicar desde a madrugada de terça-feira, quando os rodoviários deflagraram greve por tempo indeterminado.

Foto: Josseli Carvalho

Moradora do Bairro São Félix II e desempregada, ela depende do transporte urbano para locomover, assim como os dois filhos que estudam da Nova Marabá. “Está horrível principalmente para os nossos filhos que estudam um de manhã e outro à tarde. Está horrível para vir e voltar, eles perdem horário, perdem aula, chegam à noite em casa”, declarou.

Ainda de acordo com a mulher, é ainda mais complicado para quem vive para lá da Ponte Rodoferroviária do Rio Tocantins. “De manhã já sai lotado de Morada Nova. Para subir no São Félix já é horrível, já é assim sem greve. Sempre foi ruim, mas com as casinhas populares ficou pior ainda porque encheu muito de gente e não aumentaram os ônibus”, reclama.

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Francisca destaca que se as pessoas quiserem chegar um pouco mais cedo em casa dependem de meios alternativos, como os táxi-lotação. Estes, entretanto, são mais caros. “Sai quase R$ 5 e nem todo mundo tem esse dinheiro”.

Tatiana Santos da Silva, de 27 anos, mora no município de Nova Ipixuna, a 54 Km de Marabá. Para usar certos serviços, como da Caixa Econômica Federal na manhã desta quarta, por exemplo, é necessário se deslocar ao município vizinho.

Tatiana saiu de Nova Ipixuna pra pegar greve em Marabá/ Foto: Evangelista Rocha

Normalmente, ela segue até Morada Nova e de lá encara o transporte público para o centro de Marabá. Desta vez, acabou surpreendida pela greve e já aguardava há cerca de uma hora e meia na parada de ônibus quando foi abordada pela equipe do Portal Correio de Carajás. “Sempre que preciso vir a Marabá eu uso de ônibus e esse de Morada Nova está sempre muito lotado, deveria ter mais ônibus, passar mais rápido, porque a gente espera demais”, comenta.

EMBATE

Enquanto a população segue sofrendo com a quase falta de transporte público – apenas 30% da frota está rodando, especificamente 13 veículos ­-, a discussão entre TCA e Nasson, empresas que estão sob intervenção jurídica e que atuam na cidade, e os 320 funcionários, pouco avançou desde a greve ter sido deflagrada.

Océlio Sousa Barros, secretário de finanças do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviários do Estado do Pará (Sintrasul), afirmou que a empresa não se pronunciou e que o sindicato não sabe o que está acontecendo. “Apelamos ao Poder Público que tem obrigação pelo transporte público, que é de Marabá e não das empresas. Não tem proposta nenhuma da empresa, estamos abertos a ouvir”, declarou na manhã desta quarta.

Ele acrescenta que os funcionários reivindicam salário atrasado desde abril e cestas de alimentação não entregues. “O trabalhador está há mais de três meses sem receber remuneração nenhuma.  A última negociação foi em janeiro, um acordo judicial, e a empresa se propôs a ceder 40% da receita e no começo de fevereiro quitar as dívidas todas com os funcionários, mas não vem cumprindo”.

Do outro lado, o advogado Robert Silva, que representa as empresas, informou à Reportagem nesta tarde que houve reunião pela manhã com parte dos funcionários, na qual as empresas reforçaram proposta já apresentada na ontem, terça, pelo interventor judicial. Foi solicitado prazo de 60 dias para viabilizar aporte financeiro para pagamento do passivo, além de uso de 40% do faturamento para o pagamento. “Mesmo sem concordância a empresa já utilizou 40% da receita para parte dos pagamentos”, afirmou.

Além disso, destaca, as empresas ingressaram com ação junto ao TRT 8 e aguarda despacho solicitando aumento da frota rodando, tendo em vista ter havido, também diminuição de veículos outras categorias rodando em razão da discussão de projeto de lei que regulamenta o transporte por aplicativo.

O Correio de Carajás tentou falar com Jair Guimarães, presidente do Conselho Municipal de Transporte, para questionar de que forma a entidade está acompanhando o caso, mas este não atendeu às ligações. (Luciana Marschall com informações de Josseli Carvalho)