Foi no calor escaldante do último dia 31 que proprietários de olarias instaladas na área de alagamento da Folha 33, núcleo Nova Marabá, receberam agentes dos órgãos de fiscalização do município para uma “caça aos fornos”. A operação mirou as instalações encarregadas da fabricação de telhas e tijolos e não foi bem acolhida pelos trabalhadores do local. O objetivo era desativar os equipamentos sob a justificativa de danos ao meio ambiente em tempos de queimadas, o que ainda não aconteceu.
Compuseram a operação o Serviço de Saneamento Ambiental de Marabá (SSAM), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), a Guarda Municipal, a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros Civil e a Polícia Militar. Os ânimos dos inquiridos estavam exaltados. Não para menos. Fazia 37 graus celsius no momento, temperatura que se avolumava com o calor dos fornos em atividade e com o iminente risco de despejo de uma área utilizada para a produção cerâmica há décadas.
De acordo com Paulo Chaves, coordenador do Departamento de Fiscalização da Semma, a operação planejava verificar as licenças dos fornos. “Nós viemos averiguar os fornos e as suas respectivas licenças, tendo em vista que há muita queimada nesta época. Nós coibimos esse tipo de prática. Mas a realidade é que nenhum forno é legal. Diante desse panorama, a opção é desativar todos [os fornos]”, pondera ele.
Leia mais:José Rodrigues da Conceição Jardim é filho de oleiro e comenta que a sua família ocupa a área há mais de 50 anos. Ele diz ter sido pego de surpresa pelos agentes. “Nós fomos criados aqui. Este é o nosso espaço. Chegaram aqui [os órgãos de segurança] sem ao menos avisar. Querem destruir tudo. Nós pedimos um tempo para fazer a retirada do material”, declara.
O senhor Euclides Ferreira Melo trabalha na olaria há 35 anos. Ele preside uma comissão da associação de oleiros local e contesta a versão da Semma. “Nós não queremos empatar autoridade. Nós queremos apenas os nossos direitos. Esta área é legalizada. Tem requerimento no meu nome e no nome de todos os oleiros. Nós temos ata registrada no nome dos oleiros, inclusive”, garante.
Nesta segunda-feira (3), a fiscalização da Semma informou à Reportagem que não voltará à área de olaria para nova operação por causa da negativa dos trabalhadores em deixar o local de maneira amigável. Outro fator que motivou a decisão da pasta foi a pandemia, visto que para nova ação seria necessário efetuar prisões por desobediência. Seu Euclides, por sinal, afirmava que só deixaria o negócio preso.
Israel Araújo de Oliveira, assim como os demais entrevistados, também é antigo na localidade. Ele trabalha há 28 anos na olaria e comemora a decisão da Semma de dar uma trégua. “É muito bom. Por enquanto, a gente vai continuar trabalhando, mas a qualquer momento eles vão vir porque dizem que precisam da área e eu não desacredito”, narra ele.
José Corrêa Jardim tem oito filhos e dois netos. Todos foram criados com a renda da produção de telhas e tijolos e por isso clama por ajuda. “Aqui tem umas dez famílias. Eu trabalho há 30 anos aqui. É daqui que sai o dinheiro para o alimento e para as contas. Queremos ser ajudados. Se for para sair daqui, devemos ser indenizados ou receber outra área para trabalhar”, avalia.
No mesmo sentido vai o seu Francisco Lopes. “Nós ficamos satisfeitos com uma área para trabalhar, apenas isso”, sintetiza o pedido. Uma nova operação segue sem data para acontecer, mas receio agora é a palavra que define o trabalho por ali. (Vinícius Soares e Josseli Carvalho)