Correio de Carajás

Água suja da SAAEP escoa pelas torneiras de Parauapebas

Moradores do Liberdade são obrigados a dividir poço artesiano para ter água limpa em casa

O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parauapebas (SAAEP) é responsável pelo tratamento e distribuição de água encanada no município, captando do rio que dá o nome à cidade mais de 1.600 litros por hora, tendo as casas dos moradores da Capital do Minério como destino final.

A SAAEP é, portanto, responsável por tornar essa água própria para o consumo, através das Estações de Tratamento de Água (ETA) presentes em Parauapebas. Entretanto, a realidade para alguns moradores, como os que foram entrevistados pelo Correio de Carajás esta semana, demonstra que esse tratamento de água da SAAEP tem sido falho, obrigando a população a procurar alternativas à prestadora de um serviço básico.

Moradores do Liberdade recorrem a poço artesiano para ter água limpa (Imagem: Ronaldo Modesto)

“Minhas crianças tiveram dor de barriga e diarreia ‘direto’ tomando essa água. Antes a gente fazia uso dela, agora não faz mais”, disse Raimundo Nonato de Oliveira, morador do bairro Liberdade. “Quando a água não sai da torneira amarelada, ela sai muito branca, parece até leite. Vamos buscar água mineral numa escola que tem aqui perto, porque é complicado, a água é muito ruim”, relata o pai de família.

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Próximo dali, no bairro Liberdade II, o cenário não é diferente: “Só uso essa água pra lavar a casa, o carro e as roupas, que ficam até duras depois de secas, mesmo eu usando amaciante. Acredito que seja por causa da água [da SAAEP], que é muito ruim”, disse Francisco Cícero dos Santos, que diz ainda usar água comprada para tratar os alimentos, “com medo de uma disenteria”.

Edmílson Furtado, também morador do Liberdade II, relata precisar ir periodicamente a um poço artesiano retirar água para uso, “porque a água da SAAEP só serve para tomar banho e lavar roupa – e ainda assim não é bom. Parece até que ela cai do rio direto pra nossa torneira”, complementa, afirmando que aos domingos são cerca de dois mil litros de água retirados do poço artesiano pela vizinhança, que não tem acesso à água limpa encanada.

Francisco, Edmílson e Raimundo não tem água própria para consumo em suas casas, nos bairros Liberdade I e II (Imagem: Ronaldo Modesto)

ALTERNATIVAS À SAAEP

A dona do poço artesiano do qual Edmílson se refere é Cleide Souza Machado, que diz que desde que se mudou para o Liberdade II tem dificuldades com o serviço. “Às vezes a gente passava a semana tentando encher uma caixa de quinhentos litros e não conseguia. Meu marido resolveu cavar o poço, deu bastante água, e a gente resolveu colocar a torneira aqui fora pro pessoal pegar. Muitos não têm condição, e a água está cara”, relata Cleide, adicionando ainda mais o problema do custo do serviço, que é precário.

Cleide Souza Machado administra custos de poço artesiano por conta própria, em alternativa à água suja que chega ao Liberdade (Imagem: Ronaldo Modesto)

“Muita gente pensa que é prefeito ou vereador que banca [o poço], não a gente. Bancamos aqui, resolvemos colocar por livre e espontânea vontade. E a energia para um poço, uma bomba dessas boas, também é custo, né? Tudo gera custo e às vezes de ano em ano a gente tem que tá fazendo manutenção, fora o pessoal que não sabe usar, desperdiça… Tem muitas dificuldades”.

OUTRO LADO

Em entrevista ao Portal, o químico Clênio Ribeiro da Silva, servidor da SAAEP, transferiu a culpa pelo serviço precário para parte da população, que realiza “gatos” de água, bem como a danificação da tubulação usada pela prestadora. “A água não sai suja daqui da estação; quando a tubulação está quebrada não tem jeito, vai sair suja mesmo. E aí ainda tem gente que faz ‘gato’, danifica a rede, e prejudica a qualidade da água, que sai limpinha daqui da estação”, disse Clênio.

Elson de Jesus e Clênio da Silva apontaram ‘gatos’ como principal fator de danificação das tubulações da SAAEP (Imagem: Ronaldo Modesto)

Elson Cardoso de Jesus, diretor executivo da SAAEP, diz que a prestadora “desconhece problemas com o tratamento da água em Parauapebas, e que os moradores devem procurar o serviço para relatar os problemas”. Elson corroborou com a ideia de que a danificação dos tubos de distribuição, em parte causada por ‘gatos’, é um fator que prejudica a distribuição de água no município.

Ainda contando com a colaboração da população, Elson requisitou que clientes inadimplentes procurem a SAAEP para regularizar a situação, pontuando que 78% das unidades consumidores possuem dividas com a autarquia, que pode indica-los ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

Segundo Diretor Executivo da SAAEP, prestadora é capaz de abastecer três Parauapebas (Imagem: Ronaldo Modesto)

Segundo Elson, a quantidade de água tratada é o bastante para três Parauapebas, e que se o serviço não está chegando de forma correta às casas, a população deve procurar a SAAEP pelos canais de atendimento: 0800 095 0001 – 3346 7261 para ligações locais; 3346 7262 para Whatsapp; [email protected] por email e também comparecendo à sede da prestadora, no bairro Beira Rio, das 8h às 17h, de segunda à sexta. (Juliano Corrêa – com informações de Ronaldo Modesto)