A adolescente de 16 anos que denunciou por estupro o cabo Antar Nazareno Duarte da Rosa, de 32 anos, da Polícia Militar, recebeu nesta terça-feira (21), em Eldorado do Carajás, as equipes de reportagem do Correio de Carajás e do Fala Cidade Parauapebas. Em entrevista, relatou os momentos vividos na madrugada de domingo (19) que resultaram na prisão do policial militar.
Conforme ela, dura no máximo dez minutos o trajeto entre a pizzaria, local que a adolescente e o namorado estavam, até a casa onde mora o jovem casal. Naquela noite, entretanto, o retorno foi interrompido quando policias, que estavam em uma viatura militar na frente de um posto de combustível, teriam dado sinal para eles, que estavam em uma motocicleta, pararem. “Eu não vi, mas disseram que pediram”, diz a jovem.
Em um vídeo de uma câmera de monitoramento é possível ver o momento exato que o casal passa de moto e a viatura policial vai atrás:
Leia mais:“Eles pararam a gente, baterem no meu marido, prenderam ele, levaram a gente para a delegacia. Só que não me deixaram descer do carro”, descreve a vítima, acrescentando que após deixarem o rapaz na delegacia, o cabo retornou à viatura, onde ordenou que a adolescente esperasse. Lá, conta, passou a acariciá-la.
Ainda segundo a adolescente, os policiais conduziram a adolescente até a casa, quando o cabo teria decidido descer com a menina. A jovem relata que não conseguiu ter reação durante o abuso e um dos motivos foi o medo do que poderiam fazer com ela e o companheiro. “Eu fiquei parada, completamente parada. Eu não acreditava no que estava acontecendo comigo, fiquei em choque, primeiro porque eles estavam com o meu marido na delegacia, fiquei com medo do que eles podiam fazer”, diz.
A jovem não sabe precisamente quanto tempo o cabo permaneceu na casa praticando o abuso, mas acredita o ato tenha durado de trinta a quarenta minutos. Em fotos registradas por ela, é possível ver as marcas que ficaram no sofá quando ele apoiou os pés. A adolescente disse, ainda que durante o abuso o cabo confessou que já a observava no local de trabalho e sabia dos locais que ela saía para jantar e almoçar. Ela afirma, entretanto, que nunca tinha visto o policial.
A luta agora é por justiça. “Eu quero que ele pague, ele não afetou só a mim, afetou muita gente, a minha família, meu marido”, diz, acrescentando que o ocorrido mudou a forma como vê o policial militar. “Eu via como uma autoridade, um cargo muito respeitado. É por isso também que ele deve pagar, ele mudou essa imagem, sinto que eu não posso confiar nos policiais, porque eu confiei e eles fizeram tudo completamente errado”, desabafa.
Quando o cabo foi embora, a primeira reação da adolescente foi sentir medo e querer sair da casa, então ligou para um casal de amigos que também estava na pizzaria com eles e incentivaram a jovem a denunciar o crime.
A vítima desconfia que ação foi planejada, já que ela não foi apresentada na delegacia durante a apresentação do companheiro. “Eu imagino que ele já tinha intenção, primeiro porque não tinha motivo para ele espancar meu marido, segundo que não tinha motivo para ele não me deixar descer do carro”.
Revoltada pelo ocorrido com a filha, a mãe descreve o acusado como um monstro. “Ele não é gente”. Também disse à reportagem que gostaria de fazer uma pergunta. “Ele é pai, ele tem uma filha de 11 anos, o que ele faria, o que ele sentiria se fosse com a filha dele?”
A mãe narra que buscou a filha ainda de madrugada e ambas procuraram a Delegacia de Polícia Civil de Eldorado, onde foi registrado o Boletim de Ocorrência (B.O). A família, no domingo pela manhã, foi à Parauapebas para realizar os exames médicos no Instituto Médico Legal (IML), como no local não havia o especialista para fazer o procedimento, foram para o IML de Marabá. Em seguida, procuraram o hospital para que a adolescente ingerisse o coquetel de anti-retorvirais, ministrado em vítimas de estupro. A previsão é que os exames fiquem prontos em 15 dias, podendo identificar se houve o estupro.
QUESTIONAMENTO
No processo instaurado para averiguar as denúncias feitas ao cabo os outros dois policiais que o deixaram na casa da adolescente e o buscaram, não foram incluídos. “O que me disseram era que não dava para provar a ligação dos outros dois, mas não fica registrado na viatura o percurso deles? Basta verificar. Eles não deixaram um policial sozinho com uma adolescente e depois foram buscar?”, questiona a mãe.
Ela disse, ainda, que os três policiais assinaram o termo de flagrante, por isso não consegue entender porque não foram inclusos. O Correio de Carajás solicitou à assessoria de comunicação da Polícia Militar, inclusive identificando por nome os demais militares, como está a situação de ambos.
Na resposta, a PM se referiu apenas ao cabo Antar Nazareno Duarte da Rosa, sem responder ao questionamento. Em nota, confirmou a prisão dele, informando que o flagrante foi presidido pelo comandante do 23º Batalhão PM e que o militar responderá a um processo na Justiça e também a um Conselho de Disciplina (CD), que vai definir se o mesmo será expulso ou não da corporação.
Nesta terça, conforme já divulgado pelo Correio de Carajás, o juiz Lucas do Carmo de Jesus, titular da Vara Única da Justiça Miliar do Estado do Pará, converteu em preventiva a prisão em flagrante do cabo. (Theíza Cristhine)
Acompanhe, também, a reportagem produzida pelo Fala Cidade Parauapebas: