A apendicite aguda é uma das causas mais comuns de dor abdominal que necessitam de tratamento cirúrgico, devendo ser uma hipótese diagnóstica em todos os casos de dor abdominal.
Pelas diferentes posições anatômicas possíveis desse órgão, um processo inflamatório pode manifestar-se de diferentes maneiras. Os sintomas são muito variados, por vezes insidiosos, outras vezes de evolução rápida, com uma vasta gama de diagnósticos diferenciais.
O diagnóstico inicial é fundamental para a adequada evolução desses casos. É importante frisar que, apesar da evolução das diversas áreas da medicina, a apendicite aguda segue sendo causa de morte nos dias atuais, reforçando a necessidade de atenção para essa patologia tão comum e mesmo assim desafiadora.
Leia mais:Apendicite aguda é a principal causa de abdome agudo cirúrgico em todo o mundo, com uma prevalência de aproximadamente 7% da população. Ocorre com maior frequência entre 10 e 20 anos de idade. Pode-se esperar que 8,6% dos homens e 6.7% das mulheres desenvolvam apendicite aguda durante a vida.
O pico de incidência ocorre em adolescentes e adultos jovens. No entanto, um novo aumento na incidência de apendicite ocorre na sexta década de vida, e nenhuma faixa etária pode ser excluída. A pouca idade é um fator de risco: quase 70% dos pacientes que desenvolvem apendicite aguda têm menos de 30 anos.
Os pacientes das faixas etárias extremas são mais suscetíveis a desenvolver apendicite perfurada. De modo geral, a perfuração ocorre em 19,2% dos casos de apendicite aguda. Porém, em pacientes com menos de 5 anos e com mais de 65 anos, esse índice é significativamente maior.
A apendicectomia, cirurgia de retirada do apêndice, está entre as cirurgias abdominais mais comuns. De fato, é o procedimento cirúrgico mais comum realizado em caráter de emergência nos países ocidentais. A cada ano, nos Estados Unidos, aproximadamente 300 mil apendicectomias são realizadas.
A morbidade e a mortalidade associadas à apendicite aguda diminuíram ao longo dos anos, desde a introdução de antibióticos de largo espectro, novas técnicas cirúrgicas, anestesia mais segura e melhora dos cuidados pós-operatórios. Mas, quando não é tratada adequadamente, a apendicite continua a ser uma condição potencialmente letal.
Dados da literatura norte-americana apontam taxa de mortalidade de 0,0002%, com morbidade de 3% nos casos de apendicite aguda. Quando a perfuração ocorre, esses números crescem para 3% de mortalidade e o impressionante número de 47% de morbidade. A verdadeira causa da apendicite aguda permanece desconhecida.
Tradicionalmente, a causa mais comum e a explicação mais aceita para o desenvolvimento da apendicite são a obstrução da luz apendicular, mas isso não explica todos os casos. A obstrução da luz apendicular – seja por hiperplasia folicular de sua parede, por impactação fecal ou de um fecálito em sua base ou, mais raramente, por obstrução por tumor – desencadearia uma série de alterações que culminaria com o processo inflamatório.
Foi proposta uma sequência de eventos para explicar a apendicite:
- A obstrução do apêndice é causada por fecálito, edema da mucosa ou tecido linfoide localizado na mucosa e na submucosa da base do apêndice.
- A pressão intraluminal aumenta à medida que a mucosa apendicular secreta fluidos com um óstio apendicular obstruído.
- O aumento da pressão na parede apendicular supera a pressão capilar e causa isquemia da mucosa.
- O supercrescimento bacteriano intraluminal e a translocação de bactérias através da parede do apêndice resultam em inflamação, edema e, em última instância, necrose. Se o apêndice não for removido, a perfuração ocorre.
A hiperplasia linfoide tem sido apontada como uma possível causa para a obstrução luminal que inicia o processo de apendicite. Essa condição é especialmente comum na adolescência, o que se correlacionaria com a alta incidência de apendicite nessa faixa etária.
Acredita-se que tanto as infecções virais como as bacterianas (Shigella, Salmonella, mononucleose) possam preceder o episódio de apendicite, presumivelmente iniciando a hiperplasia linfoide e a obstrução luminal subsequentes. O tema continua na próxima edição de terça-feira.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.