Tem pouco mais de uma semana que o prefeito Tião Miranda decretou o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em locais fechados. O consenso geral parece ser de alívio. Afinal não é mais obrigatório usar o item para interagir socialmente.
Marabá foi um dos primeiros municípios a tomar essa medida no País. Temerária e preocupante. Mas, enfim, todos estávamos esperando o momento para colocar de lado o equipamento (não jogar fora para sempre, porque não sabemos o dia de amanhã).
Fui ao supermercado um dia após a liberação e vi 90% das pessoas sem o equipamento de proteção. Assim também no meu trabalho. No mesmo dia, na agência da Caixa da Velha Marabá, quase todo mundo de máscara, mesmo sem ser obrigado.
Leia mais:Karine, a chefona dos chefinhos no Grupo Correio de Carajás, chegou ao cargo nos primeiros meses após o início da pandemia de covid-19, com a partida de Minele Raposo. Já a conheci de máscara facial. De lá para cá, toda semana eu a incomodo em sua sala, no andar superior, para tratar algo sobre o Correio de Carajás. Quando não podíamos nos encontrar, recorríamos ao WhatsApp, onde sua foto não tem máscara.
Mesmo assim, quando o prefeito autorizou a não utilização de máscara em ambiente fechado, eu levei um susto quando cheguei à empresa e a vi na recepção, conversando com Marli, a responsável pelo setor. O rosto me parecia de alguém desconhecido. Disse isso a ela, que riu e disse que tinha a mesma sensação com várias pessoas na empresa com quem ela falava no dia a dia.
Já na Redação do CORREIO DE CARAJÁS, a sensação foi a mesma com Thays Araújo, uma jovem repórter que tem menos de dois meses entre nós. Quando a máscara caiu, eu a vi como se fosse uma outra pessoa. Bonita, sim, mas diferente. Daí, nasceu um apelido de desmascarada: “Taysestranha”. As risadas ecoaram para todos os cantos da redação, mas, de fato, assim como Karine, ela parecia um ser que nunca esteve entre nós.
E não foi só nesse ambiente de trabalho. Na igreja, no tio do lanche, sempre encontramos conhecidos que pareciam estranhos.
A máscara cumpriu funções que vão além de proteger contra o coronavírus. Entre elas esteve o papel de agir como barreira para evitar o julgamento alheio sobre si mesmo e até mesmo para esconder as próprias emoções.
Foi o que me disse Ana Cláudia, cunhada que foi almoçar em casa neste final de semana e afirmou que vai continuar usando máscara em todos os ambientes fora de casa porque não acredita no fim da pandemia e prefere não mostrar parte do rosto.
Os resistentes resistem em usar e devem ser respeitados. Alguns grupos, como as pessoas que têm transtornos de ansiedade, obsessivo-compulsivo (TOC) ou hipocondria, também podem ter dificuldades a mais para lidar com a liberação.
A máscara desempenha várias funções para cada um: alguns, temendo tirar a máscara não apenas pelo medo da covid. Cada um foi criando, para si, uma função para a máscara – para além, claro, da proteção contra o vírus.
Uma pesquisa publicada em novembro passado por cientistas da Universidade de Cardiff, no País de Gales, apontou que usar máscaras afeta a forma com que o cérebro é capaz de criar empatia com emoções alheias – principalmente as positivas, que dependem mais da parte inferior do rosto para serem expressas. (O medo, por exemplo, consegue ser expresso apenas com os olhos).
Cada pessoa precisa escolher como vai lidar, de agora em diante, com o fato de estar sem a máscara. Essa é uma escolha dela – não necessariamente ela tem que atender à expectativa alheia. Mas, naturalmente, vai causar um pouquinho de angústia de qual é a atitude que eu devo tomar.
Estou escrevendo essa crônica do Aeroporto de Confins, enquanto aguardo uma conexão. Nessa multidão de desconhecidos, ninguém sem máscara, inclusive eu. Não dá para não usar quando todos estão se protegendo.
* O autor é jornalista há 25 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira