Correio de Carajás

Aula marca início do curso de Licenciatura Intercultural Indígena

O novo curso objetiva a formação e habilitação de professores/pesquisadores indígenas

Na última semana a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) realizou a aula inaugural do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena: Habilitação em Linguagens – Ensino de Línguas em Contextos Bi/Multilíngues. A aula ocorreu na Aldeia Gorotire, em Cumaru do Norte (PA), e teve como objetivo promover o acolhimento dos calouros e apresentar o curso.

Criada no âmbito do Programa Nacional de Fomento à Equidade na Formação de Professores da Educação Básica (Parfor Equidade), a partir do Edital nº 23/2023, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a licenciatura conta com a parceria com a Prefeitura de Cumaru do Norte e está vinculado ao Instituto de Instituto de Linguística Letras e Artes (ILLA) da Unifesspa.

O novo curso objetiva a formação e habilitação de professores/pesquisadores indígenas para o exercício docente no Ensino Fundamental e Médio na área da Linguagem, com vistas ao ensino e à aprendizagem da Língua Mebengokré como primeira língua (L1) e da Língua Portuguesa como segunda língua (L2), conforme a realidade sociolinguística e a diversidade sociocultural do povo Kayapó.

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Durante a mesa de abertura, a coordenadora local do programa, Ildete Almeida Glória, deu boas-vindas e parabenizou os estudantes pela aprovação no seletivo. Ela mencionou, ainda, o desafio da permanência e a importância do curso para esse povo. Na oportunidade, a coordenadora do curso, Profa. Dra. Rosimar Regina Oliveira, fez um discurso em que abordou as dificuldades encontradas pelos povos indígenas que não têm a Língua Portuguesa como língua materna.

De acordo com a professora, ao ingressarem na universidade, esses indígenas têm que conviver com outro funcionamento linguístico e sócio-histórico diferente do seu. Com isso, acabam tendo que abrir mão da sua cultura, das suas tradições, da convivência com o seu povo. “Este curso vem romper com este funcionamento, pois este povo não precisará se submeter a essas adversidades, uma vez que o curso será ofertado na própria aldeia, partindo da língua, da cultura, das tradições deste povo”, declarou Rosimar.

Já a Profa. Dra. Maura Pereira dos Anjos, coordenadora Institucional do Parfor – Unifesspa, prestou homenagens a Tuíre Kaiapó pela luta em defesa do território e mencionou a importância dos frutos dessa luta, como o direito à educação escolar indígena, cuja expansão propicia hoje ações de formação de professores, como a oferta deste Curso, via Parfor Equidade, para este povo.

A Secretária de Educação, Augusta Elias Pereira de Souza Martins, reafirmou o compromisso da Semed em construir e manter essa parceria no atendimento às demandas da Educação Escolar Indígena com a Unifesspa, via Parfor Equidade, para garantia da ampliação do direito à Educação Superior, fortalecendo a língua e a cultura Kayapó.

Em seu pronunciamento, o reitor, Prof. Dr. Francisco Ribeiro da Costa, afirmou o compromisso da Unifesspa com este Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, que concretiza uma ampliação da área de atuação da Instituição no Sul do Pará. “Estamos contemplando as históricas demandas dos povos indígenas e, assim, possibilitando a formação inicial de professores, na Língua Kayapó”, disse.

Os Caciques Bepydji Kayapó e Beptum Kayapó falaram da alegria da chegada do curso e da universidade na aldeia, principalmente pelo fato de ser ofertado dentro da própria aldeia e por viabilizar a eles aprenderem a escrever na própria língua e a produzirem materiais para promover a Educação Escolar Indígena na própria aldeia. Os Caciques agradeceram aos professores da Unifesspa e à Prefeitura Municipal de Cumaru do Norte pela realização do curso e pediram aos alunos que seaula inaugural3 dediquem aos estudos e não desistam.

Formando em Licenciatura Intercultural Indígena, pela UEPA, o prof. Beko Kayapó fez a fala de encerramento da aula inaugural. Beko destacou a importância do Ensino Superior para o povo Kayapó e afirmou que o curso possibilitará a eles se tornarem professores das suas crianças e dos seus jovens, a ensinarem a língua do seu povo e a Língua Portuguesa na sua aldeia, a partir da sua cultura, das suas tradições. “Isso tem grande relevância para o reconhecimento do nosso povo. Teremos dificuldades, mas é necessário persistir, pois a formação superior abre muitas portas”, disse.

Após as falas, a mesa foi desfeita e os estudantes receberam os kits de calouros com material didático, 1 livro, caderno, camisetas e squeeze da Unifesspa e da SEMED, seguido de um lanche e de uma reunião com os professores na Escola Kranhok, onde ocorrerão as aulas.