Correio de Carajás

Apendicite aguda

O diagnóstico de apendicite aguda é predominantemente clínico; logo, poucos exames laboratoriais são necessários. Não existe exame específico, mas o uso criterioso de alguns exames permite a exclusão de outras patologias e fornece evidências adicionais para confirmar o diagnóstico clínico de apendicite.

      Além da história e do exame físico, o leucograma talvez seja o teste laboratorial mais útil. Na maioria dos pacientes, há leve leucocitose, embora possa estar dentro dos limites da normalidade nas fases iniciais do quadro de apendicite. Leucocitose acima de 20.000 leucócitos por mL sugere apendicite complicada por necrose ou perfuração, caso apresente quadro clinico sugestivo.

      A Proteína C Reativa é um marcador inflamatório, não especifico para apendicite; porém, níveis elevados (> 7 mg/dL) estão associados a casos de apendicite complicada. Um exame comum de urina pode ser útil para excluir infecção urinária ou cálculo renal. Piúria, bacteriúria ou hematúria podem ser vistos em até 40% dos pacientes, podendo dificultar a diferenciação entre apendicite aguda e infecções urinárias.

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      No entanto, pacientes com pielonefrite apresentam febre e leucocitose muito mais elevadas que as observadas na apendicite; além disso, sintomas de disúria estarão presentes, e a sensibilidade estará mais localiza da no flanco ou na região do ângulo costovertebral. A infecção urinária, por outro lado, não é incomum em pacientes com apendicite. Assim, sua presença não exclui o diagnóstico de apendicite aguda, mas deve ser identificada e tratada.

      Piúria sugere infecção urinária; porém, não é incomum que o exame de urina de um paciente com apendicite evidencie alguns leucócitos, devido à presença do apêndice inflamado junto ao ureter. Embora a hematúria microscópica seja comum na apendicite, a hematúria macroscópica é incomum e pode indicar a presença de litíase renal.

      Como um cálculo renal desce do trato urinário pelo ureter distal, a dor pode ser referida para o quadrante inferior direito e, ocasionalmente, para o testículo. Entretanto, a dor decorrente de cálculo renal muito mais intensa e totalmente visceral quanto à sua natureza, resultando que os sinais de irritação peritoneal não devem existir no paciente com nefrolitíase.

      As dosagens de enzimas hepáticas e amilase podem ser úteis no diagnóstico de doenças do fígado, da vesícula ou do pâncreas em pacientes com queixa de dor no quadrante superior direito do abdome ou no epigástrio. Em mulheres em idade fértil, a dosagem urinária da gonadotrofina coriônica humana está indicada para excluir a possibilidade de gravidez ectópica ou de gravidez simultânea. A gravidez ectópica é outra causa de dor no quadrante inferior direito que requer diagnóstico e tratamento imediatos.

      Os resultados da história, do exame físico e dos exames laboratoriais frequentemente podem levar um médico experiente ao diagnóstico de apendicite, sem necessidade de exames de imagem. A utilização de métodos de imagem tem melhorado a acurácia diagnóstica, diminuindo o número de apendicectomias brancas.

      Por questões médico-legais, os exames de imagem têm sido sempre utilizados. Porém, como se verá a seguir, não se pode postergar o tratamento cirúrgico em casos com história clínica evidente se os exames de imagem não forem determinantes.

      Os exames de imagem são particularmente úteis em alguns grupos de pacientes, incluindo crianças, idosos, mulheres em idade fértil e pacientes com comorbidades, como diabetes, obesidade e imunossupressão, nos quais há maior ocorrência de apresentação atípica de apendicite.

      Os exames de imagens que potencialmente contribuem para o diagnóstico de apendicite aguda incluem a ultrassonografia (US) e a tomografia computadorizada (TC) do abdome. A radiografia simples do abdome não é mais utilizada na avaliação do paciente com suspeita de apendicite, mas poderia evidenciar um fecálito no quadrante inferior direito. O tema prossegue na edição de terça-feira.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.