Rios de Encontro, o projeto eco-pedagógico e socioeducativo enraizado na comunidade Cabelo Seco desde 2008, realizou mais um mês de oficinas e rodas culturais em Nova Ipixuna, Parauapebas, Marabá e Cabelo Seco, conectadas com ações simultâneas na Austrália e Nova Zelândia, repercutindo a ação Amazônia Bem Viver, como alternativa para um mundo cada vez mais sustentável.
Nos dias 12 e 13 de Maio, seis jovens arte-educadores do Rios de Encontro participaram da iniciativa anual que celebra o projeto extrativista do casal de colonos, Maria Silva e Zé Claudio Ribeiro, assassinados em maio de 2011. Os jovens da comunidade do Cabelo Seco colaboraram com o registro da caminhada com movimentos sociais e comunitários de Marabá.
Katriny Alves, 17 anos, coordenadora da biblioteca Folhas da Vida, realizou uma roda de poesia, enquanto Rerivaldo Mendes, 22 anos, e outros jovens do projeto Rabetas Audiovisual, apresentaram vídeos das iniciativas passadas.
Leia mais:Na mesma semana, Elisa Neves, 21 anos, uma das coordenadoras dos projetos AfroRaiz e Sallus, contribuiu com uma oficina de percussão no Encontro Nacional do MAM (Movimento dos Atingidos pela Mineração), em solidariedade com as comunidades dos rios prejudicados pela industrialização da Amazônia.
Dan Baron, coordenador artístico-pedagógico do projeto Rios de Encontro, explicou em cursos de formação na Universidade de Melbourne, Austrália e de Auckland, na Nova Zelândia, e palestrando para lideranças comunitárias e sociais no Projeto Madave na comunidade Maori de Glenn Ines, o significado destas contribuições.
“Todos foram inspirados pelos jovens que nem sabiam que tinham raízes Afro e Indígenas há 10 anos atrás, e hoje coordenam nossa Universidade Comunitária dos Rios, no Cabelo Seco. Admiraram um projeto que valoriza jovens na condição de artistas, pesquisadores, gestores, produtores e referências sociais, atuando como um coletivo”, declarou, ressaltando que os jovens em Melbourne e Auckland tem a melhor qualidade de vida do mundo. “Mas, sofrem isolamento e depressão, sem projetos de vida ou confiança no futuro”, avalia.
Exemplo
O coordenador demonstrou como jovens arte-educadores do Rios de Encontro usam as artes e o modelo de governança do projeto como respostas transformadoras à política de austeridade e à corrupção endêmica no Brasil, que vive o aumento no número de pessoas abaixo da linha da pobreza, agravado com o avanço de doenças como a tuberculose, sem falar na violência crescente.
“O exemplo desses jovens estimulou a comunidade Maori, na escola Paua, em Glenn Ines, entrar no projeto Amazônia Bem Viver para trocar clips de dança, percussão e poesia, e criar a Aotearoa Bem Viver. Motivou também uma outra escola rica e independente no Norte de Nova Zelândia em trocar placas solares para oficinas do Coletivo AfroRaiz online, através de residências nos dois países tropicais”, destaca.
“Também motivamos o governo da Nova Zelândia, que já abraçou a visão da iniciativa Bem Viver, a olhar para Amazônia com todo seu potencial de tecnologia-ecológica-chave para o mundo, onde grandes ameaças ambientais estão gerando soluções eco-sociais inéditas. Todos reconhecem que uma Amazônia sustentável vai depender sobre intervenções solidárias internacionais”, completou.
Diálogos
Dan Baron também destacou o diálogo que manteve com os professores universitários, gestores culturais e lideranças Maori, considerado um dos povos indígenas mais avançados do mundo. “Eles me inspiraram profundamente”, frisou disse Dan Baron. “Na Austrália, o governo está investindo na educação e cultura públicas. Já na Nova Zelândia, comunidades estão limpando rios e protegendo a cidadania. O governo está garantindo o 1º ano gratuito de educação universitária para formar cidadãos de um mundo robotizado pós-trabalho, e garantindo justiça alimentar e climática para a coletividade”, pontuou.
Para o coordenador do projeto, o grande diferencial desses países é que eles aprenderam com os próprios erros e hoje servem de modelo em sustentabilidade para diversos outras nações no mundo.
“Deslocaram escolas infantis no coração da comunidade para criar zonas turísticas e culturais, cortaram disciplinas como ciências sociais do currículo e fecharem bibliotecas para criar universidades competitivas. Mas em vez de criar prosperidade, aumentou a violência, a desigualdade social e o isolamento juvenil. Se nossas parcerias puderem evitar erros de desenvolvimento economicista, podemos resgatar o tempo perdido e transformar nossas regiões em grandes projetos de culturas comunitárias de extrativismo inteligente e sustentável”, enfatiza. (Divulgação)
Fotos: Universidade de Monash/Madave Community Trust/Arquivo Rios de Encontro