Correio de Carajás

A súplica de Rosinha para o primeiro amor

“Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria a mesma doce fragrância.” William Shakespeare escreveu essa frase em Romeu e Julieta, onde Julieta compara Romeu a uma rosa dizendo que se ele não fosse chamado Romeu, ainda assim seria o amor de sua vida.

Mas a história de Rosinha, da história de hoje, não tem muito a ver com a história de Romeu e Julieta, a não ser pelo final, que não ficaram juntos.

Conheci Rosinha em 2012. Ela morava na Folha 19 com a mãe, o irmão mas sem o pai, que estava preso no CRAMA. A adolescente frequentava uma igreja cristã tradicional e as roupas que usava eram da chamada moda “evangê”, como diz minha filha Brenda Pompeu.

Leia mais:

A casa da família era de madeira (velha) e os vizinhos da Folha 29 os principais clientes de pinga, sinuca e do banheiro em petição de miséria.

A menina estudava o 8º ano do fundamental na Escola Cisne Branco, na Folha 11, e o ambiente do bar em casa pode ter influenciado para que ela se envolvesse com um homem mais velho (põe velho nisso), casado e com um cargo público de destaque.

O primeiro passo dele para conquistá-la foi dando um celular. Um iphone 5 caiu na mão da menina e os colegas de escola ficaram maravilhados. Como assim, Rosinha, você ganhou um iphone? Nenhum dos colegas tinha um telefone da maçãzinha do amor, mas ela ostentava na entrada, recreio e na saída.

Depois dali, roupas caras, cabeleireiro pela primeira vez e sapatos, muitos sapatos. O mundo de Rosinha parecia com o de Julieta. Ela sentia que estava amando e era amada. A vida de princesa só se transformou quando a menina descobriu que estava grávida.

Cursou o nono ano com enjoos, preparativos para o parto e a visita indigesta da esposa do empresário, que soube do caso do marido e foi conferir com os próprios olhos.

A menina foi incentivada a abortar depois de vários motivos que lhe foram apresentados naquela ocasião – inclusive pelo pai da criança e pela própria mãe.

Resistiu (por um tempo).

Um dia, Rosinha apareceu sem menino na barriga. A dor da perda durou 13 dias, até que sua mãe foi rodeada de presentes, reforma da casa, e a garota ganhou passagens para Goiânia, Salvador, Fortaleza e as férias daquele ano foram longas e com dinheiro pra gastar.

Na volta, três meses depois, ela ganhou também uma boutique para administrar. Dali por diante, o velho amor não a procurou mais. Muita gente na cidade já sabia da história e a menina, a mãe e irmãos tiveram de fingir demência sobre o assunto.

Logo, logo, aos 16 anos, ela encontraria um novo amor. Casou-se com um rapaz mais velho que ela quatro anos apenas. Aquilo ajudou os curiosos a desviarem a atenção da garota.

Nas redes sociais eu passei a acompanhá-la, desde que abriu filial de sua loja em Parauapebas e também nas viagens com o maridinho novo.

Com a chegada do Instagram, Rosinha ampliou ainda mais seus negócios, que iam de vento em popa. Mas um dia, a menina que só queria amar, viu-se traída. Flagrou o marido com um rapaz na cama. Foi a gota d’água. O negócio se desmantelou e a menina que fora vilipendiada na adolescência, agora estava sofrendo de novo.

Caiu na boca dos vizinhos, da turma da igreja e a separação a levou a morar na Cidade Nova.

Renovou-se, achou outro marido – de novo bem mais velho que ela – com fazenda, carrões e uma casa de praia em São Luís.

Agora, Rosinha está grávida do primeiro filho e deve parir em maio de 2025. A menina que se encantou com um iphone 5 agora está encantada mesmo é com a maternidade.

Ela suplicava tanto pelo primeiro amor, mas não sabia que ele só chegaria aos 24 anos de idade. Vai atender pelo nome de Romeu.

Tá batizado! Seja bem-vindo, garoto!

* O autor é jornalista há 28 anos e publica crônica às quintas-feiras