Correio de Carajás

Antibioticoprofilaxia e antibioticoterapia em cirurgia

O primeiro pensamento que devemos ter como cirurgião é que todo ato cirúrgico é um trauma. Ou seja, rompemos barreiras de proteção natural do corpo e ativamos uma série de cascatas de resposta metabólica e imunológica no nosso paciente.

Isso faz com que esse paciente esteja exposto a uma gama de patógenos que pode ocasionar infecções tanto no sítio cirúrgico como a distância. É um trabalho em conjunto da equipe cirúrgica, da enfermagem e da comissão de controle de infecção hospitalar, que começa com o lavar a mão corretamente.

Para minimizar o risco de exposição e de complicações advindas dessas infecções devemos conhecer quais patógenos são esses e quando indicarmos corretamente a antibioticoprofilaxia e antibioticoterapia, para não expormos nosso paciente a antibióticos desnecessários que podem levar a uma resistência bacteriana e uma infecção ainda mais grave.

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Para sabermos quando está indicado a antibioticoprofilaxia devemos primeiramente classificar o ato cirúrgico em limpo, limpo-contaminado, contaminado e infectado. Com base na tabela anterior, indicaremos antibioticoprofilaxia para toda cirurgia limpa-contaminada e contaminada.

As exceções são as cirurgias limpas com uso de próteses e telas e aquelas em que qualquer infecção poderia ser catastrófica (neurocirurgias e cirurgias cardíacas) onde também se indica profilaxia e a colecistectomia videolaparoscópica, para a qual, apesar de ser classificada como cirurgia limpa-contaminada, não está indicado o uso de antibiótico. As cirurgias infectadas deverão ser sucedidas de antibioticoterapia.

A antibioticoprofilaxia, para ser eficaz, deverá ser realizada de forma mais direcionada para os patógenos do sítio cirúrgico e seus níveis séricos deverão estar adequados no início da cirurgia. Por isso preconiza-se que o antibiótico deve ser administrado 60 minutos antes da incisão cirúrgica e repetido a dose de acordo com a meia-vida da medicação utilizada.

O cirurgião deve estar apto para indicar a antibioticoterapia não somente para infecções dos sítios cirúrgicos, mas para qualquer infecção que possa acometer seu paciente cirúrgico. As infecções mais comuns nesses pacientes são as próprias infecções dos sítios cirúrgicos, bacteremias associadas ao uso de cateter venoso central, pneumonias nosocomiais e infecções do trato urinário.

Para a escolha do antibiótico empírico a ser iniciado deve-se pautar no patógeno mais provável de causar a infecção, da flora bacteriana hospitalar e de tratamentos prévio aos quais o paciente já foi submetido, evitando assim antibióticos de largo espectro que poderiam promover multirresistência bacteriana.

O tratamento com antibiótico deve perdurar pelo menor tempo possível. Tratamentos prolongados estão relacionados ao aumento de morbidade e mortalidade dos pacientes. Então, assim que o resultado da cultura for obtido, o tratamento deve ser direcionado para aquele agente patógeno e mantido apenas pelo período suficiente para morte bacteriana.

Quando o antibiótico é usado de forma eficaz, a morte bacteriana é rápida e os tratamentos podem ser mantidos às vezes por cinco dias ou menos. Esse tempo de tratamento deve ser pautado na melhora clínica e laboratorial do paciente e discutido com a comissão de controle de infecção hospitalar do serviço.

O conhecimento a respeito das principais infecções a que um paciente cirúrgico está susceptível é essencial não apenas para tratá-las, mas também e principalmente para preveni-las.

A resistência bacteriana é uma ameaça cada vez mais comum e cabe a nós como prestadores de cuidado ao paciente indicarmos de forma mais assertiva o antibiótico correto, na dose adequada e pelo período ideal, a fim de diminuirmos a seleção da flora bacteriana.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.