A colelitíase – termo médico para pedra na vesícula – é a presença de cálculos no interior da vesícula biliar, que armazena a bile, que é produzida pelo fígado. Os cálculos biliares se formam quando o líquido armazenado na vesícula biliar se cristaliza em um material semelhante a uma pequena pedra, embora existam casos de grandes cálculos.
Os cálculos da vesícula biliar são formados a partir da precipitação dos solutos contidos na bile – colesterol, bilirrubina, proteínas – podendo serem classificados em: cálculos de colesterol e cálculos pigmentados.
O primeiro é bem mais comum, correspondendo a cerca de 70% dos cálculos no ocidente, sendo compostos basicamente por colesterol e cálcio. Já os pigmentados são formados da precipitação da bilirrubina produzida a partir do metabolismo da hemoglobina e podem ser subdivididos em castanhos e pretos.
Leia mais:Os cálculos pretos são encontrados nos pacientes cirróticos ou em condições hemolíticas. Já os marrons são encontrados nos ductos biliares são comuns em populações asiáticas e acredita-se que se desenvolvam a partir de infecção bacteriana ou parasitária dos ductos biliares.
Os principais processos envolvidos na formação de cálculos são três: primeiro, aumento da secreção de colesterol e lipídios na bile, o que gera a formação de cristais; segundo, ação de agentes pro nucleares, como glicoproteínas e imunoglobulinas, que também levam à formação de cristais;
E terceiro, a dismotilidade da vesícula biliar, que leva a estase, conferindo tempo para a precipitação dos solutos. Tempo prolongado de jejum, nutrição parenteral total, análogos de somatostatina e vagotomia são condições que podem promover dismotilidade e formação de cálculos.
Em relação a história natural, a maioria dos pacientes são assintomáticos, sendo o diagnóstico realizado durante exame ultrassonográfico solicitado por sintomas de dor ou desconforto no abdome superior. Na ultrassonografia observam-se imagens hiperecogênicas de diâmetros variáveis no interior da vesícula biliar com sombra acústica posterior.
Os sintomas podem ser secundários à obstrução temporária do ducto cístico. O mais comum é a cólica biliar, mais intensa no hipocôndrio direito, região epigástrica e pode se irradiar para a escápula, geralmente após alimentação, principalmente de gorduras. Pode haver também náuseas, vômitos e distensão abdominal. Não há icterícia, febre ou leucocitose.
A colecistectomia em pacientes assintomáticos geralmente não é indicada devido à baixa taxa de complicações nesses pacientes e apenas 20-30% dos pacientes assintomáticos desenvolvem sintomas em um período de 20 anos.
Quando realizar colecistectomia no paciente assintomático? Portadores de anemia hemolítica/anemia falciforme. Vesícula em porcelana. Presença de cálculo volumoso (maior de 2,5 cm). Ducto biliar e pancreático comum longo. Cirurgia bariátrica. Paciente imunocomprometido/transplantados.
Existem alguns fatores de risco preditivos de cálculos biliares. Uma série de condições favorece a formação da colelitíase: sexo feminino, idade maior de 40 anos, obesidade (IMC > 45), parentesco de primeiro grau com doença por calculo biliar, nutrição parenteral total, perda rápida de peso, gravidez, determinados grupos étnicos (nativos americanos, aborígenes, sul-americanos, escandinavos), condições associadas (doença de Crohn, cirrose, fibrose cística), medicamentos (estrogênios, octreotida, ceftriaxona).
O tratamento de escolha da colelitíase é a colecistectomia por videolaparoscopia. Para pacientes com risco cirúrgico proibitivo, pode-se tentar terapia clínica com ácido ursodesoxicólico, dissolução de contato ou litotripsia extracorpórea por ondas de choque, porém, todas com alto grau de recidiva. Durante as crises, o uso de sintomáticos quase sempre está indicado.
* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.