Correio de Carajás

Aspectos históricos do diabetes mellitus

A primeira referência ao diabetes foi encontrada no Papiro Ebers, descoberto pelo alemão Georg Ebers em 1872, no Egito. Conhecido como o primeiro documento a fazer referência a uma doença que se caracterizava por emissão frequente e abundante de urina, quando eram sugeridos tratamentos à base de frutos e plantas. Acredita-se que este documento tenha sido elaborado em torno de 1500 a.C.

Mas, atribui-se a Arateu, discípulo de Hipócrates (século II d.C.), a denominação de diabetes dada à doença. Trata-se de palavra de origem grega e a maioria dos lexicógrafos e dos autores que escrevem sobre diabetes dão a esta palavra o significado de sifão, e explica-se pelo fato de que a poliúria, que caracterizava a doença, assemelhava-se “à drenagem de água através de um sifão”.

Posteriormente, Cullen, em 1769, sugeriu o termo mellitus (mel, em latim), diferenciando os tipos de diabetes em diabetes mellitus, caracterizado pela urina abundante com odor e sabor de mel. E diabetes insipidus, com urina também abundante, clara, e não adocicada. Dessa forma, o termo “diabetes”, que também significa “fonte” (da urina), chamada de “urina de mel”, isto é, o diabetes mellitus, era uma condição distinta de outras formas de poliúria.

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As primeiras evidências de que uma substância poderia controlar a glicosúria surgiram em 1908, através de pesquisas feitas pelo cientista alemão Georg Zuelzer, que desenvolveu o primeiro extrato pancreático injetável que suprimiu a glicosúria, porém diante de muitos efeitos adversos, não houve seguimento.

O grande marco de descoberta da insulina ocorreu em Toronto, no Canadá, em 1921, pelo médico ortopedista Frederick Banting e o estudante Charles Best, no laboratório do fisiologista JJR MacLeod. Em estudos experimentais com cães, descobriram e isolaram a insulina.

Em 11 de janeiro de 1922, clínicos do Toronto General Hospital prescreveram de modo injetável 15 ml de extrato pancreático a um paciente com diabetes, Leonard Thompson de 14 anos de idade, em estado de profunda caquexia com importante melhora clínica e metabólica. Em 1923, Banting, Best e Macleod receberam do Nobel Committee of the Caroline Institute, o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia.

Com a descoberta da insulina e o conhecimento de que os pacientes com diabetes responderam às injeções de insulina, uma única causa, ou seja, a deficiência de insulina, por um tempo, tornou-se a única causa definida.

Posteriormente, com maior conhecimento a respeito das ações da insulina e da descoberta dos agentes orais para o tratamento do diabetes e avanços na fisiologia da resistência insulínica e suas múltiplas vias de resistência, a doença ficou classificada entre diabetes insulino-dependente e não insulinodependente.

Até 1990, as insulinas humanas NPH e regular eram as opções de tratamento para o diabetes mellitus tipo 1 ou insulinodependente. A partir de 1990, com as técnicas de biologia molecular surgiram as insulinas análogas, sendo a primeira a insulina Lispro, pela indústria Lilly, com grande avanço, como veremos adiante, nos capítulos seguintes.

Epidemiologia e painel do controle no Brasil e no mundo. O diabetes é uma das doenças crônico-degenerativas mais prevalentes no mundo, considerada uma emergência de crescimento global, com cerca de 463 milhões de casos de acordo com dados do International Diabetes Federation (IDF) em 2019. Estima-se que em 2030 teremos 578 milhões de diabéticos no mundo, e em 2045, 700 milhões de pessoas acometidas.

Segundo o IDF, cerca de 673 bilhões de dólares foram gastos em 2015 para tratar o diabetes ou prevenir suas complicações. Em 2019 ocorreram 4 milhões de mortes por DM em pessoas de 20-79 anos. Mais de 90% dos casos corresponde ao diabetes mellitus tipo 2.

Embora o diabetes tenha historicamente maior prevalência em países de alta renda, esta prevalência de diabetes tem aumentado rapidamente em países de baixa a média renda, onde 80% das pessoas com diabetes vivem.

 

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.