A abertura de garimpos ilegais embaixo da linha de transmissão de Belo Monte, maior hidrelétrica nacional, construída no Pará, tem sido investigada pela Polícia Federal. Segundo informações do Ministério Público Federal no Pará, há dois processos em andamento.
Um deles é um procedimento de investigação criminal e foi aberto pela unidade do MPF em Tucuruí (PA), a partir das informações que o órgão recebeu do MP do Estado do Pará. Os dados desse procedimento foram encaminhados pelo MPF à Polícia Federal, em fevereiro deste ano, com pedido de instauração de inquérito policial. Há um segundo procedimento aberto pela unidade do MPF em Tucuruí, a partir das informações recebidas do MP paraense. Ambos estão sob sigilo.
Reportagem publicada nesta sexta-feira, 31, pelo Estadão revela que o problema com a ação dos garimpeiros tem levado a concessionária que controla a linha de transmissão, a Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), a pedidos recorrentes de ajuda, com receio de que torres da linha possam cair, por causa da movimentação da terra pelos garimpos.
Leia mais:Documentos da companhia alertam as autoridades sobre o surgimento de diversos garimpos ilegais nos municípios de Marabá, Parauapebas, Itupiranga e Curionópolis, todos no Pará, próximos do local de acesso à hidrelétrica que foi erguida no rio Xingu, em Altamira. “Reforçamos a nossa preocupação com a desestabilização do solo que vem ocorrendo na região em decorrência da intensa atividade minerária”, afirmou a concessionária, em documento. “Temos reiteradamente solicitado o auxílio das forças de segurança, na tentativa de paralisação imediata da atividade.”
A Polícia Federal realizou, no dia 11 de maio, uma ação na região e fez com que os garimpeiros paralisassem as operações. Dias depois, no entanto, eles voltaram aos mesmos locais. “A BMTE vem realizando, frequentemente, inspeções de monitoramento para segurança do empreendimento e, durante estas atividades, constatou o retorno das atividades nas bases das torres de transmissão, o que tem nos preocupado, dado risco de queda destas estruturas e consequente desabastecimento temporário do Sistema Interligado Nacional”, alertou a companhia.
Inaugurado em dezembro de 2017, o linhão de Belo Monte é um dos projetos mais caros e modernos do mundo na área de transmissão de energia, tendo custado R$ 5 bilhões. Seus 2.076 km de extensão saem do Pará e cruzam Tocantins, Goiás e Minas Gerais, até chegar à fronteira com São Paulo.
Duas semanas atrás, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) respondeu às denúncias feitas pela concessionária e, em poucas palavras, deixou claro que cabe à empresa resolver o problema.
Com receio de serem alvos de violência por parte dos garimpeiros, funcionários da concessionária do linhão de Belo Monte que atuam no Pará têm trabalhado com roupas comuns, sem uniformes da empresa, quando saem a campo para fiscalizar as torres da rede de transmissão de energia.
O medo chegou a tal ponto que até mesmo os carros utilizados pelos funcionários têm sido alugados, para evitar qualquer tipo de identificação. “Existe ainda o receio de atuação truculenta por parte dos garimpeiros por associarem eventuais impedimentos e atividades de fiscalização realizadas na região com denúncias do empreendimento da BMTE (Belo Monte Transmissora de Energia)”, informou a empresa, em denúncia enviada em junho para a Aneel. (AE)