Em continuação ao tema anterior de apendicite aguda. Além de hiperplasia linfóide, os fecálitos também podem levar à obstrução do apêndice e à subsequente apendicite. Acredita-se que aproximadamente 30% dos casos de apendicite aguda em adultos estejam ligados a fecálitos.
Evidências crescentes sugerem que a perfuração não é necessariamente o resultado inevitável da obstrução apendicular. A apendicite perfurada e a apendicite não perfurada podem ser entidades diferentes, com a perfuração ocorrendo mais comumente em pacientes com respostas inflamatórias alteradas ou alterações no microbioma colônico.
Nunca foi identificada uma alteração genética que expresse risco aumentado para apendicite: no entanto, em estudos epidemiológicos, percebe-se que membros de famílias com história de apendicite aguda apresentam risco três vezes maior de terem essa patologia do que membros de famílias sem essa história.
Leia mais:Em estudos de gêmeos, sugere-se que efeitos genéticos sejam responsáveis por 30% na variação de risco de desenvolver apendicite. Fatores ambientais podem ter influência no desenvolvimento de apendicite, uma vez que se percebe aumento da incidência dessa patologia no verão, por exemplo.
Embora a apendicite aguda seja uma patologia frequente, o seu diagnóstico continua a ser difícil em muitos casos. Alguns dos sinais e sintomas podem ser sutis e, inclusive, podem não estar presentes em todas as apresentações clinicas. Teoricamente, em qualquer contexto clínico de dor abdominal, a hipótese de apendicite aguda deve ser considerada.
O diagnóstico precoce continua a ser o objetivo mais importante, pois um atraso no diagnóstico pode permitir a perfuração do apêndice e aumentar significativamente a morbidade e a mortalidade. Embora as taxas de mortalidade sejam bem inferiores a 1%, a morbidade da apendicite perfurada é muito maior do que nos casos em que não ocorre perfuração.
O diagnóstico de apendicite aguda baseia-se em história e exame físico completos. A apresentação clássica da apendicite aguda começa com dor abdominal em cólica, provavelmente devido à obstrução da luz apendicular. A dor pode ser periumbilical ou epigástrica, vaga e difícil de localizar, seguida de anorexia, náuseas e vômitos, que podem ou não estar presentes.
A seguir, a dor desloca-se para o quadrante inferior direito do abdome, à medida que o processo inflamatório avança, com extensão transmural da inflamação, levando à inflamação do peritônio parietal adjacente. Isso geralmente ocorre dentro de 12 a 24 horas após o início dos sintomas. O movimento ou a manobra de Valsalva frequentemente pioram a dor; em alguns casos, os pacientes relatam piora da dor com os solavancos durante o transporte.
Se a náusea e os vômitos precederem a dor, é mais provável que a causa para os sintomas não seja apendicite. Os vômitos, quando presentes, geralmente são limitados na apendicite, o que os diferencia dos pacientes com gastrenterite viral. Diarreia pode ser uma das manifestações. Sua ocorrência é explicada pela irritação do intestino (delgado ou grosso) adjacente ao apêndice cecal ou mesmo por irritação do intestino pela presença de secreção purulenta adjacente às alças. A manifestação de diarreia, da mesma forma que as náuseas e os vômitos, costuma ocorrer depois do início da dor; sua presença previamente à dor sugere outra causa.
Às vezes, os pacientes podem apresentar febre baixa, de até 38,3 °C, mas geralmente ocorre mais tarde no curso da doença e sinaliza situações mais complexas, como peritonite ou abscesso. Temperaturas mais elevadas e tremores devem alertar o cirurgião para outros diagnósticos, como pielonefrite, por exemplo.
Quando questionados, os pacientes com apendicite geralmente relatam anorexia, sendo esse diagnóstico improvável nos pacientes com o apetite preservado. No entanto, deve-se ter em mente que, na prática, a apresentação clássica da apendicite aguda não ocorre em todos os pacientes. Estima-se que ocorra somente em 66% dos casos. O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
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