Correio de Carajás

Alepa aprova projeto de Chamonzinho que declara comunidades de Serra Pelada como Patrimônio Imaterial do Pará

Chamonzinho também é autor do projeto que instituiu o Dia Estadual do Garimpeiro

Foi aprovado nesta terça-feira, pela Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), o Projeto de Lei 390/2021 de autoria do deputado Chamonzinho, que reconhece como de especial interesse para o estado as comunidades tradicionais remanescentes e descendentes de garimpeiros do Garimpo de Serra Pelada, em Curionópolis. Além de considerar como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado sua história, memória, tradições, saberes e fazeres, retirando-lhes a invisibilidade que a injustiça histórica lhe legou.

O projeto visa legitimar e dar visibilidade aos saberes, fazeres e cultura dos descendentes e garimpeiros do que já foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, em Serra Pelada. “Precisamos manter nossa memória e trajetória vivas, valorizar e reconhecer esse povo que é tão importante para nosso Estado e nosso País. A história de Serra Pelada une-se à história do povo brasileiro, marcando com trabalho, dedicação e muita esperança o desejo por realizar sonhos”, enfatizou Chamonzinho.

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O trabalho do deputado pelo reconhecimento e valorização dos garimpeiros faz parte de sua história política, por meio da atuação firme por melhores condições de vida e reconhecimento, além de dar voz às demandas da classe. Também foi Chamonzinho o autor do Projeto de Lei que instituiu o Dia Estadual do Garimpeiro, comemorado anualmente em 11 de dezembro.

Em Curionópolis, cidade que nasceu do Garimpo de Serra Pelada, os filhos e netos dos garimpeiros que há 40 anos chegaram na localidade em busca do sonho dourado, reconhecem mais essa conquista como uma valorização de sua história. “É muito importante para todos nós vermos nossa história ser respeitada. Meu pai chegou aqui sem nada, com muitos sonhos, construiu nossa família, lutou muito e hoje amamos e trabalhamos para ver nossa região cada vez melhor”, relembrou Rosangela Pereira, filha de Manoel Pereira, garimpeiro de Serra Pelada.

JUSTIFICATIVA

Em meados da década de 1980, o Garimpo de Serra Pelada era a maior mina a céu aberto do mundo, maior aglomeração de trabalhadores (daí a metáfora comum na imprensa do formigueiro humano ou de cenários bíblicos) e maior produção de ouro, distante e imersa na selva amazônica. Esses superlativos são insuficientes, apesar de significativos, para compreendermos outras dimensões vivenciadas pelos diversos sujeitos que fazem parte dessas imagens. Essa tensão entre lembrança e esquecimento faz parte do processo de constituição de memórias produzidas no campo dos enfrentamentos atuais.

Remanescentes desses grupos de garimpeiros, em considerável número, continuam vivendo, ainda hoje, em Serra Pelada, com suas famílias (filhos, netos e bisnetos). Homens e mulheres que viveram e testemunharam o esplendor e a decadência da atividade garimpeira humana naquele local, e cujos descendentes se esforçam em manter viva essa memória tão rica para a história da atividade minerária nacional, sobretudo paraense.

Também devem ser realçadas, historicamente, as relações de trabalho e as condições de vida dos trabalhadores do garimpo de Serra Pelada no sudeste do Pará a partir de diversas memórias, alimentadas pela imprensa, pesquisadores e relatos de garimpeiros. Partindo das vivências dos trabalhadores, podemos compreender sua relação com o poder instituído e com os demais garimpeiros.

Vale lembrar que algumas cidades surgiram ou cresceram em função da existência de áreas de exploração do ouro. As cidades de Eldorado do Carajás e Curionópolis, que se constituem em aglomerados urbanos, têm suas histórias ligadas à existência de Serra Pelada, especialmente Curionópolis, onde está localizado o hoje Distrito daquele município que é lar das comunidades tradicionais remanescentes e descendentes de garimpeiros.