O processo da cicatrização das feridas pode ser dividido didaticamente em três fases: inflamatória, proliferativa e de maturação ou remodelagem. No entanto, essas etapas podem se complementar e ocorrer de modo simultâneo dependendo do tecido em que há a lesão.
Podemos dividir também a cicatrização em três tipos que nos permitem uma facilidade maior na abordagem terapêutica das feridas. Cicatrização por primeira intenção, cicatrização por segunda intenção, e cicatrização por terceira intenção. A cicatrização por primeira intenção ocorre quando há uma aproximação dos tecidos com material de sutura ou fitas adesivas após a ocorrência de uma lesão.
Nesse tipo, a cicatrização é mais rápida, gerando uma menor produção de colágeno e consequentemente a formação de uma cicatriz mais fina e com melhor qualidade estética. Alguns exemplos práticos são a cicatriz do parto cesariana ou de uma cirurgia de mamoplastia.
Leia mais:Na cicatrização por segunda intenção há uma cicatrização espontânea do ferimento, não havendo aproximação das bordas com material de sutura ou fita adesiva. Os tecidos são fechados naturalmente, ocorrendo assim uma maior produção de colágeno e um tempo de epitelização prolongado.
Além disso, também temos uma grande ação dos miofibroblastos que são responsáveis pela contração da pele na geração da cicatriz, que acaba por ser esteticamente desfavorável.
E por último a cicatrização por terceira intenção os tecidos são deixados abertos por dias e fechados com suturas se considerados então limpos e assépticos. É indicada para feridas contaminadas. O exemplo disso é o ferimento por mordedura de cães.
Podemos dizer que alguns fatores alteram a cicatrização. O que pode levar a uma mudança no desenvolvimento cicatricial, podendo ser externos e internos. Dentre os fatores externos temos: Infecções, tabagismo crônico, irradiação, mecanismos do trauma e ação de fármacos.
As infecções diminuem o aporte de nutrientes e oxigênio para a ferida, levando ao retardo e a má qualidade da cicatrização. A nicotina, princípio ativo do tabaco, produz alterações sobre os macrófagos, que são células importantes na imunização e limpeza da ferida. Sendo assim, possibilitam um atraso na cicatrização e aumentam as chances de infecções.
A irradiação é conhecida por inibir a divisão celular, o que ocasiona a vasculite e consequente fibrose local. Já o trauma tecidual pode gerar diferentes qualidades de cicatrizes, assim como pode causar danos funcionais.
Em alguns estudos da literatura, nota-se que a cicatrização fetal é capaz de reagir ao trauma com restauração total do tecido, levando a cicatrizes de melhor qualidade, até o início do último trimestre da gestação. Dentre as hipóteses envolvidas nesse processo, a que se destaca é a contribuição do líquido amniótico presente.
Os fármacos podem alterar a cicatrização, principalmente os corticoides e retinóides, como a isotretinoína. Os corticoides são conhecidos por gerarem uma atrofia cutânea e formação de estrias, alterando o perfil da cicatriz. Outro exemplo é a D-penicilamina, um quelante de cobre, que age inibindo a polimerização das células de colágeno e consequentemente levando à piora cicatricial.
Dentre os fatores internos podemos ter a desnutrição, a presença de patologias prévias e anemia. A desnutrição relacionada principalmente às carências vitamínicas. Podemos destacar o déficit de vitamina C (como no escorbuto), que favorece a má cicatrização e cria uma tendência à deiscência ou alargamento da cicatriz. Já a vitamina A, por ser uma estabilizadora de membrana celular, age como antídoto aos corticoides, levando à reversão da ação maléfica dos mesmos sobre a cicatrização.
Em relação a presença de patologias prévias, uma doença muito frequente e de importante destaque é o diabetes mellitus, responsável por prolongar o tempo de cicatrização pela vasculopatia envolvida na patogênese da doença.
Por outro lado, a anemia ocasiona uma baixa distribuição de oxigênio para a região da lesão pela baixa quantidade de hemoglobina, contribuindo para uma pior cicatrização.
* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
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