Passados 10 dias desde que circulou um vídeo pelas redes sociais em Marabá, mostrando populares fazendo julgamento sumário de um adolescente acusado de estupro no bairro Francisco Coelho (Cabelo Seco), Velha Marabá, a Polícia Civil conseguiu elucidar parte do caso.
Além do menor, que aparece sendo humilhado e espancado na filmagem, foram apreendidos outros quatro adolescentes, todos acusados de estuprar uma criança de 12 anos de idade. A outra ponta da investigação agora é identificar quem são os justiceiros que estão promovendo uma espécie de poder paralelo no bairro.
Quem está à frente da investigação é a delegada Raissa Beleboni, que responde pela Delegacia Especializada de Atendimento à Criança e ao Adolescente (DEACA). Ela confirma que primeiramente dois adolescentes acusados foram apreendidos pela Polícia Militar, e os outros três foram identificados e apreendidos graças ao depoimento da vítima, que é uma menina de apenas 12 anos de idade e que tem retardo mental.
Leia mais:A delegada chama atenção para o fato de que, embora os adolescentes infratores tenham dito que a vítima consentiu em “ficar” com eles, a idade da menina e também sua condição mental a impedem de tomar essa decisão. “Além de não ter a idade mínima (14 anos), ela não tinha condições de consentir”, reafirma Beleboni, acrescentando que os adolescentes vão responder por ato infracional análogo ao estupro de vulnerável.
“A gente espera que com a medida socioeducativa esses menores percebam que erraram e mudem de vida”, opina a policial, acrescentando que esse episódio é propício para a realização de ações educativas de conscientização nas escolas de Marabá.
PODER PARALELO
Em relação à possível existência de um poder paralelo agindo no bairro mais antigo de Marabá, por pessoas que seriam membros do Comando Vermelho (CV), a delegada diz que tentou identificar quem fez o vídeo, tanto pela fisionomia ou por algum apelido que pode ter sido dito durante a filmagem, mas não conseguiu essa informação ainda, assim como não conseguiu também extrair pistas por parte dos adolescentes que estão apreendidos.
Diante dessa dificuldade, a delegada pede a população que procure o Disque Denúncia para ajudar na investigação. “A gente pede apoio para que as pessoas tenham coragem. A gente sabe que é difícil, que o medo é muito grande, mas podem confiar no Disque Denúncia”, explica.
A FILMAGEM
No vídeo em questão, pessoas que se identificam como moradores do bairro Francisco Coelho, imobilizam um adolescente, em uma das ruas do bairro, acusado de estupro, lhe aplicam algumas bofetadas e chutes e deixam claro que só não vão mata-lo porque a comunidade local pediu para que isso não fosse feito. Chama atenção no vídeo, o fato de que os “justiceiros” se colocam como um poder paralelo no bairro.
O caso se passa na Rua Barão do Rio Branco, já perto das casas populares, próximo à beira do Rio Itacaiúnas. Na filmagem, o narrador afirma que naquela área eles não vão admitir esse tipo de comportamento, ainda mais porque o adolescente acusado teria colocado a culpa em outro morador do bairro.
“Aqui ninguém acoita esse tipo de negócio… Tava (sic) no meio dos irmão, vacilando, estrupou (sic) a menina aí… só não vai morrer porque a comunidade não quer. A comunidade pediu que entregasse pra polícia”, relata o narrador.
No mesmo vídeo, é possível ver, pela sombra, que pelo menos um dos justiceiros está armado com um revólver ou uma pistola. E no final da gravação, outro narrador diz a seguinte frase: “Aqui agora é o crime; aqui agora é tudo ‘dois’; aqui agora é oh!…” e em seguida faz um “V” com o dedo médio e o indicador, repetindo o símbolo usado pelos membros do Comando Vermelho. (Chagas Filho)