O botulismo é doença de notificação compulsória. Pela gravidade da doença e possibilidade de ocorrência de outros casos relacionados à mesma fonte, é considerado emergência de saúde pública.
Há 5 formas de aquisição da doença: pelo consumo de alimentos que contenham a toxina botulínica; por toxina proveniente de ferida infectada por C. botulinum; pelo consumo de esporos de C. botulinum, que proliferam no intestino e liberam toxina (geralmente em lactentes).
Também colonização intestinal de C. botulinum no adulto, em geral com alterações gastrintestinais; e iatrogênica, pela overdose acidental de toxina botulínica. Uma vez na corrente sanguínea, a toxina atinge as terminações nervosas, na membrana pré-sináptica da junção neuromuscular, bloqueando a liberação de acetilcolina.
Leia mais:Para o diagnóstico de botulismo, é fundamental uma minuciosa anamnese, buscando fatores de risco, tempo de início e progressão dos sintomas. Na suspeita de botulismo alimentar, devem ser avaliados alimentos ingeridos nos últimos 3 dias e, se possível, até 10 dias.
Deve ser abordada a existência de outros casos, buscando uma fonte comum. Outros fatores de risco, como ferimentos, picadas de insetos, viagens, exposição a agentes tóxicos, uso de drogas injetáveis, também devem ser interrogados.
Ao exame físico, sinais de desidratação, distensão abdominal e dispneia podem estar presentes. Em casos graves, pode haver bradicardia e hipotensão. Exame neurológico completo, incluindo avaliação de nervos cranianos, força muscular, sensibilidade e reflexos profundos, é essencial.
Quanto aos exames complementares, a eletroneuromiografia demonstra o comprometimento da junção neuromuscular, utilizada para afastar diagnósticos diferenciais. O diagnóstico laboratorial baseia-se na detecção de toxina botulínica e no isolamento de C. botulinum em cultura das amostras.
Diagnósticos diferenciais de paralisia flácida aguda incluem síndrome de Guillain-Barré (SGB), miastenia gravis, síndrome de Lambert-Eaton, acidente vascular cerebral (AVC), trauma craniencefálico (TCE), encefalite, neuropatia diftérica, lesões intracranianas, uso de aminoglicosídeos, intoxicação (atropina, escopolamina, organofosfatos, monóxido de carbono).
Devem ser coletadas amostras de todo caso suspeito, antes da administração do soro antibotulínico. Na suspeita de botulismo alimentar, deve-se coletar todos os alimentos suspeitos (amostras bromatológicas), que serão avaliados pela investigação epidemiológica.
A análise quanto à presença de toxina se classifica em: resultado presuntivo (presença de toxina termolábil que causa sintomas compatíveis com botulismo), confirmatório (presença de toxina botulínica), específico (presença e identificação do tipo de toxina botulínica) e negativo (ausência de toxina botulínica).
A coleta de amostra clínica deve ser feita precocemente e, se possível, antes da administração do soro antibotulínico, para evitar a neutralização da toxina. Dependendo da apresentação clínica, deve ser coletado um diferente tipo de amostra, cada qual com um prazo para coleta. O tempo de transporte não deve ultrapassar 48 horas.
Soro: A coleta deve ser feita em até 7 dias após o início dos sintomas, em quantidade para obter 11 ml de soro. Conteúdo gástrico/Fezes: Deve ser coletada mínimo de 15 g de amostra, em até 72 horas após a suspeição clínica (ou até 6 dias, em lavado intestinal, se houver constipação intestinal). Material de ferimentos: A coleta deve ser feita com swab na região mais profunda do ferimento.
Amostras bromatológicas: Coletar todas as sobras e restos dos produtos efetivamente consumidos, evitando transferência para outro recipiente. A positividade indica fortemente que outras unidades podem estar contaminadas, ao passo que a negatividade não descarta essa possibilidade.
Deve ser feita notificação imediata de caso suspeito à CCIH e/ou Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do hospital, para que seja providenciado o tratamento específico com SAB junto à Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.