O nome dela é Kátia da Costa Valdenilson, mas pode chamá-la de “Guerreira sem Flecha”. É com a voz, autoridade e insistência que a cacique do povo Akrãtikatêjê – aldeia localizada a 8 km de Morada Nova, em Marabá – luta todos os dias. Sua comunidade tem menos de 100 habitantes, mas é uma das mais destacadas entre as 16 existentes na Terra Indígena Mãe Maria, localizada oficialmente em Bom Jesus do Tocantins, mas enraizada em Marabá.
Kátia, na verdade é Tônkyre Akrãtikatêjê (na língua Jê-Timbira), e diz que anda pintada em todos os lugares por onde anda para mostrar que está sempre na luta pelos interesses de seu povo. Nesta quinta-feira, dia 14, enquanto se reunia com representantes do IBAMA em sua comunidade, Kátia recebeu a visita da juíza Renata Guerreiro Milhomem de Souza, titular da 1ª Vara Criminal da Comarca de Marabá; da promotora do Meio Ambiente, Josélia Leontina de Barros; e da presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, Vanda Régia Américo Gomes.
E foi exatamente Vanda quem anunciou para Kátia que o prefeito Tião Miranda havia autorizado a abertura de um poço artesiano em sua aldeia, cujas obras deverão iniciar nos próximos dias. Ao ver o documento assinado pelo gestor municipal, Kátia não se conteve e foi às lágrimas. Agradeceu em nome do seu povo e revelou que os indígenas Akrãtikatêjê estavam há três dias sem água porque a bomba do poço simples havia sofrido uma pane.
Leia mais:“Não podemos mais consumir a água do Rio Flecheira porque está contaminada. Para o meu povo poder beber, estamos comprando água. Uma coisa que a gente nunca imaginou que aconteceria”, lamentou Kátia.
A cacique disse que a falta de água tem causado graves problemas, como a paralisação das aulas para crianças e jovens de sua aldeia. Disse, ainda que o pequeno poço existente não jorra água suficiente para atender as demandas da comunidade. “Esse poço que será cavado é um sonho de todos nós. Não tenho palavras para agradecer ao prefeito Tião Miranda e à Vanda, que ouviu nosso clamor e, mesmo sem prometer nada, trouxe a solução agora”.
Vanda, por sua vez, disse que o potencial de ecoturismo da comunidade Akrãtikatêjê sensibilizou a promotora Josélia Leontina de Barros, o prefeito Tião Miranda e até a juíza Renata Guerreiro. “Essa aldeia está na fronteira de Marabá e tem recebido muitos turistas de nossa cidade. Queremos que ela se fortaleça ainda mais. Kátia é uma guerreira que luta em prol das necessidades de seu povo permanentemente. Fica difícil não ajudar uma pessoa assim. Esta aldeia é exemplo de comunidade que luta pela sustentabilidade”, destacou.
A juíza Renata Guerreiro observa que a comunidade Akrãtikatêjê foi agraciada com o poço artesiano porque apresentou práticas sustentáveis por meio de projetos que estão em andamento. “Temos aqui um exemplo bastante motivador para todos nós e para outros povos indígenas”, elogiou.
Em tom de desabafo, Kátia disse que vários invasores estão roubando parte da castanha-do-pará da Terra Indígena Mãe Maria e que ela já foi ameaçada de morte várias vezes por enfrentar e lutar contra essa prática. “Dizem que tenho um preço. Mas se eu não lutar, quem vai lutar por nós? Estão tentando me intimidar porque estão roubando nossas terras”, reclamou. (Ulisses Pompeu)