Correio de Carajás

Amor com calda de morango no show de Eduardo Costa

Eu não estava fazendo reportagem. Nem buscando personagem. Só fui ali na Pontocom tomar um açaí com tapioca, como quem busca um alívio pro calor que anda mais apaixonado por Marabá do que muita gente. Mas, como dizem, é na esquina que a crônica mora.

Sentado em uma mesa do canto, perto do freezer dos picolés, um homem de camisa regata azul-marinho e sorriso largo me abordou. “Tu nem sabe”, começou ele, e isso, por si só, já acendeu minha antena de ouvinte de histórias que dão samba, novela ou pelo menos um bom texto de quinta-feira.

Chamava-se Paulo, um velho conhecido. Comerciante da Nova Marabá. “Tenho uma loja ali na São Francisco, mas quem tá tocando agora é meu gerente, porque tô… ocupado com outra missão”, riu, com um olhar que não sabia esconder a presença de uma mulher nova no pedaço.

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Apontou com a cabeça e lá estava ela: de vestido florido, sentada na mesa ao lado, chupando o restinho do sorvete de açaí com uma colher torta e um sorrisinho que dizia tudo. Professora, vinda de Itupiranga. Nome: Lívia. Voz doce, daquelas que, mesmo sem dar aula, parece ensinar.

“Nos conhecemos no show do Eduardo Costa, acredita?”, ele disse, inflando o peito como se falasse da aparição da santa no Largo da Santa Rosa. E foi mesmo um acontecimento — a julgar pela quantidade de gente que foi parar na Orla do Tocantins naquela noite deste mês de julho.

O show, aliás, atrasou uma vida. Eduardo Costa enrolou mais que político em campanha. O povo já tava impaciente, o calor grudando como abraço de parente em festa de Natal, e o som ambiente era um misto de resmungos e risadas de vendedores ambulantes oferecendo cerveja quente e coxinha duvidosa.

Mas foi justamente nessa espera que o destino resolveu brincar de cupido. “Tava lá perto de uma barraca de doce, esperando o show começar, e vi essa mulher linda com cara de impaciente. Fui puxar conversa”, disse ele.

A barraca, pasme, vendia morango do amor. Isso mesmo. Um doce novo, modinha de internet: morango espetado, caramelizado igual maçã do amor, mas com cobertura de chocolate e granulados. A febre do momento. “Comprei um pra ela. Foi nossa primeira troca. Um morango. Depois, um beijo. Depois, tudo.”

Ela conta que ficou sem jeito, mas aceitou. Ele conta que as mãos tremiam, mas disfarçou. E eu, ouvindo aquilo, só pensava em como o mundo às vezes prepara cenários que nem roteirista da Globo pensaria.

O papo foi leve, engraçado, meio sem destino — mas com destino. Lívia tinha vindo com uma amiga, mas logo se desgrudou da companhia e ficou ali, perto dele, dividindo um espaço pequeno e um entusiasmo grande. No fundo, os dois sabiam que estavam vivendo algo especial, ainda que envolto em barulho de multidão e cheiro de batata frita.

Cantaram juntos “Me Apaixonei”, gritaram “Sapequinha” com as mãos erguidas, e quando Eduardo finalmente apareceu no palco, eles já nem ligavam tanto. O show estava acontecendo era ali, entre eles. A música só embalava o que já tava escrito pra acontecer.

Depois do show, ele ofereceu carona. Ela aceitou. Foram comer alguma coisa, conversar mais, rir dos bêbados que erravam o caminho de volta. E então, como num roteiro apressado, vieram os beijos longos, as confidências rápidas e a primeira noite. “Foi lindo, juro por Deus”, ele disse, segurando o riso tímido de quem quer guardar a lembrança como se fosse relíquia.

No outro dia, almoçaram na Praia do Sossego. Peixe frito, cerveja gelada e os pés na areia — porque o amor gosta de simplicidade. Depois, à tarde, caminharam pela orla de mãos dadas, como se já estivessem há meses juntos. E no fim da tarde, açaí com tapioca no Blaus, só pra fechar o ciclo com açúcar e frescor.

A conexão entre os dois foi tão intensa que ele nem voltou pra loja. Deixou tudo na mão do gerente e resolveu viver o agora. “Minha vida tava meio parada, sabe? Era só trabalho, casa, trabalho. Aí apareceu ela, e tudo virou festa.”

Lívia, por sua vez, mandou mensagem pra mãe dizendo que estava bem, mas ainda em Marabá. “Só preciso voltar pra Itupiranga no dia 4 de agosto, quando as aulas começam”, contou, rindo com os olhos.

E é isso. De agora até lá, são dias de novidade, de descoberta, de esquentar arroz e o coração. Dormem juntos, almoçam fora, passeiam como adolescentes que descobriram o verbo “gostar” e esqueceram de conjugar “voltar”.

A cidade até parece ter ganho uma nova coloração com essa história. O amor, quando é novo, espalha reflexo nas calçadas, nos postes e até no humor dos balconistas.

E o mais engraçado? Agora os dois estão numa caçada pela cidade, procurando mais morango do amor. “Já rodamos tudo e nada. Parece que sumiu!”, lamenta Paulo, como quem perdeu a senha do Wi-Fi.

Mas, veja bem: enquanto não encontram o doce, eles se bastam. Às vezes, o que adoça a vida mesmo é o que acontece entre uma mordida e outra.

* O autor é jornalista há 29 anos e publica crônica às quintas-feiras

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.