As primeiras tentativas para aliviar o sofrimento e a dor perdem-se nos confins dos tempos da humanidade! Recuperar e catalogar procedimentos, invenções, descobertas, tradições e atitudes, significa remexer na poeira da noite dos séculos.
A pesquisa e o desenvolvimento da investigação científica, da biologia, das neurociências, da imunologia e da genética. A introdução de moléculas com possibilidades de diagnóstico e de tratamento de quase todos os males que atormentam o ser humano. O progresso em Anestesiologia que possibilitou a diferenciação das mais complexas técnicas cirúrgicas, permitem capacidades de resolução de problemas nunca antes conseguidas na história da humanidade.
A Associação Internacional de Estudos da Dor conceitua a dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial. O seu alívio é condição fundamental para quem trabalha na saúde em qualquer especialidade.
Leia mais:Lidar com a dor nunca foi tarefa fácil. Na história das civilizações o tema tem sido referido em diversas culturas. As crendices, os tratamentos experimentais e paliativos têm convivido até os dias atuais com a modernidade da indústria farmacêutica na busca para o alívio da dor.
Os americanos gastam com a dor crônica cerca de US $ 100 bilhões ano. O que inclui as despesas em saúde, perda de renda e de produtividade. Nos EUA, a dor acomete 76,2 milhões de pessoas segundo o Instituto Nacional de Estatísticas da Saúde. Destes 23,6 milhões são diabéticos, 23,3 milhões sofrem do coração e 11 milhões dos acometidos por câncer.
Identificar o tipo da dor é fundamental para se escolher a melhor estratégia de cuidados. De acordo com sua natureza a dor pode ser corporal, visceral e neurológica. A dor aguda mostra que algo afeta o organismo. Assim o indivíduo cuida de remover o estímulo que o incomoda ou investiga a situação que se apresenta.
No geral a dor aguda se resolve espontaneamente com a retirada do fator causador. No entanto, a dor crônica afeta não somente o indivíduo, mas também o profissional, a família e o social. A dor crônica quando não controlada adequadamente mascara a gravidade do caso, tira as forças da pessoa na luta pela qualidade de vida e rouba o prazer de suas relações pessoais.
A dor antiga tem curso prolongado e causas complexas. Requer maior atenção e cuidados diferenciados. A pessoa afetada apresenta comportamento que deve ser valorizado pela família e profissionais. Outro tipo de dor é a dor psicossomática em que problemas psicológicos simulam o sintoma como se fosse uma dor do corpo.
Em virtude de suas nuances, o estudo da dor tem sido valorizado e aprimorado no meio médico através das Clínicas de Dor. Abordam os aspectos físicos, emocionais, mentais, vocacionais e sociais da dor. O tratamento aborda a origem, a tolerância a medicamentos, a adaptação, a dose, os horários e a individualiza da subjetividade.
A dor que deverá ser valorizada é a aquela em que o paciente descreve e não o que as outras pessoas pensam que o acometido sente. Aos olhos de quem sofre a dor pode se mostrar incapacitante afetando a si e aos outros. Pode afetar até a dimensão existencial, o seu alívio requer paciência e convivência.
Falar sobre a dor da alma é falar sobre um tipo de dor muito mais impiedosa que as dores físicas. Pois interfere de forma direta na intensidade das dores do corpo. Sinalizada pela depressão genética ou reativa, como um grande vazio, uma grande perda, uma traição.
Na essência, a dor da alma além do cuidado médico requer o apoio religioso, da família e dos amigos. Sublime e muito prazeroso é entender e tratar a dor. É essencial se estabelecer a relação de confiança entre o paciente, sua família, o médico, e a equipe de cuidados paliativos nos pacientes crônicos e terminais.
O manuseio da dor lida com o limiar individual, a cultura, o uso de substâncias e tecnologias variadas, lesões, perdas, mortes, e até a dignidade humana. A dor da alma tem uma complexidade muito maior entre as dores, por abranger o intimo da pessoa, sua subjetividade.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.