Correio de Carajás

Cálculos e Colecistite Crônica

A colecistite crônica é a forma mais comum de doença sintomática da vesícula biliar e está associada a cálculos biliares em quase todos os casos. Em geral, o termo colecistite aplica-se sempre que estejam presentes cálculos (pedras) biliares, independentemente do aspecto histológico da vesícula biliar.

Intolerância a alimentos gordurosos, dispepsia, indigestão, azia, flatulência, náusea e eructações são outros sintomas associados aos cálculos biliares. Como também são frequentes na população geral, sua presença em qualquer paciente pode ter relação incidental com os cálculos biliares.

A vesícula biliar de pacientes sintomáticos com cálculos biliares que nunca tenham tido crise de colecistite aguda pode ser de dois tipos: (1) algumas têm a mucosa ligeiramente aplanada, mas suas paredes são finas e sem fibrose e, exceto pelos cálculos, têm aspecto normal; (2) outras apresentam sinais evidentes de inflamação crônica, com espessamento, infiltração celular, perda de elasticidade e fibrose.

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A cólica biliar, sintoma mais característico, é causada por obstrução transitória do ducto cístico por cálculo. Em geral, a dor inicia de maneira abrupta e desaparece gradualmente, durando poucos minutos a algumas horas. A dor da cólica biliar geralmente é constante e não intermitente como a da cólica intestinal.

Em alguns pacientes, as crises são pós-prandiais; em outros, não há relação com as refeições. A frequência das crises é muito variável, desde um problema praticamente contínuo até episódios com intervalos de muitos anos. Náusea e vômitos podem acompanhar a dor.

A cólica biliar geralmente é sentida no quadrante superior direito, mas a dor epigástrica e no lado esquerdo do abdome é comum, e alguns pacientes podem queixar-se de dor precordial. A dor pode irradiar-se ao redor da borda costal para as costas ou pode ser referida à região da escápula. A dor no alto do ombro não é comum e sugere irritação direta do diafragma.

Em uma crise intensa, o paciente geralmente se contorce na cama e muda frequentemente de posição, tentando se sentir mais confortável. Durante a crise, é possível haver sensibilidade dolorosa à palpação do quadrante superior direito, e raramente a vesícula biliar será palpável.

O primeiro exame complementar deve ser a ultrassonografia da vesícula biliar. É possível demonstrar a presença de cálculos biliares em cerca de 95% dos casos, e resultados positivos para cálculos biliares quase nunca estão errados. Cerca de 2% dos pacientes com cálculos biliares têm exame ultrassonográfico normal.

Portanto, se houver suspeita clínica fundamentada de doença da vesícula biliar e dois exames forem negativos, o paciente deve ser examinado com CPER (para contrastar a vesícula biliar na busca por cálculos) ou com intubação do duodeno para exame da bile duodenal para identificação de cristais de colesterol ou de grânulos de bilirrubinato.

O diagnóstico de cólica biliar é fortemente sugerido pela história, mas a impressão clínica deve sempre ser confirmada por exame de ultrassonografia. A cólica biliar pode simular a dor de úlcera duodenal, hérnia de hiato, pancreatite e infarto do miocárdio.

Pode-se indicar estudo radiológico contrastado do trato gastrintestinal para afastar espasmo de esôfago, hérnia de hiato, úlcera péptica ou tumor gástrico. Em alguns pacientes, a síndrome do colo irritável pode ser confundida com desconforto da vesícula biliar. Os carcinomas de ceco ou do colo ascendente podem passar sem diagnóstico, presumindo-se que a dor pós-prandial desses tumores seja causada por cálculo biliar.

A colecistite crônica predispõe a colecistite aguda, cálculo no ducto colédoco e adenocarcinoma da vesícula biliar. Quanto maior for o período de permanência dos cálculos, maior será a incidência dessas complicações. Contudo, as complicações são raras e a presença de cálculos biliares não é razão suficiente para colecistectomia profilática em indivíduos assintomáticos ou levemente sintomáticos.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.