Correio de Carajás

Açaí: Pará representa 95% da produção nacional do “ouro roxo”

Apontado como um dos motivos da vitalidade e da força das populações nativas da região amazônica, o açaí desencadeou uma febre de consumo entre os brasileiros nos últimos 20 anos, fator que o colocou entre as três frutas com maior valor de produção e a sexta mais produzida no Brasil. Poder energético, proteínas, fibras, vitamina E e sabor único geraram aceitação que multiplicou sua relevância social, econômica e ambiental no Estado do Pará, maior produtor nacional, com 95% do volume total.

A disparada no consumo da polpa do açaí e de seus compostos criou importante atividade econômica aos extrativistas, incentivou seu manejo e reduziu o corte do açaizeiro, palmeira até então objeto da produção de palmito, corantes e até madeira. Novas técnicas, como o plantio em “terra firme”, sob irrigação, foram introduzidas e já representam 20% dos frutos colhidos. A vantagem está em produzir na entressafra, quando os preços chegam ao triplo da época de colheita tradicional. Nas áreas extrativistas das várzeas, a colheita de 80% da safra anual vai de julho a dezembro.

O IBGE aponta em seu levantamento mais recente, atualizado em outubro de 2018, que em 2017 o Brasil colheu 1,33 milhão de toneladas, com valor de produção de R$ 5,54 milhões, demonstrando o valor agregado da fruta. O valor cresceu 41% sobre o alcançado em 2016. O volume produzido aumentou 22%.

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Geraldo Tavares, gerente de Fruticultura da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Pesca (Sedap) do Pará, ainda que sem números consolidados, considera que a safra de 2018 foi superior. E a de 2019 também deve manter esta tendência, apesar da previsão de atraso da colheita, adiada para agosto por causa das intensas chuvas no norte do país no final do primeiro semestre.

“Em 2016 e 2017 tivemos poucas chuvas. Em 2018 choveu bem e agora em 2019 tivemos um primeiro semestre em que as precipitações alcançaram 80% da previsão para o ano todo, mas ainda esperamos uma boa colheita”, avisa. Segundo ele, os preços têm se mantido positivos e remuneradores para os produtores. O Pará colheu 1,27 milhão de toneladas, seguido pelo Amazonas, com 52 mil toneladas, e por Roraima, com apenas 3,5 mil. O clima é o diferencial.

Conforme o Sindicado das Indústrias de Frutas e Derivados do Pará (Sindfrutas), 60% da produção da fruta permanece no Estado, 35% se destina a outras regiões, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; e 5% segue para outros países. Cerca de 40% vai para os Estados Unidos. Japão, Austrália e União Europeia fecham a lista. A concentração da colheita de julho a dezembro dificulta as exportações, pois os compradores exigem constância de volume e oferta permanente.

Solange Mota, presidente do Sindfrutas, destaca que o produto remetido para outros estados é a polpa do fruto, que passa por um primeiro beneficiamento por pouco mais de 50 empresas do Estado e dá origem a diversos usos e processos direcionados ao consumo como energético, refeição, sobremesas, medicamentos, suplementos alimentares e nutracêuticos.

No Pará, o açaí é tradicionalmente consumido em refeições com pratos salgados, como peixe. Mas no restante do Brasil e nos Estados Unidos a polpa ganhou a mistura de outras frutas, como banana e mamão, granola, sementes e cereais, e também é batido com leite condensado ou servido como shakes energéticos. A alta gastronomia o adotou no preparo de pratos especiais e de sobremesas com toque regional e muita brasilidade.

PRÓ-AÇAÍ

No Pará, uma iniciativa em evidência é o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Açaí (Pró-Açaí), do Estado, para enriquecer os açaizais de agricultores familiares e fomentar o uso de sementes, mudas e técnicas que gerem produtividade e qualidade nos frutos. Produtores que receberam orientação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aumentaram em até 80% a produção por hectare, de 3,3 para 6 toneladas por safra. Para a cadeia produtiva, a crescente demanda brasileira e o mundo todo ainda para conquistar são razões suficientes para seguir investindo, produzir o ano todo e potencializar os resultados. (O Nortão)