Correio de Carajás

Câncer de ovário

Foto: Divulgação

Anualmente, nos EUA, cerca de 21.290 novos casos são diagnosticados e 14.180 mulheres morrem de câncer de ovário. A maioria das massas ovarianas detectadas incidentalmente em mulheres em idade fértil é finalmente diagnosticada como cisto ovariano que melhora em 1 a 3 ciclos menstruais.

A incidência começa a aumentar na quinta década de vida, com pico na oitava década. O risco é maior nas nulíparas e reduzido pelas gravidezes (redução de cerca de 10% a cada gestação) e pelo uso de contraceptivos orais. Cerca de 5% dos casos têm origem familiar. As mutações em BRCA-1 e BRCA-2 predispõem as mulheres a cânceres de mama e ovário.

Diferentemente do câncer de cólon, não parece haver uma evolução em etapas para o carcinoma de ovário. Os cânceres de ovário também podem ocorrer na síndrome de Lynch, câncer colorretal hereditário não ligado à polipose, por mutações nos genes que reparam defeitos de DNA. O subgrupo de mulheres com histologia endometrioide costuma apresentar uma mutação em ARID1A, um componente do complexo de reparo do DNA.

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Não há comprovação de benefícios com o rastreamento de mulheres com risco médio. O câncer de ovário hereditário responde por 10% dos casos. As mulheres com mutações em BRCA-1 ou -2 devem considerar a possibilidade de salpingooforectomia bilateral profilática em torno dos 40 anos.

A maioria das pacientes se apresenta com quadro de dor abdominal, distensão, sintomas urinários e ganho ponderal indicativos de disseminação da doença além da pelve. O câncer de ovário localizado costuma ser assintomático, sendo detectado ao exame rotineiro da pelve como massa dura palpável em topografia de anexos.
As massas em anexos detectadas em mulheres após a menopausa têm maior chance de serem patológicas, devendo ser removidas cirurgicamente. Os níveis séricos do CA-125 são ≥ 35 U/mL em 80 a 85% das mulheres com câncer de ovário, mas outras doenças podem causar este aumento.

Cerca de 50% dos tumores ovarianos são benignos, 33% são malignos, e o restante consiste em tumores com baixo potencial de malignidade. Essas lesões limítrofes apresentam características citológicas de doença maligna, mas não são invasivas.

Os tumores epiteliais malignos podem ser de cinco tipos diferentes: seroso (50%), mucinoso (25%), endometrial (15%), de células claras (5%) e tumor de Brenner (1%, derivados do urotélio ou epitélio transicional). Os 4% restantes são tumores do estroma ou de células germinativas que são manejados como o câncer de testículo masculino. O grau histológico é um fator importante para o prognóstico nas variedades epiteliais.

A extensão da doença é determinada por meio de um procedimento cirúrgico que permita a inspeção visual e manual das superfícies peritoneal e diafragmática. Deve-se proceder à histerectomia abdominal total, salpingooforectomia bilateral, omentectomia parcial, coleta de amostras dos linfonodos pélvicos e para-aórticos, bem como de lavados peritoneais. O sistema de estadiamento e sua influência na sobrevida. Cerca de 23% das pacientes são classificadas no estágio I; 13%, no estágio II; 47%, no III; e 16%, no IV.

As pacientes com doença no estágio l, sem resíduo tumoral após a cirurgia e com tumores bem ou moderadamente diferenciados não necessitam de tratamento complementar após a cirurgia e têm sobrevida em 5 anos maior que 95%.

Para as pacientes no estágio II com ressecção total do tumor e as pacientes no estágio I com grau histológico desfavorável, a terapia adjuvante apenas com cisplatina ou cisplatina mais paclitaxel produz uma sobrevida em 5 anos de 80%. No caso de doença volumosa, tenta-se a máxima citorredução cirúrgica.

Nos casos em que não há doença macroscópica residual, a sobrevida média é de 39 meses. No caso de tumor visível residual, é de 17 meses. A quimioterapia administrada antes da cirurgia definitiva (neoadjuvante) pode aumentar a porcentagem de pacientes cuja doença macroscópica é ressecável.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.