Correio de Carajás

Cadeiras vazias marcam lugar para as 120 fichas da Caixa em Marabá

As agências bancárias só abrem nesta segunda-feira, dia 4, mas o final de semana foi movimentado em frente às agências da Caixa na Cidade Nova e Marabá Pioneira (menos na Nova Marabá). Várias pessoas dormiram na fila para enfrentar uma aglomeração favorável à transmissão do novo coronavírus e, ao mesmo tempo, garantir uma das 120 fichas de atendimento para auxílio emergencial nesta segunda-feira, dia 4 de maio.

E os lugares na fila começaram a ser marcados por cadeiras, puff, pedaços de papelão, capacetes, escrita do nome no chão com carvão e até mesmo uso de correntes e cadeados. E muitas dessas pessoas que marcaram lugar foram para casa e só retornaram na noite deste domingo, para garantir o espaço na fila.

Sidney Alves Costa chegou por volta de 8 horas da manhã de domingo na fila da agência da Caixa na Marabá Pioneira, onde já encontrou lugares marcados por outras pessoas. Ele veio da Vila Cruzeiro do Sul, zona rural da região do Rio Preto, e disse que chegou a Marabá na quinta-feira da semana passada para tentar receber o auxílio emergencial. “Minha esposa fez o Bolsa Família, foi aprovado, mas a gente não recebeu o cartão. Viemos aqui para ver se recebemos”.

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Sentado, ao fundo, Sidney chegou à fila na manhã de domingo para garantir atendimento nesta segunda-feira, na Marabá Pioneira

Aos 24 anos de idade, Sidney diz que tem apenas uma filha de um ano e seis meses de idade e que o auxílio vai ajudá-lo muito neste período de pandemia, porque ele trabalha produzindo cadeiras e as vendas estagnaram nas últimas semanas.

O rapaz conta que foi primeiro à agência da Cidade Nova, tendo chegado às 5 horas da manhã de sexta-feira, mas havia mais de 300 pessoas a sua frente na fila. Os funcionários da Caixa informaram que as fichas tinham acabado, porque eram apenas 120 por dia. “E fomos embora. Por isso, vim para a Velha Marabá, na esperança de que vamos ser atendidos nesta segunda-feira. A gente espera que seja R$ 1.200,00, porque eu também estou inscrito no programa”, disse ele.

Na agência da Cidade Nova, a fila era maior ainda durante o domingo. Dezenas de pessoas passaram o dia entre os bancos da Praça São Francisco e a fila, propriamente dita.

Tá valendo tudo: nomes escritos com carvão no chão também são “respeitados” na fila de quem se expõe para receber o auxílio emergencial.

Lá, José Francisco Cardoso Freitas passava o tempo para garantir o lugar ao sol e poder receber uma das 120 fichas nesta segunda-feira. Disse que mora no Bairro São Miguel da Conquista e chegou à fila no início da manhã de ontem, mas revelou que estava lá para ajudar uma vizinha, porque o cadastro dele não foi aprovado ainda. “Vou dormir aqui. A Caixa deveria distribuir logo as fichas para a semana inteira”, sugere.

Disney Ferreira Mesquita, que mora no Bairro da Paz, também “domingou” na fila da Caixa na Cidade Nova, mas disse que chegou no sábado, às 14 horas, para ter certeza que seria atendido entre os primeiros nesta segunda-feira. Ele pediu que a Prefeitura de Marabá tenha compaixão das pessoas que estão aglomeradas e instale banheiros químicos ali ao lado, feche a rua em frente à agência bancária e disponibilize bebedouros também, como está acontecendo em outras cidades do País. “Acho que deveriam colocar uma pia para a gente higienizar as mãos por causa do coronavírus”, pediu ele.

Na noite em que passou na fila, ele diz que revezou entre a cadeira e o banco da Praça São Francisco. “De domingo para segunda eu pedi para meu cunhado ficar aqui pra mim, porque sei que não vou dar conta de ficar duas noites sem dormir”, disse.

Luciete Pereira Rodrigues e José Carlos Torres chegaram à fila na tarde de sexta-feira e passaram o final de semana todo na porta da agência da Caixa

Também moradores do Bairro da Paz, o casal Luciete Pereira Rodrigues e José Carlos Torres ocupavam um dos lugares privilegiados na fila da agência da Cidade Nova na manhã de domingo. Mas contaram que, para ficar entre os dez, chegaram à porta da agência da Caixa na sexta-feira à tarde. “O meu foi rejeitado e o da minha esposa deu tudo certo. Viemos aqui para receber o dela, pelo menos, porque sou pedreiro e estou sem poder trabalhar por causa de uma cirurgia. Estamos aqui arriscando a vida, porque até já mataram uma pessoa nessa fila na noite de sexta”, conta José Carlos Torres.

SALVE O BOLSA FAMÍLIA!

Ao sair de casa, em São Domingos do Araguaia, a 55 km de Marabá, para enfrentar uma aglomeração favorável à transmissão do novo coronavírus, Raquel sabia que o auxílio solicitado pela internet havia sido negado.

Mas a recente aprovação do seu cadastro para outro benefício, o Bolsa Família (cujo valor máximo é de R$ 205), ainda tornava necessária a ida ao banco.

Quando chegou ao guichê para realizar o saque, ela descobriu que constava em sua conta um auxílio emergencial de R$ 1.200, valor destinado a mães que, assim como Raquel, são chefes de família. “Eu fiquei surpresa quando chegou a minha vez de sacar e percebi que tinha R$ 1.200.” A conversão do Bolsa Família em auxílio emergencial se dá de forma automática nos casos em que há o direito e a substituição é vantajosa para o beneficiário. (Ulisses Pompeu)