O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza hoje, quarta-feira, 17, na Curva do S da Rodovia BR-155, em Eldorado do Carajás, ato em celebração aos 23 anos do confronto que aconteceu em 1996 entre integrantes do movimento e policiais militares, resultando na morte de 19 sem-terra.
O episódio ficou conhecido mundialmente como o Massacre da Curva do S e em todos os anos são realizados no local atos para lembrar a data, considerada um marco na luta pela terra.
Além de Eldorado, os movimentos de luta pela terra também realizam em todo o País ações em memória dos que perderam a vida na luta pela reforma agrária. Na curva do S, as manifestações começaram por volta de 6 horas, com o fechamento da BR-155.
Leia mais:Ainda pela manhã, foi celebrada missa seguida de encenações lembrando o confronto. A programação alusiva à data seguiu até 13 horas. A pista da BR no local é liberada a cada 19 minutos de interdição, em referência às 19 vítimas.
Participam do ato lideranças dos movimentos de luta pela terra e sobreviventes do massacre. Alguns carregam no corpo e na alma cicatrizes do confronto, que teve ampla repercussão mundial. De acordo com Maria Raimunda, que faz parte da coordenação estadual do MST, a agenda alusiva ao 17 de Abril, chamada de Abril Vermelho, começou no dia 10 com o 14º Acampamento da Juventudes Sem Terra Osiel Alves Pereira.
Ela explica que o acampamento é uma atividade dos jovens ligados ao movimento nos estados do Pará, Maranhão e Tocantins. “Desde esse dia, no fim da tarde, a gente fecha a pista por 19 minutos e realizamos ato em memória aos trabalhadores massacrados”, ressalta Maria Raimunda, observando que o acampamento será desmobilizado hoje, após o término do ato.
A líder sem-terra chama as pessoas que morreram de mártires da luta pela reforma agrária no País. “Eles foram mortos covardemente”, pontua.
Maria observa que o Brasil lidera a triste lista de países que mais mata trabalhadores rurais em todo o mundo. “E o Estado do Pará é o campeão nacional de morte no campo. E nós fazemos esse ato, todo ano, para lembrar a memória de todos que tombam lutando por um pedaço de chão”, frisa a líder sem-terra, observando que a impunidade tem sido o principal combustível dos crimes no campo.
“Os fazendeiros têm a certeza da impunidade e, por isso, continuam promovendo e financiando o crime no campo”, apontou, dizendo que o movimento vai seguir na luta.
“Depois dos atos, vamos para nossas casas, mas seguimos mobilizados sempre em luta pela terra, para tentar reduzir as desigualdades no Brasil dos latifúndios”, avisou.
Sobrevivente do massacre, José Carlos Moreira lembra cada detalhe daquele 17 de abril de 1996. Os integrantes do MST fecharam a pista da então PA-150 em reivindicação à desapropriação da fazenda Macaxeira.
A Polícia Militar foi para o local negociar a desocupação da rodovia e acabou havendo o confronto. A fazenda Macaxeira foi depois desapropriada e hoje é o Assentamento 17 de Abril, em Eldorado do Carajás.
Segundo José Carlos, a cena foi de terror. O camponês lembra dos amigos que morreram e dos muitos que ficaram feridos, como ele, que até hoje tem uma bala alojada na caixa craniana. “Foi um terror. Um massacre mesmo. Ali também estavam mulheres e crianças, que ficaram na linha de tiro”, recorda.
Por muito tempo participando da coordenação do MST no Pará, Eurival Martins, o Totô, hoje secretário de Produção Rural de Parauapebas, diz que é preciso maior atenção do governo federal para a reforma agrária. Ele enfatiza que só a divisão justa da terra pode reduzir a desigualdade social gritante que existe no Brasil. “É uma pena que os poucos avanços que tiveram na reforma agrária tenham sido à custa de muito sangue”, ressalta do Totô. (Tina Santos – com informações de Ronaldo Modesto)