Correio de Carajás

Após Adonei cair por corrupção, fantasmas vêm à tona na Prefeitura de Curionópolis

Nem dois meses após Adonei Aguiar ser afastado da Prefeitura por corrupção, outras falcatruas da administração dele começam a emergir de um pântano de recursos públicos desviados. Vereadores da cidade tiveram acesso à Folha de Pagamento do município e, incrédulos, identificaram inúmeros contratados que sequer residem na cidade, vindo à tona uma rede de funcionários fantasmas na gestão pública.

Os edis preparam uma denúncia para ser protocolada no Ministério Público do Estado do Pará e no Ministério Público Federal (MPF), uma vez que há funcionários que não cumprem horário sendo pagos com recursos federais, como, por exemplo, pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

É o que acontece em um caso emblemático identificado e que o Correio de Carajás foi a fundo averiguar. Tallicy Castro Arrais é chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação de Parauapebas, cidade 40 quilômetros distante, onde recebe R$ 5.400,05 líquidos mensalmente. Ainda assim, ela também é contratada da Prefeitura de Curionópolis, onde deveria estar em sala de aula cinco vezes por semana.

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Em Parauapebas, Tallicy possui um cargo comissionado de coordenadora pedagógica junto ao Departamento Técnico da Fundação de Educação do Município de Parauapebas (Fumep). No último mês cujos dados constam no Portal da Transparência da cidade, março de 2020, o nome dela consta na Folha de Pagamento, com matrícula de 2019. Acontece que neste mesmo mês, Tallicy deveria estar cumprindo pelo menos quatro horas diárias em Curionópolis.

No município onde foi contratada com função gratificada durante a administração de Adonei Aguiar, com carga horária de 100 horas mensais, ou seja, 20 horas por semana, o salário líquido dela é de R$ 2.541,26.

As folhas de pagamento do serviço público de Curionópolis em 2020 não estão divulgadas no Portal da Transparência, conforme determina a legislação. O Correio de Carajás, entretanto, teve acesso à folha de março, onde consta a contratação pela Secretaria de Educação como professora, com data de admissão em 10 de janeiro deste ano.

No mesmo mês, Tallicy recebeu uma diária e meia de R$ 300 para viajar a Canaã dos Carajás, representando Parauapebas. A finalidade da viagem foi participar da Formação e Qualificação para Líderes da Educação, no período de 29 a 30 de janeiro.

No ano anterior, 2019, ela também recebia por Curionópolis, tendo sido contratada no dia 2 de janeiro, com salário líquido de R$ 2.274,38, conforme consta na relação de servidores no Portal da Transparência.

A Reportagem apurou que em Parauapebas ela atua próxima ao secretário municipal, Luiz Vieira, no gabinete. Ele foi procurado nesta sexta-feira (8), por telefone, e confirmou que Tallicy presta serviço no município, garantindo que ela cumpre carga horária diariamente das 8 às 14 horas, inclusive em horários extras quando requisitada.

Informou, ainda, que em decorrência da pandemia de Covid-19, os servidores estão atuando em escalas atualmente, na qual a servidora está inclusa. Garantiu nunca ter tido problemas em relação à assiduidade da funcionária, confirmando que ela está diariamente em Parauapebas.

Cumprindo este horário em Parauapebas, é humanamente impossível que ela saia da cidade diariamente e se desloque até Curionópolis para atuar na rede municipal de ensino.

A secretária Educação, Cultura e Turismo de Curionópolis, Gesirlanea Chaves de Brito, também foi procurada, mas não atendeu às ligações e não retornou mensagens. A Reportagem tinha a intenção de questionar onde e em que horário Tallicy consegue dar aulas em Curionópolis, visto que cumpre horário em Parauapebas.

A equipe entrou em contato com a própria Tallicy que informou não estar na região e se comprometeu a retornar respondendo aos questionamentos, o que não ocorreu até o momento. O atual prefeito de Curionópolis, Nonato Holanda, ao ser informado da situação declarou que está promovendo a demissão da servidora.

Em 2019 o Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCMPA) se posicionou sobre o acúmulo de cargos públicos, destacando que os responsáveis pelos órgãos onde os profissionais estão lotados deverão responder ao órgão sobre a regularidade das ocupações.