Correio de Carajás

Aos 72 anos, Felismar reinventa o tempo e vai à escola para estudar e ensinar música

Há cinco anos o músico é um dos professores da Escola de Música Moisés Araújo e resolveu fazer faculdade na mesma área para aprimorar o conhecimento

Músico que atravessa várias gerações, Felismar recorreu à faculdade para aprender mais e se reinventar na profissão

Uma das figuras mais emblemáticas no meio musical de Marabá viu sua vida se transformar, de forma avassaladora, quando aceitou participar de um processo seletivo da Fundação Casa da Cultura de Marabá para se tornar professor da Escola de Música Moisés Araújo.

Há cinco anos Felismar Rodrigues, 72, colocou os pés na instituição e, além de professor, decidiu que também seria aluno. “Decidi entrar na faculdade de Música, na Uniasselvi. Achei que aprimoraria mais o meu conhecimento, me enriqueceria na música. Fiquei em dúvida, por conta da minha idade, mas decidi encarar. E ano que vem eu me formo”, antecipa Felismar, já em contagem regressiva.

Neste dia 22 de novembro, quando é comemorado o Dia do Músico, o CORREIO conversou com Felismar Rodrigues, que relembrou um pouco da sua trajetória e falou dos planos para o futuro.

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“Minha relação com a música começou ouvindo rádio dos vizinhos, porque eu nem tinha rádio. Depois comecei a ir soltando a voz enquanto estava fazendo as obrigações de casa, achava que cantava alguma coisa. Aos 17 anos, lembro que em Marabá tinha um programa de calouros no Cine Marrocos, feito pelo Salomão Amoury. Eram apresentações que antecediam os filmes dia de domingo. Fui pra lá pra tentar, peguei muitas vaias, mas fui me alinhando, e acredito que sou um dos sobreviventes dessa época”, conta sorrindo.

Nesse período, ele conta que a música não dava oportunidades para trabalho, por isso resolveu ser estivador (no porto de Marabá descarregando mercadorias que chegavam e saiam), no comércio e nos Correios.

Felismar relembra que poucas pessoas trabalhavam com música em Marabá naquela época, e tudo era mais hobby. “Cheguei a participar de algumas bandas. Mas, aí chegou um período que fiquei sozinho, as bandas se desfizeram e tive que aprender a tocar violão. No final da década de 1980, deixei meu emprego e fui viver da música, fazendo apresentação de voz e violão para sobreviver. Minha mulher foi à loucura porque a gente já tinha seis filhos. Mas, decidi que ia viver da música”, salienta.

Na Escola de Música da FCCM, Felismar compartilhou sua experiência e aprendeu com outros professores

Vivendo 34 anos somente de apresentações em festas, bares e restaurantes, Felismar sustentou seus filhos através da voz e violão. “Na verdade, hoje continuo vivendo da música. Além das apresentações que continuo fazendo, trabalho na Fundação também com música”.

Aliás, Felismar admite que sua trajetória profissional é dividida entre antes e depois da FCCM. Para ele, o trabalho na Escola de Música foi um divisor de águas.

“Só fui aprender a dar nomenclatura nas notas musicais aqui na Fundação. Fui visto como um cara que sabia, mas eu não sabia falar do assunto. Sabia tocar, mas não conseguia passar as informações teóricas como consigo hoje em dia”, diz o músico.

Muito conhecido em Marabá, ele recebeu o convite da presidente Vanda Américo para participar do processo seletivo da Escola de Música Moisés Araújo. Ele relembra que Vanda o encontrou em um dos restaurantes que costuma fazer apresentação musical e comentou sobre o processo seletivo. Após algumas insistências, Felismar aceitou. Fez a prova, a entrevista e deu certo.

Ele admite que no início estranhou um pouco, já que estava rodeado de jovens, entre professores e alunos. “Desde então estou aqui. Foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida. Vivo da música há mais de 40 anos e quero continuar na música. Mas, agora meu sonho é aprender inglês e falar fluente”, revela Felismar. (Ana Mangas)