Correio de Carajás

Bertin di Carmelita lança novo livro nesta sexta-feira

Quase todo poeta teve, antes de tudo, uma infância feliz. E volta e meia retorna a ela, seja de forma direta ou até mesmo por meio de trecho sutis de seus poemas. E Adalberto Marcos da Silva – mais conhecido como Bertin di Carmelita – não faz nenhuma cerimônia sobre isso. Tanto que dedicou a capa de seu mais novo livro “Fazenda Alegria” à memória que tem do contexto bucólico onde ele cresceu, em Belo Jardim-PE.

A nova obra será lançada em meio a um sarau-lítero musical às 20 horas desta sexta-feira, 17, no SESC, em Marabá. A obra tem 104 páginas e traz uma variedade de poemas, muitos deles relacionados a sua Infância. Foi impresso pela Editora Leve e estará à venda pelo valor de R$ 30,00. “A maior parte dos exemplares impressos já foi vendida antecipadamente. Fiquei impressionado com o encanto e favorecimento de amigos” diz ele, humildemente.

Embora tenha chegado a Marabá em 1986, o sotaque de Bertin di Carmelita denuncia sua origem pernambucana. Questionado pela Reportagem do Correio sobre a origem do nome artístico, ele revela que o nome de sua mãe era Carmelita e havia um “doido” (pessoa que vive além da fronteira da razão) que o chamava de Bertin (forma abreviada de Adalberto) di Carmelita.

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Quando soube que o “doido” morreu, Adalberto recebeu a notícia com tristeza e passou a assinar seus poemas, dali para frente, como Bertin di Carmelita. A antonomásia pegou e hoje ele é mais conhecido assim do que pelo nome de batismo.

O poeta conta que vários de seus poemas já foram transformados em canções, inclusive pelo amigo e parceiro Clauber Martins, um cantador participante de festivais de música.

Bertin é presidente da Associação dos Escritos do Sul e Sudeste do Pará (AESSP), além de ser membros de três academias de Letras e ter publicado o livro “Saudade Presente” e poemas em várias antologias.

Ao analisar o contexto da valorização das obras literárias que são produzidas em Marabá, Bertin pondera que falta mais valorização por parte do poder público, que deveria fazer uma seleção técnica para adquirir obras que tenham relevância para os estudantes do município.

A seguir, acompanhe o poema Rio-Mar, premiado pela Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará, em 2015:

 

Rio-Mar

 

Rio que lava a alma

Lava a roupa e lava o cais

Rio que leva o ais

De um coito no seu leito

 

Rio que às margens inunda

Que as vazantes fecunda

Também meus olhos…

Meu peito.

 

Panorama inopinado

Intrínseco pra vida

Barco, barqueiro e barranca

Que às vezes se espanta

Com a sua insurgência

 

Onde antes era transparência

Tranquilidade e bonomia

Rio, que em outra ria

Rio de todos os dias

 

Rio de pesca, banhos e afins

Rio de pescadores, trovadores

Rio de lavadeiras, cunhatãs e curumins.

 

Rio de comunicação e transporte

De histórias nem sempre com “H”

De entidades e lendas fortes

A lhe proteger ou assombrar

 

E nas horas em que o sol se deita

E que a lua vem se banhar

Então, tacitamente segue o seu caminho

Abraçando outros rios

Igarapés, córregos e riachinhos.

 

E assim lá se foi o Tocantins

Derramar suas lágrimas (águas)

Dentro do grande Rio-Mar.