Correio de Carajás

Apendicite aguda II

Atualização 30 de agosto de 2022 por Redação

Em continuação ao tema anterior de apendicite aguda. Além de hiperplasia linfóide, os fecálitos também podem levar à obstrução do apêndice e à subsequente apendicite. Acredita-se que aproximadamente 30% dos casos de apendicite aguda em adultos estejam ligados a fecálitos.

Evidências crescentes sugerem que a perfuração não é necessariamente o resultado inevitável da obstrução apendicular. A apendicite perfurada e a apendicite não perfurada podem ser entidades diferentes, com a perfuração ocorrendo mais comumente em pacientes com respostas inflamatórias alteradas ou alterações no microbioma colônico.

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Nunca foi identificada uma alteração genética que expresse risco aumentado para apendicite: no entanto, em estudos epidemiológicos, percebe-se que membros de famílias com história de apendicite aguda apresentam risco três vezes maior de terem essa patologia do que membros de famílias sem essa história.

Em estudos de gêmeos, sugere-se que efeitos genéticos sejam responsáveis por 30% na variação de risco de desenvolver apendicite. Fatores ambientais podem ter influência no desenvolvimento de apendicite, uma vez que se percebe aumento da incidência dessa patologia no verão, por exemplo.

Embora a apendicite aguda seja uma patologia frequente, o seu diagnóstico continua a ser difícil em muitos casos. Alguns dos sinais e sintomas podem ser sutis e, inclusive, podem não estar presentes em todas as apresentações clinicas. Teoricamente, em qualquer contexto clínico de dor abdominal, a hipótese de apendicite aguda deve ser considerada.

O diagnóstico precoce continua a ser o objetivo mais importante, pois um atraso no diagnóstico pode permitir a perfuração do apêndice e aumentar significativamente a morbidade e a mortalidade. Embora as taxas de mortalidade sejam bem inferiores a 1%, a morbidade da apendicite perfurada é muito maior do que nos casos em que não ocorre perfuração.

O diagnóstico de apendicite aguda baseia-se em história e exame físico completos. A apresentação clássica da apendicite aguda começa com dor abdominal em cólica, provavelmente devido à obstrução da luz apendicular. A dor pode ser periumbilical ou epigástrica, vaga e difícil de localizar, seguida de anorexia, náuseas e vômitos, que podem ou não estar presentes.

A seguir, a dor desloca-se para o quadrante inferior direito do abdome, à medida que o processo inflamatório avança, com extensão transmural da inflamação, levando à inflamação do peritônio parietal adjacente. Isso geralmente ocorre dentro de 12 a 24 horas após o início dos sintomas. O movimento ou a manobra de Valsalva frequentemente pioram a dor; em alguns casos, os pacientes relatam piora da dor com os solavancos durante o transporte.

Se a náusea e os vômitos precederem a dor, é mais provável que a causa para os sintomas não seja apendicite. Os vômitos, quando presentes, geralmente são limitados na apendicite, o que os diferencia dos pacientes com gastrenterite viral. Diarreia pode ser uma das manifestações. Sua ocorrência é explicada pela irritação do intestino (delgado ou grosso) adjacente ao apêndice cecal ou mesmo por irritação do intestino pela presença de secreção purulenta adjacente às alças. A manifestação de diarreia, da mesma forma que as náuseas e os vômitos, costuma ocorrer depois do início da dor; sua presença previamente à dor sugere outra causa.

Às vezes, os pacientes podem apresentar febre baixa, de até 38,3 °C, mas geralmente ocorre mais tarde no curso da doença e sinaliza situações mais complexas, como peritonite ou abscesso. Temperaturas mais elevadas e tremores devem alertar o cirurgião para outros diagnósticos, como pielonefrite, por exemplo.

Quando questionados, os pacientes com apendicite geralmente relatam anorexia, sendo esse diagnóstico improvável nos pacientes com o apetite preservado. No entanto, deve-se ter em mente que, na prática, a apresentação clássica da apendicite aguda não ocorre em todos os pacientes. Estima-se que ocorra somente em 66% dos casos. O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.