Correio de Carajás

Leite: Produtores mantêm paralisação e formam entidade

O impasse entre produtores de leite do sul e sudeste do Pará e os laticínios da região continua, entorno do valor a ser pago pelo produto. Como o CORREIO já havia publicado, os fornecedores iniciaram uma suspensão no fornecimento no último dia 15 e ela deve seguir por tempo indeterminado, até que se chegue a uma negociação. Foi o que o jornal apurou depois da reunião de ontem (19) à tarde num hotel de Marabá, onde estiveram reunidos muitos dos produtores afetados.

O grupo destaca que já vinha com a sua rentabilidade comprometida pela falta de pasto, aumento dos custos de produção, com a alta no preço da alimentação das vacas (milho, soja, ração, suplementos minerais), entre outros. Agora, a decisão dos laticínios de baixar a pauta e pagar menos pelo produto, teria sido a gota d’água.

Segundo eles, a baixa foi de R$ 0,20 centavos em outubro, o que fez a remuneração cair de R$ 1,70 para R$ 1,50 (alguns recebendo R$ 1,30), o litro e aviso de que vai diminuir mais 20 centavos em novembro. No ano passado, o valor médio era de R$ 1,10 a R$ 1,20 e os produtores temem que volte a esse patamar.

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Segundo os manifestantes, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são estados que aumentaram a remuneração ao produtor ou pelo menos mantiveram nesse período de crise, com valores variando de R$ 1,70 a R$ 2,17.

Já nos supermercados o preço do leite não teve baixa, varia entre R$ 3,00 a R$ 4,50 por litro, dizem eles, avaliando que o consumidor, na outra ponta, certamente culpa os produtores, sem saber o enredo.

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A nova reunião dos produtores aconteceu na tarde desta segunda-feira (19) no auditório de um hotel da Nova Marabá, com 13 deles presentes, oriundos de Rondon do Pará, Eldorado do Carajás, Marabá, São Geraldo do Araguaia, São João do Araguaia, São Domingos do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia, Palestina do Pará e Piçarra. Eles fazem parte da Comissão Regional dos Produtores de Leite do Sul e Sudeste do Pará, criada a partir de diversos grupos de WhatsApp, compostos pelos produtores insatisfeitos com a baixa no preço do litro do leite.

Ontem, aliás, o grupo decidiu criar uma associação para representar os produtores do sul e sudeste do Estado e fortalecer as futuras negociações com os laticínios.

“Eles (os laticínios) dizem que o mercado não está absorvendo, que estão tendo baixas nas prateleiras dos derivados, porém, isso é uma inverdade, pois chegamos aos supermercados e vemos o preço elevado do queijo e do leite”, explica Luciano Soares Augusto, produtor rural em São Geraldo do Araguaia e residente na Vila Fortaleza, onde tem sua propriedade.

Glaucio Pereira da Silva possui uma propriedade rural há 30 quilômetros de Marabá, sentido a São Domingos do Araguaia, e alega que a queda no valor impacta na produção. “Temos muitos custos para produzir leite de qualidade, como medicamentos para os animais, a ração, o sal, e todos esses insumos estão com preços altos. Os laticínios anunciaram essa baixa no leite, porém, não vemos essa baixa nos preços dos produtos nos supermercados, ou seja, não condiz com o que eles dizem”, queixa-se Glaucio.

Para Glaucio, a baixa no preço do leite não é vista nos derivados que estão nas prateleiras dos supermercados

DE OUTRO LADO

Na primeira reportagem produzida pelo Portal Correio sobre o tema, Antônio Mauro Freire, membro da diretoria do SINDLEITE (Sindicato das Indústrias de Laticínio do Estado do Pará), informou que no início da pandemia se comprava dos produtores o litro de leite a R$ 0,80, porém, Glaucio afirma que esse preço não era sentido em sua região, e que devido a ausência de um preço fixo no Pará, cada localidade comercializa por valores diferentes.

“Onde eu atuo, esse valor não era praticado. Para se ter uma ideia, o leite que vendíamos há três ou quatro meses atrás já estava no valor de R$ 1,50, e neste mês de outubro, eu recebi por R$ 1,98, que é quanto recebo hoje. O preço do leite não é nivelado no sul e sudeste do Pará, então cada região tem um preço diferente”, justifica Glaucio.

O produtor rural, Inácio Becker, também estava presente na reunião, tendo sua propriedade rural na localidade conhecida como ‘Sombra da Mata’, há 15 quilômetros da Vila Sororó, onde produz leite. Ele enfatiza que a indexação do CEPEA é importante para os produtores e esclarece que o Centro não possuía informações do Pará, por isso não está incluído na lista.

“As informações não chegavam ao CEPEA, ninguém conhecia esse Centro e os laticínios não passavam nada para eles. Agora que temos conhecimento dessa relação, queremos ser incluídos. Eles fazem um índice de todos os estados, e nessa lista nos vemos que em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, e outros estados, o preço do leite é superior ao nosso. Queremos essa igualdade, queremos ser incluídos nas pesquisas do CEPEA, para que nosso produto tenha seu preço padronizado”, explica Inácio.

Os produtores querem reajuste mensal pela taxa de variação da média nacional pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).

PARALISAÇÃO CONTINUA

Segundo Luciano, a paralisação, iniciada na última quinta-feira (15), continuará até que haja um diálogo com as industrias para entrarem em um acordo sobre o preço, porém, a intenção é que se mantenha o valor de R$ 1,70. “Até agora nenhum laticínio nos procurou, e até avisamos para eles que não queremos que rodem caminhões de leite vazios, como também não queremos ser prejudicados, então o diálogo e o consenso tem que acontecer”, prioriza.

Quando perguntado sobre a afirmativa do SINDLEITE, sobre ameaças a alguns frigoríficos e laticínios, Luciano disse que isso não ocorreu em sua região. “Não recomendados e não queremos. Não aceitamos que nenhum produtor vá para estrada interpelar caminhão de leite, interpelar carro de leite ou moto carregando leite, e nem que invada fazendas leiteiras ou vá em pátios de laticínios fazer baderna. Nós não somos baderneiros, somos produtores rurais e carregamos esse Brasil nas costas”, finalizou Luciano. (Zeus Bandeira)