Correio de Carajás

Parauapebas: Mãe implora que filha de 16 anos seja transferida de delegacia

Desde a madrugada do último sábado (21), Elizabete Moraes Silva Conceição está todos os dias na 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil, em Parauapebas, buscando informações sobre a situação da filha, uma adolescente de 16 anos apreendida após esfaquear e matar Manoel Pereira do Nascimento Neto, de 50 anos, no Bairro Altamira. A jovem alega ter agido em legítima defesa durante uma tentativa de estupro.

Manoel foi morto na madrugada de domingo, na casa onde vivia, no Bairro Altamira

Na manhã desta quarta-feira (24), além da filha estar detida em uma cela de delegacia há mais de três dias, outra informação assustou Elizabete e a colocou em desespero. Ela procurou o Correio de Carajás informando que a filha atentou contra a própria vida e continua sozinha na cela.

A mãe pede socorro e quer que a jovem apreendida seja transferida para estabelecimento adequado, que não existe na região sudeste do Pará. O estado possui apenas o Centro Socioeducativo Feminino (CESEF), em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, que atende medida socioeducativa em regime de internação provisória e semiliberdade.

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CASO

A morte de Manoel Pereira ocorreu na quitinete onde ele morava, na Rua Afonso Pena. Vizinhos informaram terem ouvidos gritos de ambos e acrescentaram que era comum a adolescente estar no local, afirmando que os dois costumavam consumir drogas juntos. A informação é a mesma com a qual a Polícia Civil de Parauapebas trabalha.

Após o homem ser morto por esfaqueamento, a adolescente permaneceu no local aguardando a chegada de policiais e de uma ambulância. De lá, foi encaminhada para atendimento médico, pois estava ferida, e em seguida para a 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil, de onde não mais saiu.

Após o crime, em entrevista a uma emissora de televisão regional, o diretor da unidade, delegado Élcio de Deus, informou que a adolescente cometeu ato infracional análogo ao crime de homicídio e a alegação de que teria se defendido de uma tentativa de estupro não convenceu totalmente o delegado Dufrae Abade, plantonista que recebeu o caso.

“(O delegado) entendeu que as alegações da moça não são coerentes com a realidade. Ele fez a lavratura do procedimento e a apreensão da menor. A Polícia não descarta o depoimento da adolescente, ela alegou que foi essa situação e que teria cometido o homicídio justamente porque ele tentou estuprá-la, mas analisando as provas que foram juntadas o delegado não ficou convencido disso”, declarou o diretor.

Ainda na entrevista, ele divulga que aparentemente a adolescente foi até a casa consumir drogas e os dois tiveram um desentendimento. “Era pessoa do convívio com ela, com quem ela consumia drogas e teria havido algum desentendimento entre os dois e o homicídio. Inicialmente o entendimento é de que não houve legítima defesa”, finalizou.

Já a mãe contou à Reportagem que, no dia do crime, o homem chegou na janela da casa da família, localizada no Alto Bonito, chamando a adolescente e afirmando que tinha roupas para ela na casa dele. “Chegando lá, trancou ela dentro de casa, pegou a faca e começou a ir pro rumo dela para estuprar ela. Ela começou a gritar, agoniada, ele também, e na confusão de tomar a faca dele, se machucou todinha. Ou ela matava ele ou ele matava ela naquela hora, então ela esfaqueou ele”, declarou. 

Para acompanhar o caso, Elizabete diz ter abandonado as diárias faxinando e capinando, que são o sustento da família. Nas casas próximas da delegacia pede dinheiro ou comida para levar para a filha que está na delegacia e diz não aguentar mais ver a situação da adolescente. “Está numa cela sofrendo muito e eu não estou aguentando ver a minha filha do jeito que ela está, transfere ela pra outro canto ou faz alguma coisa porque não aguento mais”, desabafa.

Para a mãe, a prova de que a filha agiu em legítima defesa foi ela não ter fugido do local após a morte. “O pessoal do condomínio ainda disse pra ela fugir de lá e ela disse que não iria fugir porque estava devendo nada, ela ia ficar e iria esperar a justiça chegar. Vou pedir pelo amor de Deus que alguém me ajude, estou sofrendo muito, estou desesperada”, disse.

POSICIONAMENTO

Nesta quarta-feira o Correio de Carajás procurou o diretor da unidade, delegado Élcio de Deus, questionando por que a adolescente segue apreendida em cela da delegacia e solicitando informações sobre a suposta tentativa de suicídio, mas ele preferiu não se manifestar.

A equipe também procurou o Ministério Público do Estado do Pará. Por e-mail, a promotora Crystina Michiko Taketa Morikawa, respondendo da 5ª Promotoria de Justiça Cível de Parauapebas, encaminhou nota informando que o procedimento está formalmente regular, tendo sido a adolescente representada perante a Vara da Infância de Parauapebas com internação provisória decretada, acrescentando que os detalhes do processo e do procedimento que apura o ato infracional são protegidos por segredo de Justiça, sendo vedada qualquer detalhe do teor.

A promotora destaca que o fato da adolescente se encontrar em cela comum não é irregular, posto que, segundo informações do delegado, a adolescente se encontra separada dos demais detidos, adultos ou adolescentes, estando seus direitos protegidos. Por fim, a promotora adianta que a adolescente já está em procedimento de transferência, estando a autoridade policial no prazo para a realização desta.

O Portal enviou pedido de posicionamento também para a assessoria de comunicação da Polícia Civil do Estado do Pará, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno. (Luciana Marschall e Ronaldo Modesto)