Correio de Carajás

Colangite aguda

Colangite aguda é uma infecção da árvore biliar que constitui uma emergência médica, sendo potencialmente fatal se não tratada imediatamente. Na maioria dos casos, ocorre devido à obstrução biliar por cálculos. Essa síndrome foi descrita pela primeira vez em 1877 por Charcot e o diagnóstico precoce pode oferecer melhor prognóstico.

A colangite aguda é definida como uma infecção bacteriana aguda e ascendente da árvore biliar causada por uma obstrução. A causa mais comum são os cálculos, no entanto, pode se manifestar a partir de qualquer tipo de obstrução, como as neoplasias.

São condições associadas ao surgimento da colangite a proliferação bacteriana no trato biliar e a elevação da pressão dos ductos biliares, o que permite a translocação bacteriana e de endotoxinas no sistema vascular e linfático.

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Habitualmente a árvore biliar é estéril, devido à anatomia competente do esfíncter de Oddi que previne o refluxo de conteúdo intestinal para os ductos biliares. Contudo, na colangite aguda, os ductos biliares tendem a se tornar mais permeáveis à translocação bacteriana e de toxinas, o que ocorre em associação ao aumento da pressão intraductal.

A colangite pode variar de uma forma branda até quadros potencialmente letais com instabilidade hemodinâmica e choque séptico. Por esta razão, o diagnóstico sindrômico é frequentemente suficiente para orientar a conduta terapêutica inicial.

Esse processo resulta em infecção grave e potencialmente fatal. Abscesso hepático e sepse exemplificam complicações da colangite. Para haver desenvolvimento de colangite, dois fatores são necessários: proliferação bacteriana e obstrução de fluxo, com aumento da pressão intraluminal. Os patógenos mais comuns são a Klebsiella, E. Coli, Enterobacter, Pseudomonas e Citrobacter spp.

O quadro clínico da colangite aguda é caracterizada pela tríade de Charcot, a qual inclui icterícia, febre e dor no quadrante superior direito, geralmente não associada a sensibilidade abdominal. Contudo, menos de 50% dos pacientes apresentam clínica com as três manifestações simultâneas.

Outra forma de apresentação é a pêntade de Reynolds, presente quando a infecção começa a se manifestar com choque, sendo adicionados outros dois achados à tríade de Charcot, a alteração do estado mental e a hipotensão.

O diagnóstico além da clínica sugestiva e do exame físico, podemos solicitar como exames laboratoriais a fosfatase alcalina e as transaminases, que estarão com níveis significativamente elevados, indicando lesão hepatocelular e processo infeccioso. O primeiro exame de imagem que deve ser solicitado é a ultrassonografia, que evidencia dilatação da árvore biliar.

A colangiografia por CPRE (Colangipancreatografia Retrograda Endoscopica) ou PTC (Colagiografia Trans-hepática Percutanea) é indispensável, pois é meio de diagnóstico e tratamento por meio da identificação da localização e da causa da obstrução, drenagem da árvore biliar, possibilidade de colher amostra de culturas ou realizar biópsia se necessário.

O tratamento da colangite aguda é feito com hidratação e antibioticoterapia precoce pelo alto risco de evolução para sepse. Entre os patógenos envolvidos encontram-se, Enterobacteriaceae, Enterococcus e anaeróbios.

A associação de antibióticos em protocolos específicos oferece boa cobertura e resultado terapêutico quando utilizados. Para os pacientes que não respondem ao tratamento clínico, é necessário realizar descompressão emergencial da árvore biliar, primeiramente por meios endoscópicos, e, se indisponíveis, por meio da realização da exploração do ducto biliar comum e o posicionamento de um tubo em T.

A intervenção cirúrgica deve ser protelada até a estabilização do paciente, controle da colangite e diagnóstico confirmado, devido à alta morbidade e mortalidade. A colecistectomia deve ser realizada ainda na mesma intervenção após estabilização do quadro.

 

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.