Correio de Carajás

Apendicite aguda III

Por ser um tema conhecido, frequente e com risco de complicações graves pelo atraso no diagnóstico e na conduta, resolvemos prosseguir com o tema apendicite aguda. Assim sendo, esse aumento da morbidade (capacidade de adoecer) está relacionado ao aumento nas taxas de infecção de ferida operatória, formação de abscessos intra-abdominais, tempo de permanência hospitalar, e ao retardo no retorno às atividades habituais.

      Os pacientes podem apresentar apenas alguns dos sintomas descritos: nem todos os pacientes vão apresentar anorexia (perda do apetite); alguns poderão ter queixas urinárias e diarreia, pela proximidade do apêndice inflamado com o ureter e/ou bexiga e com o cólon sigmoide e/ou reto, respectivamente.

      Quando a dor se torna constante, pode estar localizada em outros quadrantes do abdome, devido a variações na anatomia do apêndice. Por ser uma doença comum, deve-se manter um índice elevado de suspeita clínica em todos os pacientes com dor abdominal. Se não for diagnosticada precocemente, a inflamação do apêndice tende a progredir para necrose e, por fim, para perfuração.

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      O tempo de evolução da apendicite para necrose e perfuração varia. A taxa média de perfuração na apresentação do quadro está entre 16 e 30%, mas aumenta significativamente em pessoas idosas e crianças jovens, em geral devido a um atraso no diagnóstico. Cerca de 20% dos pacientes com apendicite perfurada apresentam-se para atendimento menos de 24 horas após o início dos sintomas.

      Após as primeiras 36 horas, a taxa média de perfuração está entre 16 e 36%, e o risco de perfuração aumenta em 5% para cada período subsequente de 12 horas. Embora a perfuração seja uma preocupação quando se avaliam pacientes com sintomas há mais de 24 horas, a perfuração pode desenvolver-se mais rapidamente e deve ser sempre considerada.

      Os pacientes com apendicite perfurada apresentam-se com quadro agudo, com desidratação e anormalidades eletrolíticas importantes, especialmente se febre e vômito estiveram presentes por um tempo considerável. Em geral, a dor abdominal tem evolução de 2 dias ou mais. Na maioria dos casos, localiza-se no quadrante inferior direito, se a perfuração tiver sido bloqueada pelo omento ou outras estruturas intra-abdominais, ou pode ser difusa, se ocorreu peritonite generalizada.

      Muitas vezes, ocorrem calafrios e febre. A maioria dos pacientes com apendicite perfurada apresenta sintomas relacionados com a inflamação do próprio apêndice ou de um abscesso intraperitoneal localizado. No entanto, outras formas de apresentação mais raras podem ocorrer, especialmente em pacientes muito jovens ou idosos.

      A perfuração apendicular pode apresentar-se de formas incomuns, como formação de abscesso retroperitoneal pela perfuração de apêndice retrocecal ou formação de abscesso hepático pela disseminação hematogênica da infecção pelo sistema venoso portal. Febre alta e icterícia podem ser vistos com pileflebite (trombose séptica da veia porta), que pode ser confundida com colangite. Essas apresentações raras devem alertar o cirurgião para a possibilidade de apendicite como fator etiológico.

      Quanto ao exame físico, o paciente deve ser submetido a um cuidadoso exame físico, incluindo exame retal e, nas mulheres, ginecológico. A dor no quadrante inferior direito é o mais consistente de todos os sinais de apendicite aguda. Assim, sua presença deve sempre    levantar a suspeita de apendicite, mesmo na ausência de outros sinais e sintomas. No entanto, devido às várias localizações anatômicas do apêndice, é possível que a dor se manifeste no flanco direito ou no quadrante superior direito, na região suprapúbica, ou no quadrante inferior esquerdo.

      No caso de apêndice localizado na pelve, a sensibilidade no exame abdominal pode ser mínima, mas esta será evidente no exame retal, com a manipulação do peritônio pélvico. Ao exame ginecológico, com a mobilização do colo do útero e a consequente manipulação do peritônio pélvico, a sensibilidade será evidente quando o apêndice estiver localizado nessa região. O tema prosseguirá na próxima edição de terça-feira.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.