Correio de Carajás

Agência fechada do INSS em Parauapebas gera problemas

Órgão da Previdência Social no município não abre as portas desde o início da pandemia

As portas da sede do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) em Parauapebas, no Bairro Jardim Canadá, se fecharam com o início da pandemia, em março do ano passado. Um ano e meio depois, após outros serviços públicos já terem sido regularizados para funcionar sob medidas restritivas, o órgão de previdência social do município permanece fechado.

Tal situação poderia ser contornada, uma vez que canais de atendimento via telefone foram disponibilizados para a população tratar sobre auxílios e benefícios recebidos da esfera pública. É onde começam os problemas: com as portas fechadas e com dezenas de queixas em torno da ineficácia e burocracia que resolver os problemas por telefone trazem, quem tem direito ao auxílio estatal bate na parede sempre que se dispõe a procurar o que é seu.

O jornalismo do Grupo Correio contatou pessoas que passam por esse descaso para relatar quais são os problemas no atual atendimento do INSS.

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Solange Fernandes Silva é dona de casa após ter que se abster de serviços de faxina na época da pandemia para cuidar do filho, Ricardo Silva, de 28 anos, diagnosticado com esquizofrenia e que deveria receber um auxílio do INSS. A mãe conta que com a morosidade causada pelo fechamento da agência em Parauapebas, o benefício não foi regularizado e ela sofre enquanto cuida do filho.

Solange passa por dificuldades nos cuidados do filho, que está sem benefício

“É complicado… Tentei ligar várias vezes e nunca dá certo, é uma tremenda burocracia. Quando já estou próxima de terminar o processo, a ligação cai e tenho que começar tudo de novo. Tem sido difícil ainda mais porque ele [Ricardo] é muito violento, quebra tudo dentro de casa, diz que as vozes mandam ele fazer isso. É muito difícil”, relata Solange, pontuando que o número de atendimento disponível não é 0800, consumindo também créditos telefônicos a cada tentativa.

Solange conta que tem dificuldades financeiras para bancar os remédios do filho e é auxiliada pela mãe e companheiro nos cuidados de Ricardo. Ela questiona o porquê de a agência permanecer de portas fechadas, mesmo “com tanto lugar aberto por aí, bancos, lotéricas, casas de show” e cai em lágrimas ao relatar o difícil dia-a-dia com o filho; “tomo remédios pra dormir por conta do estresse. Fico muito mal com tudo isso”, desabafa a dona de casa.

A assistente social Geovânia Silva, do Centro de Atenção Psicossocial (CAPES), explicou como o embargo nos benefícios rompe o direito constitucional de acesso à seguridade social. “O recurso não sai da Previdência; ele sai da Política de Assistência Social. Nós temos vários direitos sociais, e devemos ir atrás deles”, conta Geovânia, preocupada com a situação dos “beneficiados sem benefício”.

Assistente Social Geovânia elaborou acerca de problemas resultantes do fechamento

Ela também problematizou o fato dos canais de acesso serem excludentes, por estarem disponíveis por ligações pagas e aplicativo de smartphone, tornando mais difícil o acesso pela população de baixa renda. “Muitos usuários dos benefícios não têm acesso à internet, não têm um celular bom, e que já estão em vulnerabilidade socioeconômica”, disse Geovânia, afirmando que a ingerência no repasse dos auxílios prejudica a assistência social diretamente. (Juliano Corrêa com informações de Ítalo Almeida)

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O Jornal Correio procurou a assessoria de comunicação do INSS nesta sexta-feira (10), mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.