Correio de Carajás

Ambulantes se revoltam com decisão da Prefeitura de Marabá

Maria de Jesus Rodrigues da Silva começou a vender batatas fritas na Praça São Francisco, no Núcleo Cidade Nova, ainda na década de 80, acompanhada do marido. Desde então já se separou, mas mesmo assim os dois continuam desenvolvendo juntos a atividade, que é o meio de sobrevivência de ambos.

O primeiro ponto de frente a igreja foi meu. A gente nem é mais casado, mas trabalhamos juntos pra sobreviver. Quero trabalhar, mas fui notificada e na segunda (29) não pode mais colocar nada. Preciso pagar meu talão de água e de energia e comer. Tenho conta pra pagar, tô devendo contas pra pagar e se eu não pagar vou ficar com meu nome sujo”, desabafou.

Na semana passada, vários dos ambulantes que trabalham no local foram notificados pelo Departamento de Postura sobre a obrigatoriedade de deixarem o local, em decorrência de reforma que será realizada na praça. Acontece que finalizada a obra, há promessa de não haver retorno de todo mundo.

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Na tarde de hoje, sexta-feira (26), um grupo deles foi para a frente do prédio da Secretaria Municipal de Viação e Obras Públicas (Sevop), à qual o departamento é subordinado, para protestar contra a decisão e obter respostas sobre o futuro dos trabalhadores.

A comunicação entregue aos ambulantes determina a retirada imediata de objetos pessoais e de venda que estão em trailers e barracas, com base no Código de Postura de Marabá, citando os artigos 60 e 160.

O primeiro determina que não será concedida autorização para localização de barracas para fins comerciai em passeios e leitos de logradouros públicos sem autorização da PMM. O segundo afirma que a decretação da apreensão de materiais, produtos ou mercadorias e da interdição de estabelecimento é competência do Poder Público Municipal de Marabá.

Ao Correio de Carajás, o coordenador de Postura, Túlio Rosemiro Pereira, declarou que a administração municipal explicou aos manifestantes que neste primeiro momento só fechará a metade da praça – entre a pista de skate e a igreja católica –, mas deixando claro que a forma como a praça é ocupada atualmente será desmobilizada.

“Futuramente vamos fechar inteira e eles precisam estar cientes de que a praça não pode ficar da forma como estava, praticamente uma favela. A praça é para os cidadãos irem, levarem as famílias, terem brinquedos para as crianças, comerem um cachorro quente. A praça é pra isso, não fazer dela de um comércio geral. Ali não existe mais praça, é um comércio”, declarou.

Sobre a reforma em si, ele não soube fornecer detalhes de quando ela começa ou o prazo para conclusão, entre outras informações do projeto. “Eles não vão voltar pra lá até a gente organizar a metodologia e ver de que forma vamos lidar em relação a alguns ambulantes. Vai ter bastante modificação e vamos organizar”, disse.

Para quem foi notificado, a situação é preocupante. Os vendedores defendem não serem contrários à obra, mas quererem uma solução para o caso deles. “O ponto é da minha sogra há 14 anos, ela adoeceu e me passou há quase quatro anos. Ninguém é contra a reforma e ele se preocupa muito em fazer praça, mas porque não divide o povo pra ir cada um num local, numa praça? Simplesmente Tulio chegou e notificou que a partir de segunda não podia mais ninguém e nós precisamos, nós vivemos da praça”, declarou Tatiane Amorim.

Assim como ela, Tatiana Oliveira da Silva está há mais de 20 anos no logradouro e reclamou da notificação em cima da hora. “Recebemos na última sexta (19), não foi 30 dias antes. Até esta segunda seremos banidos e irmos embora da praça. Se queremos trabalhar por que os quatro bares estarão lá?”, questionou, em relação aos prédios da própria prefeitura que permanecerão no local. “Só queremos trabalhar, somos ambulantes e não ladrões”. (Luciana Marschall – com informações de Josseli Carvalho)