A violência contra a mulher é uma questão global e um problema de saúde pública que atinge todas as classes sociais e diferentes níveis de formação cultural, educacional, religiosa, profissional, entre outras. A situação é comparável a uma pandemia. Em meio à crise do novo coronavírus, com mais homens e mulheres dentro de casa, o número de agressões aumentou. Pelo menos é o que os números apontam.
Em Marabá, o Grupo de Mulheres Arco-Íris da Justiça, que foi fundado em 2004, está atento a essa realidade. Rosalina Izoton, presidente da associação, pondera que as mulheres estão cada vez mais conscientes e engajadas na batalha contra a violência. “Por meio da nossa articulação, muitas mulheres tomaram ciência dos seus direitos”, enfatiza.
Com a quarentena, o grupo não deixou o trabalho morrer. Isso porque, antes, as mulheres organizavam reuniões presenciais no espaço situado na Rua Minas Gerais, Bairro Laranjeiras. Agora existe um grupo no WhatsApp intitulado “Mulher Conte Comigo”, onde as discussões sobre o combate à violência são sempre prestigiadas.
Leia mais:A nossa reportagem foi adicionada ao grupo para acompanhar um dos debates propostos. O tema girava em torno do objetivo primeiro da associação e contou com a participação das sociólogas Alice Margarida Negreiros, docente da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), e Rosemayre Lima Bezerra, da rede estadual.
No grupo de WhatsApp há 102 mulheres, entre lideranças comunitárias, pedagogas, psicólogas, enfermeiras e associadas. “Esse grupo tem o propósito de ajudar as mulheres vítimas das variadas formas de violência. Cada liderança presta o seu apoio, acolhendo e orientando a mulher nas comunidades”, explica Rosalina.
A esse respeito, as lideranças comunitárias trabalham a formação continuada sobre a cidadania, na busca de direitos das mulheres e na prevenção da violência contra. Conforme Rosalina, a busca por conhecimento para ajudar as mulheres vulneráveis é contínua. “É preciso primeiro aprender para depois ensinar”, comenta.
Ana Luiza Rocha da Silva é uma das fundadoras do Grupo de Mulheres do Cabelo Seco Raízes de Marabá, que recentemente completou um ano de atuação na comunidade do Bairro Francisco Coelho, no Núcleo Marabá Pioneira. Extrovertido, o movimento tem no dia 8 de março o seu aniversário.
“Nosso grupo surgiu com uma reunião que era para ser pequena, mas muitas mulheres compareceram. Então começamos a articular a fundação. Nós se reunimos na Orla, debaixo das estrelas. É naquele espaço que costumamos discutir os temas relevantes de combate e também prevenção à violência doméstica”, elucida Ana Luiza.
SINAL VERMELHO
As organizações de defesa da mulher em Marabá, entre eles o Arco-Íris e o Raízes, aderiram à campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica, lançada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A ação da campanha consiste em desenhar um “X” na mão e exibi-lo ao farmacêutico ou ao atendente de uma farmácia. Assim, a vítima poderá receber auxílio e as autoridades serão acionadas. Após a denúncia, os profissionais das farmácias seguem um protocolo para comunicar a polícia e ao acolhimento à vítima.
A iniciativa é uma resposta conjunta de membros do Judiciário ao recente aumento nos registros de violência em meio à pandemia. “Os agressores não podem ficar impunes”, penhora Rosalina.
NÚMEROS ATESTAM
De acordo com dados do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), junho registrou a concessão de 564 medidas protetivas nos processos de violência contra a mulher. O número é maior no comparativo com maio, que assinalou 536 medidas.
As medidas protetivas deferidas em processos de violência contra a mulher no Pará alcançaram 3.635 de janeiro a junho deste ano. Desse total, 696 foram autorizadas em janeiro, 656 em fevereiro, 684 em março, 449 em abril, 536 em maio e 564 em junho.
O tribunal acompanha os casos de violência contra a mulher e atende às vítimas nas comarcas espalhadas pelo estado. (Vinícius Soares)