Correio de Carajás

Coleticiste aguda

É a inflamação da vesícula, quase sempre secundária a obstrução calculosa duradoura do ducto cístico e irritação da mucosa local. A bile contida na vesícula biliar obstruída tende a evoluir com proliferação bacteriana, o que agrava ainda mais a inflamação local, podendo ocasionar sintomas sistêmicos.

O quadro pode complicar ainda mais com isquemia e necrose da vesícula, culminando na colecistite gangrenosa. Se houver infecção por germes anaeróbios, com formação gasosa, constitui a colecistite enfisematosa. Também pode ocorrer colecistite sem a presença de cálculos na vesícula – colecistite alitiásica – comum em pacientes internados em UTI.

Os sintomas mais comuns da colecistite aguda são febre, dor em hipocôndrio direito, Sinal de Murphy – durante inspiração, há pior da dor a palpação em hipocôndrio D, anorexia e vômitos, irradiação para região interescapular/ombro direito.

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No diagnóstico, a anamnese e o exame físico muitas vezes são bastante sugestivos do diagnóstico, porém, pode ser necessário o uso de exames complementares para auxiliar no diagnóstico e descartar outras doenças. Pode haver elevação das enzimas hepáticas secundária a inflamação local em 20% a 25% dos casos.

A ultrassonografia é o exame de escolha para confirmar presença de cálculo na vesícula biliar com uma sensibilidade de 85% e especificidade de 95%. Além disso, pode ser encontrado aumento das dimensões da vesícula, espessamento da parede da vesícula (> 5 mm), presença de líquido pericolecístico, debris intravesicular e sinal de Murphy ultrassonográfico.

Em casos atípicos, pode se utilizar a cintilografia, onde se constata a obstrução da vesícula biliar. Tomografia pode ser utilizada, porém, é menos sensível para o diagnóstico em comparação ao ultrassom.

O quadro de colecistite aguda pode evoluir de várias formas, desde um quadro leve, sem repercussões locais e sistêmicas, até quadros fulminantes, com hipotensão, coma, insuficiência renal, coagulopatia e plaquetopenia. As principais complicações da colecistite aguda são: empiema, gangrena, perfuração, perfuração bloqueada, perfuração livre, fistulização.

As condutas na colecistite aguda se dá de acordo com o grau de acometimento em leve, moderado e grave. Leve quando o paciente com alterações inflamatórias leves e sem disfunção orgânica a conduta é colecistectomia videolaparoscópica, e antibioticoprofilaxia.

No grau moderado ocorre leucocitose maior que 18.000, massa palpável em quadrante superior direito, duração dos sintomas maior que 22 horas, inflamação local importante, coleciste gangrenosa, abscesso pericolecístico, abscesso hepático, peritonite biliar, colecistite enfisematosa. A conduta é colecistectomia videolaparoscópica ou colecistectomia aberta, antibióticos por 5 a 7 dias.

No grau grave de colecistite está associada a disfunção orgânica para sepse, comorbidade determinando alto risco cirúrgico e a conduta é colecistostomia percutânea. Da mesma forma os pacientes com risco cirúrgico elevado.

O tratamento inicialmente, o paciente deve permanecer em dieta zero, necessitando de reposição hidroeletrolítica, além de antibioticoterapia de amplo espectro. Também deve-se realizar controle da dor e dos vômitos sintomáticos.

A colecistectomia é o tratamento definitivo, tanto por técnica aberta como por videolaparoscopia, devendo ser realizada na fase inicial da doença, durante a primeira semana. Em caso de quadros arrastados, o tratamento não cirúrgico imediato pode ser uma opção, porém, o paciente deve ser submetido a colecistectomia por volta da sexta semana pós-crise.

Em casos de inflamação intensa local, pode ser optado por colecistectomia parcial (técnica de Thorek) para se evitar possíveis lesões ao ducto colédoco. Em paciente com risco cirúrgico proibitivo, pode ser realizada a drenagem percutânea da vesícula, possibilitando a melhora dos sintomas e postergando a colecistectomia em até seis meses.

 

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.